A Corte Infernal

A necessidade de elaborar ordens, hierarquias e estrutura para compreender ou justificar o funcionamento da sociedade pode ter influenciado a concepção de como o poder é exercido. Esta tendência tem suas manifestações nas ideias por trás das estruturas políticas e das instituições governamentais, militares e religiosas, na fundamentação da ordem social e visões sobre aspectos como a superação do caos através do estabelecimento da ordem. Modelos de estruturação também foram imaginados a respeito de planos metafísicos, com exemplos de hierarquias entre entidades mitológicas concebidas por variadas culturas. No contexto judaico-cristão o âmbito celestial também é ordenado, com Deus no topo da hierarquia e atendido por seus anjos devidamente cumpridores de suas funções conforme suas categorias.

Do mesmo modo, no patamar infernal também prevalece um parâmetro ordenado e estruturado sob o comando de Satanás. A “Corte Infernal” ou “Hierarquia Demoníaca” é a representação do ordenamento do domínio do mal concebido na tradição cristã. Esta concepção tem variadas fontes como os grimórios (antigos livros de magia e de conteúdos voltados para saberes do ocultismo), obras apócrifas como o Livro de Enoque, influência de mitos e crenças populares, textos religiosos e obras medievais sobre demonologia. Nas diversificadas fontes a respeito da estrutura do inferno são apresentadas versões da organização e composição hierárquica que incluem as possibilidades de composição com diferentes entidades demoníacas em determinadas posições e funções.

Alguns dos auxiliares satânicos mais importantes viraram figuras bastante citadas como poderosos membros da elite do mal. Eles podem ser qualificados como anjos decaídos, divindades de outras religiões que foram associadas ao inferno descaracterizando os contextos de suas presenças nas crenças e mitologias às quais são originalmente vinculadas e ainda entidades já concebidas como figuras próprias do ambiente infernal.

A organização do inferno pode apresentar, conforme fontes e interpretação, um ordenamento complexo com níveis de poder, influência e atribuições dos demônios, distribuídos entre os príncipes, duques, marqueses, cavaleiros, entre outras ordens inspiradas em estruturas que refletem as representações de poder habituais nas sociedades humanas.

Algumas das figuras infernais mais proeminentes:

Belzebu

O panteão ou ordem infernal sugere que ele é um dos demônios mais poderosos e importantes, figurando entre os príncipes do inferno. Sua origem remonta ao processo de demonização de divindades de outras religiões antigas, pois a tradição judaica converteu em demônio o antigo deus cananeu Baal (“Senhor”), que recebeu a denominação Baal-Zebub (“Senhor das Moscas”) numa elaborada estratégia cultural de deslegitimação e descaracterização de outras crenças. Ser infernal tão destacado que já foi até identificado como uma versão do próprio Satã, ele promove a discórdia e agita os pecados, sendo influente sobre outros membros da corte demoníaca.

Asmodeus

Destacado no Livro de Tobias, o demônio da luxúria também tem status de príncipe infernal. Ele costuma ser citado como um anjo caído, embora sua queda não coincida com a tradicional expulsão de Lúcifer e de seus aliados rebeldes. No inferno ele comanda legiões de espíritos malignos contra a obra divina.

Azazel

Segundo o Livro de Enoque, ele era um dos líderes dos “Vigilantes”, anjos rebeldes que desceram à Terra para corromper a humanidade através de ensinamentos proibidos. Azazel ensinou os homens a produzirem armas para promover a violência, mas, curiosamente, a ele também é atribuído o uso de cosméticos. Ele tem uma posição honrosa na hierarquia infernal por seu papel transgressor de ir contra a vontade de Deus e liderar um movimento de anjos rebeldes.

Belial

Seu nome (“Beli ya’al”) significa “sem valor”, o que pode dizer muito a seu respeito. É a figura da imoralidade, sendo também um anjo rebelde que desafiou o poder divino. Pode ser apresentado como um dos príncipes do inferno, promove a iniquidade e apostasia, sendo o promotor das ofensas contra a fé.

Belphegor

Outra entidade pagã original de outra cultura que foi demonizada. Associado à preguiça, outro capital, promove habilidades para que os homens desenvolvam invenções que induzam ilusórias noções de progresso. Como comandante de exércitos de espíritos demoníacos e seres inferiores, ele tem destacada importância na nobreza do inferno.

Mammon

O demônio que fomenta a ganância e a busca incessante por riqueza promove o pecado da avareza. Ele incentiva a injustiça e a perversão moral e por causa da riqueza e a idolatria material. É outro alto dignitário no inferno porque sua influência encaminha muitas almas para o domínio do mal.

Astaroth

Um dos mais relevantes nobres do inferno, tem seu nome derivado da deusa fenícia Astarte. Ao inspirar uma representação demonizada, a antiga e bela deusa do amor e da guerra foi transformada em uma figura masculina grotesca que costuma montar um dragão e carrega uma serpente. O duque demoníaco encoraja os equívocos através dos conselhos maldosos e das tentações.

Lilith

Também de inspiração em uma divindade pagã – a entidade noturna mesopotâmica Lilitu -, esta entidade demoníaca foi incorporada pela tradição judaica apresentada como a primeira esposa de Adão, criada da terra assim como ele, e que decidiu abandonar o Éden por se recusar a seguir ordens. Depois de ser retratada como uma assassina de mulheres grávidas e crianças, e sedutora que promove a perdição,  foi incorporada ao séquito infernal como uma demônia comandante de hordas ou até como a própria rainha do domínio do mal.