Adriano, um imperador romano de coração grego

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Adriano (Publius Aelius Hadrianus) foi terceiro dos chamados “Cinco Bons Imperadores” da Dinastia Nerva-Antonina. Membro da prestigiada família Aelii, ele era sobrinho do imperador Trajano e passou a ser pupilo do tio após a morte de seu pai. Como tradição familiar, iniciou cedo sua carreira no exército participando das vitoriosas campanhas lideradas por Trajano nos cenários de guerra da Dácia (atuais Romênia e Albânia) e da Pártia (em regiões do atual Iraque), depois exercendo funções de prestígio como cônsul e governador de província.

Além da relação familiar, ele era ativo colaborador do imperador e acabou se posicionando como sucessor natural mesmo sem uma proclamação oficial, já que Trajano não o nomeou pessoalmente como herdeiro. Com a morte de seu antecessor, em 117 d. C., o Senado não encontrou obstáculos para torná-lo o novo imperador, apesar de rumores a respeito da legitimidade do testamento de Trajano que teria declarado sua adoção, e Adriano contava com apoio militar e político para assumir o poder.

Ele exerceu seu governo movido pela disposição de conhecer os domínios romanos, assim ele passava longos períodos afastado da capital enquanto viajava pelas províncias para estabelecer melhores perspectivas sobre as necessidades administrativas e condições regionais. A Grécia era a região que atraía maior fascínio por parte do imperador, que promoveu reformas em Atenas e estreitou ainda mais os vínculos culturais greco-romanos, promovendo a difusão de tais influências através da arte e dos projetos arquitetônicos como o Panteão de Roma. Em seu governo houve um aprimoramento nas práticas administrativas, políticas fiscais e na aplicação das leis através da compilação e unificação das normas, atendendo a necessidades de melhorar o funcionamento do Estado em todos os territórios dominados por Roma. A aplicação de sua visão para Roma encontrou obstáculos como certa resistência à influência grega, vista por grupos opositores como uma imposição que afrontava tradições puramente romanas e suas ações administrativas exigiram maior centralização do poder e tomada de decisões, o que reduzia a influência do Senado no governo e alimentava divergências entre seus membros.

Conflitos importantes nas províncias também desafiaram Adriano. A Revolta de Barcoquebas (132-136 d.C.), um movimento ocorrido na Judeia foi um dos episódios tensos de seu governo, desencadeada pela iniciativa de construção de Aelia Capitolina sobre ruínas de Jerusalém e pela proibição dos cultos judaicos na nova cidade, resultando num sangrento conflito entre romanos e judeus. As dificuldades de avanços no território da Grã-Bretanha foi outro problema encontrado por seu governo, que acabou recorrendo a uma estratégia diferente de contenção das posições inimigas ao construir o Muro de Adriano, uma demarcação defensiva fixa de fronteira para garantir as posições romanas já dominadas, mas reconhecendo de certa forma a dificuldade de ir além dela. Sua política militar era mais voltada para a garantia e estabilidade dos territórios dominados e redução da atuação romana em guerras constantes e assim ele optou por não expandir ainda mais o domínio romano e até realizou uma retirada da Pártia, decisão que foi criticada como sinal de fraqueza.

Em função de sua posição, sua vida pessoal também causava impactos políticos. Apesar de ter sido casado com a prima Vibia Sabina, Adriano tinha relacionamentos com homens e um deles foi particularmente intenso com Antinous, um jovem de Bitínia (na atual Turquia). Com a misteriosa morte de Antinous, Adriano resolveu homenagear o amante com um ato de deificação, honraria póstuma comum para familiares dos imperadores como esposas e filhos, além da fundação da cidade de Antinoópolis em sua memória, situação que escandalizava parte da sociedade romana. Além disso, fatos como esse ressaltavam críticas de que o imperador submetia o Estado às suas próprias vontades.

O imperador, que se vestia como um grego, era acusado de diversas práticas condenáveis e agia por conta própria, reduzindo a relevância do Senado, também tinha seus admiradores por ser um homem justo e preocupado com o desenvolvimento de todas as regiões do império; além disso, buscava pacificar as fronteiras através da redução de uma política de expansão. Adriano morreu em 138, aos 62 anos. Sem filhos, adotou oficialmente como herdeiro Antonino Pio (Titus Aurelius Fulvus Boionius Arrius Antoninus), um de seus principais auxiliares e marido de sua sobrinha Faustina. Como condição para a herança, Antonino Pio previamente adotou Marco Aurélio e Lúcio Vero como herdeiros. 


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