Malinche: Uma traidora indígena?

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

As origens de Malinali Tenepal, Malintzin ou La Malinche são imprecisas, mas admite-se que a indígena da etnia Nahua nasceu entre 1499 e 1501. A indígena conheceu cedo a escravidão, prática existente entre vários grupos nativos, e foi parar sob o domínio maia. A jovem de imensa habilidade linguística aprendeu rapidamente o idioma de seus dominadores, ampliando sua capacidade de comunicação que até então era dotada do conhecimento de sua língua nativa, além do do Nahuatl, idioma asteca, e outros dialetos indígenas.

Os espanhóis chegaram à região de Tabasco, região onde Malinche estava, e confrontaram os nativos locais até que os indígenas decidiram se render após um acordo. Como um dos gestos de paz, os líderes de origens maias ofereceram um grupo de mulheres escravizadas para os invasores europeus e uma das jovens presenteadas era exatamente ela.

Os espanhóis logo perceberam o interesse e facilidade que a moça tinha de aprender o idioma deles, notando ainda que ela era fluente em outras linguagens dos nativos. Esta habilidade assegurou uma função importante para ela como tradutora para facilitar a comunicação com os nativos. Ela foi parar sob serviço direto ao comandante Hernán Cortés para atuar como intérprete, conselheira e eventualmente até como sua amante (chegaram a ter um filho juntos).

Hábil e inteligente, além de sua capacidade de mediar os contatos entre os espanhóis e os líderes indígenas, ela conseguia obter valiosas informações sobre os povos locais para promover entendimentos com aliados como os Tlaxcaltecas, que se opunham ao domínio asteca. Vários povos indígenas se opunham aos astecas porque eram dominados ou pressionados por eles, incluindo a tribo original de Malinche, assim a articulação na qual ela atuou como intermediária conseguiu reunir vários nativos contra os astecas. Depois da derrota dos adversários mais poderosos e desafiadores dos espanhóis, Malinche era vista frequentemente com Hernán Cortés, pois permaneceu ao seu lado auxiliando em suas expedições e estabelecendo-se como uma figura influente no México colonial.

Malinche foi batizada como católica e passou a ser conhecida entre os europeus como Marina. Impossibilitado de assumir uma união formal com sua amante e aliada, Cortés o casamento dela com um de seus oficiais, Don Juan Xamarillo, com quem teve uma filha. Sua maternidade de dois filhos mestiços passou a ser empregada por alguns como um outro atributo da agora Doña Marinha: a mãe da nação mexicana.

A posição de Malinche na história e cultura do México é controversa. A aliança com os espanhóis foi uma estratégia de sobrevivência num turbulento contexto no qual também existiam relações de conflito e domínio entre os variados povos indígenas e sua trajetória antes dos espanhóis já era afetada por esta circunstância, mas o efeito do triunfo dos espanhóis sobre os indígenas ao longo da continuidade do processo de colonização foi devastador. Assim, enquanto alguns a veem como traidora por colaborar com os espanhóis, outros argumentam que ela agiu em busca de proteção e preservação de seu próprio povo. Independentemente das visões divergentes, Malinche é uma personagem histórica única, cujo papel ativo na conquista e atuação como intermediária cultural e linguística a tornam uma figura de importância significativa na história do México. Ela personifica a mestiçagem das culturas e representa a complexidade dos eventos e das relações humanas durante esse período.


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