Marco Aurélio, o imperador filósofo

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O último dos “Cinco Bons Imperadores”, fase da Dinastia Antonina, Marco Aurélio (Marcus Annius Verus​) também ficou conhecido como o Imperador Filósofo e governou de 161 a 180 d.C. Nascido em Roma, foi sucessor de Antonino Pio, mas teve seu nome indicado como herdeiro do poder romano ainda durante o governo de Adriano como um acordo político que assegurava o apoio e influência de sua família, uma das mais ricas e influentes de Roma. Mas ele não figurou nesta posição sozinho, pois o processo sucessório inovador articulado por Adriano previa o compartilhamento do poder com Lúcio Vero (Lucius Aurelius Verus), que também representava um influente grupo familiar romano e tinha como objetivo proporcionar uma aliança firme em torno do poder. Os sucessores foram adotados como herdeiros de Antonino Pio, que se encarregou da preparação de ambos para um futuro exercício do governo do império e sua sucessão foi tranquilamente conduzida.

Marco o Aurélio demonstrou grande aptidão para os estudos, sendo profundo conhecedor de filosofia e das questões da administração pública, embora tenha lhe faltado na fase preparatória maior aprofundamento nos assuntos militares. Ele iniciou cedo sua carreira política para acumular experiência, sendo nomeado cônsul e posteriormente passando por variados cargos no alto escalão estatal de Roma para conhecer a estrutura e exercer responsabilidades. Ele se alinhou ao estoicismo, linha filosófica que enfatiza o autocontrole, a resistência às distrações e emoções e o reconhecimento do curso natural dos acontecimentos sem afetações que possam atrapalhar as ações diante dos desafios impostos. Sua perspectiva filosófica foi importante para a definição de sua personalidade e atitudes diante das dificuldades e exigências do exercício do poder como imperador, visão que ele deixou registrada na obra “Meditações”, um dos mais importantes trabalhos na corrente filosófica do estoicismo.

O compartilhamento do poder com Lúcio Vero só durou até 169, quando o co-imperador morreu doente aos 39 anos após uma campanha militar. Os dois tinham estilos e personalidades muito diferentes. Enquanto o estoico Marco Aurélio era concentrado e prezava pela discrição, o irmão adotivo era indulgente e apegado aos prazeres e luxos que o status proporcionava. Marco Aurélio se concentrou na administração do império enquanto Lúcio Vero se dedicou à ação militar, comandando as tropas romanas nos cenários de guerra. Assumir o poder por conta própria representou a necessidade de conciliar a administração e a liderança militar e o imperador demonstrou ser capaz de cuidar das necessidades.

Lúcio Vero (Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Sob seu comando e diante das influências de sua visão estoica, Roma passou por mais ajustes administrativos para lidar com as exigências do contexto e proporcionar a busca pelo melhor para a população. Reformas legais ampliaram direitos sociais e até proporcionaram proteção aos escravos contra abusos, uma inclinação estatal que estava de acordo com os ideais do próprio Marco Aurélio. Os desafios e dificuldades durante o governo eram enormes, sobretudo por conta das crescentes invasões germânicas e da guerra contra a Pártia, poderoso reino que se estendia do sudeste da atual Turquia até o Irã. Os conflitos consumiam significativa parte dos recursos romanos, exigindo uma cuidadosa gestão sobre os gastos públicos e medidas governamentais para lidar com a situação sem aumentar ainda mais a crise interna. Outra dificuldade relevante enfrentada por Marco Aurélio foi a Peste Antonina, epidemia devastadora que prevaleceu entre 165 e 180 d.C. que fez incontáveis vítimas, sendo também um problema militar porque comprometeu o efetivo do exército com muitos soldados romanos mortos em tempos de guerra pela doença e não necessariamente em ação.

A condução de Marco Aurélio diante de um contexto tão crítico foi decisiva, pois ele conseguiu manter a integridade do império, o funcionamento das instituições e a implementação de respostas às graves necessidades do Estado de maneira equilibrada e preservando o equilíbrio político, posição que enfatizou sua qualidade como um dos mais importantes e capazes imperadores de Roma.

Marco Aurélio era casado com Faustina, filha de seu antecessor Antonino Pio. O casal teve vários filhos, com diversos deles mortos antes da fase adulta. Diferentemente do que ocorreu com os demais representantes do grupo dos “Cinco Bons Imperadores”, ele resolveu designar seu próprio filho Commodus como sucessor, elevando o herdeiro à condição de co-imperador em 177 a.C. Desde então esta decisão pareceu ser o grande erro do sábio imperador, pois o herdeiro já demonstrava não corresponder às expectativas e revelava um comportamento instável. A morte de Marco Aurélio em 180 d.C., aos 58 anos de idade, também significou o fim do ciclo dos governantes virtuosos que sustentaram a grandiosidade de Roma e conseguiram lidar com as imensas dificuldades da administração do império.


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