Fernão de Noronha, o homem que antecedeu a colonização do Brasil

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Os portugueses oficializaram o “descobrimento” do Brasil em 1500, mas a colonização em larga escala das terras de seus novos domínios não ocorreu de forma imediata. Não havia pressa também, pois as ameaças iminentes à posse portuguesa na ocasião eram pouco expressivas e os portugueses já vinham mantendo um lucrativo fluxo nas rotas comerciais na África e Ásia. Além disso, eram insuficientes os recursos para empreender um processo de colonização num espaço tão vasto e o Brasil e os lusitanos ainda não conheciam suficientemente os potenciais daquelas terras para justificar investimentos que poderiam ser arriscados.

Um fidalgo despontou neste contexto como pioneiro no processo de exploração dos recursos brasileiros. Seu nome era Fernão de Loronha (ou Lloronha), mas que também foi conhecido como Fernando della Rogna e, ainda mais comum, sobretudo posteriormente, como Fernando de Noronha. Nascido em 1470 numa família burguesa enobrecida, ele tinha origens judaicas e acabou sendo convertido ao catolicismo numa época de perseguições religiosas que não poupavam sequer os membros da elite. Ele atuou no comércio associado ao poderoso banqueiro alemão Jakob Fugger, homem mais rico da Europa e financiador de empreendimentos mercantis e de iniciativas nos negócios ultramarinos. Noronha tinha planos para explorar um potencial a ser descoberto nas áreas incorporadas aos domínios de Portugal e negociou com a coroa a realização de investimentos em expedições, levantamento de possibilidades econômicas lucrativas e direitos sobre riquezas extrativistas que identificasse.

Em 1503 liderou sua primeira expedição, ocasião na qual localizou e tomou posse da ilha que posteriormente recebeu seu nome e foi a primeira capitania hereditária estabelecida em solo brasileiro. No ano seguinte, Noronha ampliou sua atuação na costa brasileira, firmando feitorias que serviam de base para o processo de exploração extrativista do pau-brasil. Indígenas foram aliciados como agentes da exploração e atuavam na coleta da madeira em troca de variados produtos e utensílios fornecidos pelos europeus. Apesar das condições desvantajosas das trocas e dos efeitos dos contatos no processo de alteração da organização habitual dos nativos, os indígenas não eram naquela situação escravizados e não tinham suas terras diretamente ameaçadas de invasão porque o modelo de exploração não ia além do sistema de feitorias que não fixava colonos na terra.

A abordagem exploratória de obtenção de recursos naturais adotada por Noronha foi viável por ser uma atividade de exploração econômica menos intensiva e adequada para aquele estágio da dominação portuguesa, embora já fosse capaz de produzir resultados lucrativos pela valorização do produto no mercado europeu. Ele conseguiu ampliar ainda mais sua fortuna neste negócio e além dos lucros também conquistou prestígio, obteve honrarias e indicou para o governo português o potencial das terras brasileiras. Sua concessão contratual de exclusividade da exploração do pau-brasil foi acordada para durar 3 anos, mas acabou sendo prolongada até 1515, quando o próprio governo português assumiu esta atividade.

Depois de atuar explorando a extração vegetal no Brasil, Noronha continuou envolvido com atividades marítimas e mercantis, principalmente com negócios na Índia. Ele foi casado com Violante Rodrigues de Noronha e desta união nasceram vários filhos, incluindo, Isabel de Castro, esposa de Pedro Álvares Cabral.

Fernão de Noronha morreu em 1540.


Referências: