Vilgeforte, a lendária santa das mulheres malcasadas

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

As narrativas hagiográficas contam sobre as vidas incríveis de santos e mártires cristãos, destacando em seus exemplos virtudes e exemplos de devoção que inspiram os fiéis. Os elementos miraculosos são frequentemente parte destas histórias, ressaltando de maneira ainda mais notável a santidade de tais figuras religiosas e a intervenção divina simbolizada em seus exemplos. Estas histórias que se popularizaram entre os católicos acabaram presentes em liturgias, nas representações artísticas e registros escritos, mas principalmente na crença popular que adotou santos como protetores e fontes inspiradoras de fé.

A história da “santa” Vilgeforte ou Wilgefortis é um exemplo de narrativa impressionante com elementos misteriosos, dramáticos e demonstrativos de forte devoção. Conta sua lenda que a jovem Vilgeforte era uma bela donzela que preservou sua virgindade e pureza para Deus, a quem jurou manter-se intocada e em constante estado de contemplação religiosa. A moça era filha de um certo rei não identificado e supostamente lusitano, que exerceu o poder numa época também não definida em algum momento da Idade Média. Estas indefinições reforçam o caráter lendário de sua história, o que também é um uma característica entre diversas narrativas hagiográficas, que dispensam a precisão porque valem mais por seus atributos simbólicos e alegóricos.

Apesar da determinação de Vilgeforte de manter sua castidade, seu pai providenciou um acerto de casamento com um nobre, um príncipe ou rei siciliano também não identificado. Era uma dessas uniões celebradas a partir de interesses que não diziam respeito à noiva e ela ficou seriamente inconformada com o acordo e não queria que o matrimônio fosse realizado, mas como evitar um destino tão indesejado? A donzela recorreu à sua fé e pediu ajuda divina para evitar casamento. Ela achou que se tivesse uma aparência repugnante jamais iria se casar, e a força de sua obstinação era tamanha que surgiu repentinamente uma vasta barba masculina em seu belo rosto feminino.

Diante de uma noiva prometida barbada, o nobre pretendente resolveu cancelar o acordo e foi embora para sua terra. O pai da devotada Vilgeforte ficou profundamente irritado e recorreu a uma punição drástica: mandou crucificar a própria filha.

A origem desta história incrível é discutida. É possível que tudo tenha começado a partir de interpretações equivocadas de representações artísticas que retratavam a figura de Cristo crucificado vestindo uma túnica longa semelhante a uma peça do vestuário feminino, influenciando a imaginação de observadores que espalharam esta história por várias partes da Europa. Com o passar do tempo, durante a Baixa Idade Média, a confusão já era bem aceita por muitos fiéis como uma legítima história de uma santa, que atraiu devotos na Baviera, na Áustria, da Bélgica, em regiões da França, Espanha e Portugal principalmente entre nos séculos XIV e XV, mas existindo até além desse período.

Embora a história não tenha convencido a cúpula da Igreja Católica, que não reconheceu Vilgeforte como santa, ela chegou a ser representada por artistas e estátuas suas foram colocadas em algumas igrejas. Ela foi reconhecida na devoção popular como protetora das mulheres infelizes em seus casamentos.


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