François L’Olonnais, o mais sanguinário e astucioso pirata francês do século XVII

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Piratas eram criminosos marítimos que causaram danos no comércio atlântico e preocuparam bastante as autoridades. A atuação da pirataria e as medidas de combate aos bandidos marinhos eram marcadas pela violência e neste cenário agressivo a reputação do bucaneiro francês François L’Olonnais se destacou.

Nascido no litoral da França na primeira metade do século XVII, seu nome verdadeiro era Jean-David Nau. Era proveniente de uma família pobre e as dificuldades da vida no país natal eram severas, o que motivou sua migração por volta dos 15 anos para o Caribe em busca de mais opções. Ele trabalhou como servo contrato, situação de muitos europeus de origens humildes que chegavam no Novo Mundo recrutados por agentes que alardeavam as possibilidades e ilusões de obter sustento ou consideráveis riquezas na exploração colonial. Depois de encerrado seu contrato, Jean-David continuou no Caribe, indo parar na ilha de Hispaniola, onde se juntou a um grupo de bucaneiros, gente que originalmente vivia da caça predatória para a produção de carne defumada em fogueiras conhecidas como “boucan”. Homens que trabalhavam e adquiriam habilidades com as armas, entre os bucaneiros era comum ocorrer a atuação em atividades criminosas como atacar assentamentos de colonos ou aderir à pirataria por parecer algo muito mais lucrativo e esta foi a escolha de Jean-David, que logo se destacou em ataques terrestres contra espanhóis e foi posteriormente designado em Tortuga para comandar um navio para praticar abordagens contra navios e assentamentos espanhóis.

Embora já fosse reconhecida sua brutalidade em ação, sua fama marítima começou depois de um naufrágio no México em 1663, situação da qual escapou depois de se esconder entre os mortos e fingir que era um deles para depois fugir numa canoa de volta até Tortuga, peripécia que virou assunto e serviu de demonstração de sua astúcia. Assim como outros piratas, adotou um nome falso e passou a se chamar François L’Olonnais, ganhando progressiva fama por causa de seus métodos extremos em ataques bem-sucedidos. Era sua marca ordenar o assassinato de toda tripulação dos navios que abordava e sua sagacidade combinada com a violência de sua atuação se espalharam e faziam dele uma figura especialmente temida.

Durante a Guerra de Devolução (1667-1668), conflito territorial que envolvia interesses franceses sobre áreas dominadas pela Espanha, François L’Olonnais atuou ao lado do também bucaneiro Michel de Basco e com o suporte do governador de Tortuga em uma grande investida contra as cidades de Maracaibo e Gibraltar, na Venezuela, em 1667. Depois de tomarem navios espanhóis carregados ainda na preparação do ataque, o grupo liderado por L’Olonnais desembarcou e seguiu por terra numa estratégia ousada para evitar a defesa costeira de Maracaibo, que estava preparada para abordagens vindas pelo mar. A tática de L’Olonnais funcionou e seus homens invadiram facilmente a cidade, que estava esvaziada por causa da fuga em massa dos moradores. Houve um massacre daqueles que estavam por lá e muitos que tentaram escapar para a selva não conseguiram evitar a perseguição dos experientes e sanguinários bucaneiros. Os bandidos seguiram para Gibraltar, estabelecendo um cerco contra a cidade. Sob a mira dos invasores, os moradores tiveram que desembolsar um pesado resgate para evitar um destino ainda pior. Eles só saíram das terras ocupadas depois que conseguiram um vultoso resgate do governo espanhol, o que significou que a operação foi um sucesso. Uma terrível marca desta expedição criminosa foi a violência desenfreada, com estupros, torturas absurdas e assassinatos brutais banalizados.

O método bucaneiro de combinar ataque marítimo e terrestre voltou a ser colocado em ação em novas campanhas com resultados variados em termos de obtenção de lucros e resultados combativos, inclusive fracassos que desarticularam a unidade dos bucaneiros. Depois de um plano de atingir a cidade de San Pedro que não saiu como o esperado, na Nicarágua, o próprio L’Ollonais encontrou muitas dificuldades de avançar pelo terreno de selva enquanto precisava ainda lidar com focos de resistência pelo caminho e num lance de fúria matou um combatente espanhol, arrancou seu coração e comeu um pedaço do órgão diante de seus homens e de outros prisioneiros para intimidar e aterrorizar as testemunhas. A vitória depois de tamanhos esforços foi frustrante porque os resultados foram muito abaixo do desejado e entre os bucaneiros era crescente a insatisfação com seu comandante.

Enquanto muitos piratas desertavam, para evitar um motim entre aqueles que ainda o seguiam e obter um saque que todos esperavam, L’Olonnais foi informado por um prisioneiro sobre a proximidade de um galeão espanhol e decidiu atacar a embarcação. O comandante dos bandidos organizou uma abordagem de ataque ao navio de grandes proporções para sua época e conseguiu mais esta vitória, mas seus marinheiros não estavam familiarizados com a condução desta embarcação e não conseguiram controlar o navio, que acabou encalhando na Costa do Mosquito. Os piratas tentaram fugir da posição vulnerável em que se encontravam durante dias, mas foram detidos por uma guarnição espanhola.

François L’Olonnais conseguiu escapar mais uma vez dos espanhóis, mas por pouco tempo. Enquanto passava pelo Golfo de Darien, entre o Panamá e a Colômbia, ele foi capturado novamente e desta vez por indígenas. O fora-da-lei e notório assassino acabou esquartejado pelos nativos e há quem diga que eles aproveitaram e comeram o francês.


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