Marie de Guise: Política e poder na Escócia do Século XVI

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

A francesa Marie de Guise ou Mary of Lorraine foi rainha consorte e regente da Escócia durante um período de turbulenta relação com a Inglaterra. Nascida em 1515, filha do poderoso Duque de Guise, e Antoinette de Bourbon, influente nobre pertencente à dinastia real da França. As origens de Marie possibilitaram a educação refinada da alta elite e preparo para a ocupação de uma posição de destaque na sociedade. Foi educada em um convento até os 14 anos, quando foi introduzida na vida da corte.

Marie se casou pela primeira vez em 1534 com Louis II d’Orléans, Duque de Longueville, no Palácio do Louvre. A união durou pouco, pois o marido três anos depois, deixando a viúva grávida e com outro filho pequeno. O período de viuvez também não foi longo e no ano seguinte ela se casou com James V, o rei da Escócia. Era um casamento estratégico, pois o monarca havia acabado de ficar viúvo após o falecimento de sua primeira esposa, que era outra nobre francesa, e a política de alianças requeria a continuidade dos vínculos entre os dois reinos favorecida por um casamento diplomático. Esta decisão inviabilizou outra possibilidade que surgiu com a proposição de casamento pelo rei inglês Henrique VIII, que também viu a oportunidade de realizar um matrimônio estratégico após a morte de sua terceira esposa, Jane Seymour, em 1537, mas Marie recusou a proposta para casar com James V da Escócia e uma frase atribuída a ela ficou conhecida desde então: “Eu posso ser uma mulher alta, mas tenho um pescoço pequeno”, uma provocação ao fato de Henrique VIII ter decapitado sua segunda esposa, Ana Bolena.

Ela e James V tiveram três filhos, mas os dois primeiros faleceram ainda bebês. O rei morreu no final de 1542, seis dias após o nascimento da terceira criança do casal, Mary Stuart, que foi consagrada no berço como rainha da Escócia. A regência foi inicialmente confiada ao Lord James Hamilton, Conde de Arran, mas Marie ​estava disposta a assumir pessoalmente o posto de rainha regente. Ela realizou um contínuo esforço para manter sua influência ativa na corte e depois de enviar a filha para a França, em 1548, estreitou ainda mais os vínculos políticos franco-escoceses e conseguiu ter mais foco para atuar em suas articulações políticas, o que resultou na posterior nomeação como regente, em 1554.

Eram tempos de fortes disputas religiosas e a rainha em exercício era uma católica fervorosa preocupada com a crescente influência do protestantismo no reino, apoiada até 1558 por Maria I, da Inglaterra. Ela tratou de promover retaliações aos protestantes sob críticas de importantes lideranças políticas e religiosas, que formaram um movimento em oposição à rainha. A resposta de Marie foi o reforço à repressão, incluindo a imposição das armas contra insurgentes. Ela contou com o apoio militar de seu país natal, que enviou tropas para a Escócia, situação que acabou agitando ainda mais seus adversários, que denunciavam a intervenção estrangeira no reino. Os inimigos de Marie contaram com o apoio da agora rainha inglesa Elizabeth I, uma oponente de peso no cenário de conflitos – que via na filha de Marie uma potencial ameaça à sua legitimidade, pois ela era considerada a sucessora ao trono inglês pelos católicos. A situação acabou promovendo um clima de guerra entre os dois reinos vizinhos com o envolvimento francês quando a rainha inglesa determinou o envio de uma frota para cercar posições costeiras que estavam ocupadas por tropas francesas.

Num cenário de uma Escócia dividida e envolvida em tensões religiosas, eclosão de revoltas e distúrbios diplomáticos, a regência de Marie foi seriamente prejudicada e foi deposta em 1559. Em menos de um ano Marie de Guise morreu, aos 44 anos de idade, tendo as circunstâncias de sua morte discutidas como resultado de eventual envenenamento como desfecho de uma conspiração, embora a causa do falecimento seja atribuída à hidropisia, uma condição conhecida atualmente como edema, que já era uma doença que a afetava severamente. Sua filha, Mary, que já havia sido antes coroada rainha consorte da França, assumiu enfim sua posição de direito na Escócia em 1561, desmontando o governo regente protestante e aliado da Inglaterra que se estabeleceu depois da queda de Marie de Guise.


Referências:

2 comentários

Os comentários estão fechados.