As faces e fases da deusa maia Ix Chel

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Ix Chel, a deusa maia da lua, do amor e da fertilidade também era conhecida como Senhora do Arco-Íris. Ela tinha a particularidade de ser reconhecida em suas três fases e faces: a jovem tecelã, a mãe e a anciã. Em sua representação jovem ela estava associada à fertilidade, sendo descrita como uma tecelã, vinculada a uma atividade que mulheres maias costumavam desempenhar no cotidiano. Como tecelã, a deusa simbolizava a criação e à capacidade reprodutiva apresentada pela presença de um coelho habitualmente em suas representações nesta fase. A mesma deusa simbolizava maternidade e o amor quando vista numa fase mais amadurecida, podendo ser retratada como uma mulher grávida ou rodeada por crianças. Em sua terceira versão, Ix Chel é mostrada como uma mulher sábia e de poder curativo portando um jarro mágico que contém a água que proporciona as chuvas, os cursos dos rios e viabiliza a vida e da agricultura. Ela era representada como uma figura de notável beleza e vestindo saias elaboradas e adornada por elementos simbólicos valiosos para os maias. 

A deusa era venerada através do cotidiano maia, influenciando as práticas que requiriam homenagens e ações em seu nome. Como ela proporcionava as chuvas vitais para a agricultura, ela era invocada para garantir a sustentação das plantações e nas épocas de chuvas as cerimônias e oferendas tendiam a ser mais comuns, mas diante das temidas ocasiões de prolongamento da estiagem os clamores por seu benefício eram mais dramáticos e rituais chamando as chuvas eram realizados invocando seu poder e benevolência. Ela patrocinava as práticas artesanais, com destaque para a tecelagem, atividade desempenhada pela mão-de-obra feminina e os indígenas homenageavam a deusa nas ocasiões festivas da apresentação dos produtos acabados após o empenho de dedicados esforços criativos para a produção das belas peças que faziam parte da cultura maia. Sua versão anciã era a divindade a quem se buscava diante da expectativa por cura das doenças e os curandeiros preparavam as ervas sob suas bênçãos e invocavam Ix Chel nos rituais que envolviam conhecimento sobre as plantas medicinais e práticas que combinavam religiosidade e magia. Também era por seu nome que clamavam as orações durante os partos precedidos por oferendas como flores e objetos simbólicos. Além de todas essas atribuições sagradas, a deusa era lembrada através da realização de banhos de purificação que as pessoas realizavam em ocasiões importantes como renovações de ciclos e rituais de passagem.

Ix Chel era uma figura presente em variadas narrativas mitológicas, como participante da criação do mundo ao lado de outras divindades. Ela era a esposa de Itzamna, deus do céu e do sol, compondo através desta união a conexão entre os astros que proporcionam a existência e eram cultuados em templos como divindades das mais importantes do panteão maia. Uma de suas mais importantes participações nos mitos trata do episódio do dilúvio que ela causou para purificar o mundo depois de sentir-se desapontada como a humanidade, mas depois de proporcionar um evento tão devastador ela foi benevolente por força de sua compaixão e acabou repovoando o mundo.

Ix Chel é uma figura marcante nos mitos e religião maia e figura neste universo num papel que era comum a outras divindades femininas reconhecidas em diversas culturas. Deusas estavam frequentemente associadas à fertilidade, à terra, à cura, à maternidade, à beleza e ao amor, situação que muitas vezes refletiam aspectos da atuação das mulheres nas sociedades, representando os papéis tradicionais femininos associados à geração e cuidados com os filhos e aos serviços cotidianos.