A febre tifoide ou tifo é uma doença causada pela bactéria Salmonella typhi, que tem nas más condições de higiene um fator de grande potencial de contágio. O agente contaminante pode chegar à corrente sanguínea através da ingestão de água e alimentos contaminados ou ainda através de contato com resíduos excretados por outras pessoas contaminadas. Existe um amplo conjunto de sintomas da doença, que incluem febre alta, dores de cabeça, náuseas, diarreia sanguinolenta, desidratação severa, dores e inchaço abdominal, tosse seca, alterações cardíacas, entre outras manifestações físicas.
A tifo já foi responsável por preocupantes surtos e num deles, em Nova York na primeira década do século 20, no decorrer de um prolongado período de ocorrência, a doença fez milhares de vítimas fatais, o que motivou a realização de um verdadeiro processo de investigação sobre o processo de contágio e identificação de potenciais focos de disseminação da doença.
Rastreando casos de infecção, George Soper, investigador designado para descobrir como a doença se espalhava, identificou em 1906 que numa residência rica da cidade ocorreram 6 casos entre os 11 moradores. Após entrevistar os moradores, averiguar seus hábitos alimentares e especular sobre a procedência de ingredientes das refeições, Soper concluiu que a cozinheira, a irlandesa Mary Mallon, era a agente disseminadora da doença, apesar de não ter sintomas da tifo. A moça se recusou violentamente a oferecer amostras para exame em tentativas realizadas por médicos e acabou sendo conduzida pela polícia para um hospital para ser avaliada, sendo então confirmada sua condição de portadora assintomática da bactéria. Durante a investigação, foram levantadas ainda informações sobre empregos anteriores de Mallon e novamente foram confirmadas ocorrências de contágios nas casas onde ela trabalhou anteriormente, totalizando outros 22 casos prévios, alguns deles fatais.
A repercussão do caso foi grande na imprensa e o periódico Journal of the American Medical Association foi o primeiro veículo midiático a registrar o seu infame apelido de Mary Tifoide em 1908.

Mallon foi logo vista como uma curiosidade médica e era frequentemente abordada por curiosos científicos nas instalações hospitalares onde foi confinada contra sua vontade. Passou por tratamentos por meio de hexametilenamina, laxantes, urotropina e levedura de cerveja e também tentou ser convencida a se submeter a uma cirurgia para remoção da vesícula. O incômodo da situação motivou a cozinheira a processar a cidade e o caso chegou até a Supema Corte em 1909. Apesar de uma primeira decisão desfavorável, Mallon acabou sendo libertada no ano seguinte sob a condição de nunca mais exercer sua profissão, mas a necessidade de se manter fez com que ela voltasse a trabalhar como cozinheira usando nomes falsos e conseguiu posteriormente empregos em um hotel, num restaurante, num spa, numa pensão e até numa maternidade.
Em 1015 o mesmo George Soper estava encarregado de mais uma investigação, agora sobre 25 de casos de tifo com 2 mortes na maternidade onde Mary trabalhava quando então descobriu que a tal Sra. Brown, a cozinheira, era sua velha conhecida.
Mallon foi novamente detida para prestar uma quarentena forçada na Ilha North Brother em instalações do Hospital Riverside para confinamento de pessoas com doenças contagiosas como tifo, tuberculose, febre amarela e varíola. Desta vez a sua longa quarentena foi perpétua, pois ela permaneceu no hospital até sua morte em decorrência de um derrame aos 69 anos, em 1938. Estima-se que ao menos 51 pessoas podem ter contraído tifo – incluindo 3 mortes – diretamente a partir de Mary, embora especule-se que os números possam ser ainda maiores. Mary nunca foi devidamente esclarecida sobre sua condição de portadora assintomática de uma doença contagiosa e também nunca admitiu ter sido responsável por contagiar outras pessoas.