Cômodo e o início da queda do Império Romano

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Nascido Lucius Aurelius Commodus em 161 d.C., um dos mais infames imperadores de Roma começou cedo sua preparação para exercer o poder. Seu pai, o imperador filósofo Marco Aurélio, resolveu quebrar o hábito instituído durante o “Período dos Cinco Bons Imperadores” e promover a sucessão através de sua linhagem direta, nomeando o filho como herdeiro político e futuro soberano já aos cinco anos de idade, quando recebeu precocemente o título de César. Ao contrário do que se poderia imaginar, esta antecipação de designação e a tutela do altamente instruído pai como mestre não garantiram o interesse do herdeiro a respeito dos assuntos de governo nem forjaram nele as qualidades que marcaram os demais membros da Dinastia Nerva-Antonina. Cômodo recebeu treinamento militar, educação refinada com sólidas bases de retórica, filosofia, direito e administração e ainda durante sua fase de preparação foi nomeado co-imperador aos 15 anos de idade e assumiu efetivamente o poder após a morte de Marco Aurélio três anos depois. 

A transição que foi tão preparada através da fase de integração de Cômodo ao comando ocorreu da forma prevista, mas o novo imperador logo comprovou que a continuidade acabava ali. Ele rompeu com as práticas que vinham sendo seguidas exitosamente e decidiu exercer o poder despoticamente, manifestando suas prioridades que contrariavam os interesses públicos e levando um estilo de vida que escandalizou Roma. Embora tecnicamente qualificado, ele não tinha vocação para governar e sua experiência no poder foi marcada pelo desleixo com a administração e assuntos de Estado. 

Em vez de tratar de governar, o imperador passava muito de seu tempo participando de banquetes e espetáculos gladiatórios. As lutas nas arenas desde cedo fascinavam Cômodo e como imperador ele resolveu se exibir ao participar delas diante do público, enfrentando oponentes despreparados ou sem condições de bom desempenho. Ele resolveu promover uma prática abusiva de personalismo, nomeando a cidade de Roma como Colonia Lucia Annia Commodiana e restabelecendo os nomes dos meses do ano também em sua própria homenagem. O imperador que chegou a adotar o nome de Hércules Romano para ressaltar sua força e pretensa bravura deixou os assuntos de governo para auxiliares igualmente ineptos, que também se aproveitavam dos cargos para a obtenção de vantagens pessoais, o que proporcionou uma prática generalizada de corrupção instituída no governo. 

Sua condução do império gerou fortes oposições, estando no Senado significativa parte das reações. Cômodo via o Senado como uma ameaça e sua resposta era realizada através de perseguições, exílios forçados e execuções dos representantes senatoriais que manifestavam declaradamente suas críticas, mas a repressão não eliminava o descontentamento e a situação institucional era insustentável diante dessa relação hostil. O governo era criticado pela população, que realizava diversos protestos e manifestações  por causa do constante estado de crise causado pela má administração. Em uma oportunidade populares assassinaram um dos homens de confiança do imperador durante um protesto movido por problemas de abastecimento de alimentos na capital. O clima tenso dividia a própria família imperial e uma tentativa de derrubar Cômodo contou com a articulação de sua irmã, Lucilla, que planejou com alguns cúmplices o assassinato do imperador para tentar estabelecer um outro rumo para o império. A derrota desta conspiração e a execução de seus participantes não diminuiu a motivação dos opositores, que cogitavam novos planos e tramas para livrar Roma de um imperador odiado e impopular e proporcionar a ascensão de novos grupos políticos ao poder. 

Apesar de todo o seu aparato repressivo e dureza nas reações, Cômodo estava cada vez mais pressionado por uma vastidão de inimigos declarados e ocultos. Ele foi finalmente assassinado em uma última conspiração que contou com a participação de sua amante, de um secretário e do comandante da Guarda Pretoriana, entre outras figuras próximas do imperador. O encarregado da execução do governante problemático foi seu próprio treinador de lutas, que estrangulou Cômodo e encerrou de maneira violenta um governo conturbado. Cômodo morreu aos 31 anos, em 192 d.C.

Com o fim da aclamada dinastia que ele manchou, assumiu o poder o imperador Pertinax, nomeado pelo Senado e que governou por apenas três meses e foi assassinado pela Guarda Pretoriana. O império foi abalado por lutas internas pelo poder que enfraqueceram sua estabilidade, favoreceram as mobilizações dos invasores e promoveram uma lenta e gradual decadência de Roma. O reinado de Cômodo foi marcado como o ponto de partida para o processo de ruína romana.

2 comentários

Os comentários estão fechados.