Uma fase de notável prosperidade do Império Romano ocorreu durante Dinastia Nerva-Antonina, que destacou o “Período dos Cinco Bons Imperadores” (de 96 a 188 d.C.), quando Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio fizeram governos eficazes. No entanto, após esta experiência de progresso ocorreu o tumultuado governo de Cômodo, que terminou de maneira dramática com seu assassinato em 192 d.C. O que se seguiu desde então foi um longo e complexo processo de decadência que envolveu governos tirânicos, lutas sangrentas pelo poder, instabilidades e momentos de tentativas de restauração da grandiosidade do império.
193 a.C. foi o “Ano dos Cinco Imperadores”, marcado por uma situação particularmente tensa. Pertinax, nomeado imperador pelo Senado após a morte de Cômodo, foi assassinado com apenas três meses de governo por membros da Guarda Pretoriana depois de tentar reformar a corporação. Seus assassinos aceitaram Dídio Juliano como imperador após negociar corruptamente o trono e fazendo promessas de grandes pagamentos aos soldados, mas o imperador desaprovado pelo Senado e pela população também durou 3 meses no poder e foi assassinado. A disputa pelo trono persistiu e os postulantes eram eram Pescênio Níger, Clódio Albino e Septímio Severo, generais e governadores de províncias que foram declarados imperadores por suas próprias tropas e por aliados políticos. Esta crise de legitimidade evidenciou a fragmentação do poder e a influência das forças militares sobre a política, precedente importante para definir o destino do Estado através dos futuros conflitos.
Septímio Severo (Lucius Septimius Severus) acabou prevalecendo e conquistando o poder, estabelecendo a Dinastia dos Severos (193-235 d.C). Ele nasceu em Leptis Magna, na atual Líbia, o que fez dele o primeiro imperador romano de origem africana, de ancestralidade púnica e berbere. Ainda jovem, ele foi para Roma com o objetivo de atuar em funções públicas favorecido pelos contatos familiares. Ele ocupou cargos importantes na administração e postos de comando no exército durante os governos de Marco Aurélio e Cômodo, chegando a ser designado governador da província da Panônia, na região dos Bálcãs. Com o assassinato de Perinax, ele aderiu à oposição ao imperador Dídio Juliano, sendo um dos líderes políticos e militares que questionaram a legitimidade do novo governo. Aproveitando-se da situação de insatisfação, ele se apresentou como alternativa e foi aclamado por seus comandados, então marchou sobre Roma para derrubar seu oponente e recebeu o apoio do Senado. O problema era outros outros comandantes que também desejavam assumir o comando do império estavam dispostos a tupo pelo poder, gerando uma disputa interna contra Pescênio Níger, governador da Síria, e Clódio Albino, governador da Britânia. Ele derrotou o primeiro no campo de batalhas e usou de astúcia para aceitar uma aliança com o segundo rival para posteriormente se livrar dele na Batalha de Lugduno (atual Lyon, França), se estabelecendo sozinho no topo do poder em 197 d.C.
Para fortalecer sua legitimidade, Septímio Severo invocou sua associação à dinastia Antonina, alegando ser filho adotivo de Marco Aurélio. Ele ainda recorreu a uma intensa propaganda pessoal que o apresentava como um imperador soldado que cuidava do exército, o que ajudou a fortalecer sua aceitação entre os militares, favorecidos por benefícios legais e materiais. O imperador adotou títulos para ressaltar seu poder e posição e fez erguer no Fórum Romano o majestoso Arco de Septímio Severo para evidenciar sua autoridade para os cidadãos de seu tempo e pela posteridade. Todos os artifícios e estratégias não bastaram para conter a oposição que persistiu. Significativa parte aristocracia romana demonstrou resistências diante da situação de lidar com um imperador de origem geográfica e social diferente e ele governou desprezando o Senado, perseguindo muitos de seus integrantes e gerando uma forte animosidade nas elites políticas e econômicas do império representadas pela instituição. Os frequentes incidentes de abuso de poder do imperador também revelavam frequentes casos de corrupção, comprometendo ainda mais sua reputação e popularidade.
Septímio Severo buscou sa apoiar no exército como sua base institucional, posição que aprofundou o militarismo de seu governo. A militarização acabou afetando as finanças do Estado, pois os recursos do império acabaram cada vez mais comprometidos para sustentar os salários e bancar inúmeras vantagens concedidas aos militares em troca de apoio, situação que forçava a inflação e causava constantes faltas de recursos, resultando em impactos negativos para a população em geral.
Apesar dos problemas, as campanhas militares realizadas em seu governo foram exitosas, assegurando conquistas territoriais na Mesopotâmia e vitórias na Britânia. Reformas administrativas aprimoraram o funcionamento da arrecadação tributária e melhor supervisão das províncias e Septímio Severo estabeleceu o “Consilium Principis”, órgão que auxiliava o imperador na tomada de decisões e ao mesmo tempo esvaziava parte das funções que tradicionalmente cabiam ao Senado e ampliaram sua capacidade decisória. Além disso, províncias foram divididas para favorecer a redução da influência dos governadores, e outras mudanças legais geraram cada vez mais condições de concentração de poder na figura do imperador.
O imperador cuidou das providências sucessórias preparando seus filhos Caracala e Geta para que governassem juntos. Caracala foi primeiramente nomeado César aos 8 anos idade, assumindo um papel de herdeiro legítimo ao trono e aos 10 foi oficializado como Augusto, ocupando a posição de co-imperador ao lado do pai. Geta, que era apenas 1 ano mais novo, foi designado Augusto aos 20 anos e assumiu a atribuição de imperador em conjunto com o pai e o irmão. Septímio Severo morreu em 4 de fevereiro de 211 em decorrência de uma doença que o atormentava durante anos. Ele tinha 65 anos na ocasião e estava em Eboracum, na Britânia, atual York, Inglaterra, comandando mais uma campanha militar. Era esperado que seus filhos assumissem a sucessão compartilhando o domínio do império, entretanto, logo após a oficialização do governo eles manifestaram divergências e pretensões conflitantes, contrariando o famoso conselho final do pai: “vivam em harmonia, enriqueçam os soldados e desprezem todos os outros”.
Referências:


[…] Septímio Severo: Militarismo e Crise no Império Romano […]
[…] de matronas que também correspondiam aos seus papeis familiares. Júlia Domna, esposa do imperador Septímio Severo e mãe dos imperadores Caracala e Geta, sua irmã Júlia Mesa, avó dos imperadores Heliogábalo e […]
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