Os Piratas Cilícios: Ameaça nas águas do Mediterrâneo Antigo

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Muito antes dos famosos piratas, corsários e bucaneiros que aterrorizavam o Atlântico entre os séculos XVI e XVIII, os Piratas Cilícios desestabilizaram a navegação no Mar Mediterrâneo durante os séculos II e I a.C.

Eles começaram a agir após a decadência do Império Selêucida, remanescente do Império Macedônio que foi sendo enfraquecido ao longo dos séculos num processo que em seu final foi favorecido por rebeliões internas na Armênia e Capadócia e invasões celtas na Anatólia. Com o vácuo deixado após esta crise, praticantes da pirataria que já atuavam no Mediterrâneo encontraram um cenário propício para prosperar. A região da chamada Cilícia Tracheia, no sudeste da Ásia Menor, atual Turquia, favorecia os bandidos por ter uma costa repleta de montanhas e cavernas que proporcionavam refúgio e segurança que serviu de base para as operações dos piratas.

Além de homens de procedência selêucida, os fora-da-lei tinham variadas origens, pois as guerras na região favoreceram uma grande dispersão de pessoas dispostas a buscar tentar a vida através da pirataria. Os saqueadores marinhos cilícios atacavam uma variada gama de alvos, com destaque sobre navios transportadores de grãos, que eram lentos e vulneráveis por causa da restrição de possibilidades de manobras para se esquivar das abordagens. Eles aprisionavam e escravizavam tripulantes e quando percebiam que entre as vítimas estavam pessoas ricas exigiam o pagamento de pesados resgates. O mais famoso caso de sequestro praticados por eles envolveu o próprio Júlio César, preso e liberado sob pagamento quando jovem. As cidades costeiras não estavam a salvo dos piratas e os alvos mais evidentes estavam localizados principalmente na costa italiana, o que representava uma afronta direta contra a República de Roma.

A relação entre os piratas cilícios e Roma era marcada pela estranha situação que envolvia conflito e parceria, pois além dos ataques mútuos também havia relações comerciais entre as partes. Romanos e cilícios negociavam escravos que os piratas, como agentes importantes do mercado escravista mediterrânico, obtinham em suas expedições em diversas regiões. Esta peculiaridade demonstra a complexa atuação dos Piratas Cilícios, que atuavam de forma dispersa através de numerosos grupos, pois não se organizavam sob um comando ou unidade integradora, apesar das condições que favoreciam alianças entre eles e fortaleciam a condição ameaçadora do funcionamento da pirataria em alta escala.

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O poder das incursões dos piratas era potencializado pela variedade de embarcações que empregavam, a exemplo dos hemioliae e myoparones, que eram barcos empregados para o transporte de carga e as e as birremes e trirremes, empregados nas operações agressivas. Além das embarcações obtidas por meio da captura resultante dos ataques, os cilícios eram notáveis construtores de embarcações, sendo a madeira empregada como matéria-prima para a produção náutica um dos produtos mais valorizados em suas transações comerciais.

A decadência do reinado dos cilícios nas águas do Mediterrâneo foi resultado da bem-sucedida campanha comandada pelo líder romano Pompeu Magno em 67 a.C., que adotou estratégias como o patrulhamento marítimo intensivo e coordenado que resultou em batalhas navais vencidas por Roma. Além disso, foram promovidos ataques pesados contra as bases dos piratas para enfraquecer os meios de sustentação das operações dos oponentes. Medidas pacíficas também foram adotadas como a anistia de piratas que aceitassem as condições ofertadas por Roma, que disponibilizou terras distantes do litoral como alternativa de subsistência. O rápido desmonte das operações da pirataria também favoreceu o controle romano sobre as regiões controladas pelos cilícios.


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