Saladino, o Sultão Cavalheiro

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O sultão al-Malik al-Nasir Salah al-Dun wa’l-Din Abu ‘l Muzaffar Yusuf Ibn Ayyub Ibn Shadi al-Kurdi, muito mais conhecido como Saladino (Salah ad-Din, “A Justiça da Fé”), era de origem curda (etnia oriunda das montanhas da Ásia Ocidental) e nasceu em uma família na qual os homens tradicionalmente desempenhavam atividades de guerreiros. Seu pai era um combatente mercenário a serviço de Imād al-Dīn Zangī ibn Aq Sonqur, governante iraquiano e fundador da Dinastia Zangid que iniciou a ofensiva contra os reinos cristãos instalados no Oriente Médio. O jovem Saladino parecia não ter interesse pela carreira militar, preferindo inicialmente se dedicar aos estudos. No entanto, seria difícil não seguir a tradição familiar. Assim, ele despertou para a vida de guerreiro, servindo sob o comando do tio Shirkuh, que liderou tropas na conquista do Egito em 1169. Tendo se destacado como militar e conselheiro, Saladino foi o sucessor do tio como vizir, posteriormente tornando-se independente do califa Nur ad-Din e finalmente declarando-se sultão do Egito.

Daí em diante, Saladino pôs em ação um plano de expansão territorial bem-sucedido que lhe garantiu o domínio de terras no Iêmen e Síria, subordinando outras lideranças, neutralizando oponentes, impondo sua autoridade e unificando o islamismo sunita em seus domínios. Ele construiu uma reputação de líder justo, generoso e defensor da fé enquanto fortalecia sua posição dominante e ampliava suas forças militares, chegando ao ponto de encontrar condições para confrontar os adversários cristãos que se estabeleceram durante as Cruzadas.

Estrategicamente, Saladino postergou o embate contra os reinos cruzados até que pudesse assegurar o controle de seus domínios sobre os muçulmanos. Enfrentou pontualmente os cristãos em ocasiões com êxitos que não representaram um progresso efetivo na tomada de seus territórios e sofreu uma derrota na Batalha de Montgisard em 25 de novembro de 1177, quando enfrentou as forças combinadas de Balduíno IV de Jerusalém, Reinaldo de Chatillon e os Cavaleiros Templários. Os francos, que estabeleceram Jerusalém como base de seus domínios cristãos, estavam muito ocupados com suas divergências internas e disputas sucessórias quando, em 1187, Saladino abandonou a disposição de firmar acordos de trégua, como havia feito com o rei Balduíno IV, e partiu para a ofensiva. Na Batalha de Hattin, os cristãos foram massacrados, resultando na subsequente conquista de Jerusalém e em um enfraquecimento significativo dos reinos que os europeus haviam estabelecido na região. A Terceira Cruzada (1189), conhecida como Cruzada dos Reis, liderada pelo inglês Ricardo Coração de Leão, o germânico Frederico Barbarossa e o francês Filipe Augusto, não foi suficiente para retomar Jerusalém ou fazer as tropas de Saladino recuarem. No entanto, o sultão concordou em tolerar peregrinações de católicos e manteve o frágil reino latino.

Saladino e o rei inglês mantiveram boas relações e respeitavam-se mutuamente, o que era visto por muitos dos súditos do sultão e outros líderes islâmicos como uma fraqueza. Apesar de todos os seus feitos como sultão e comandante, foi alvo de críticas de líderes rivais por sua aparente cautela em decisões estratégicas, como a não tomada imediata de Tiro, que se constituiu como foco de resistência dos cristãos, e a ausência de confronto direto com os exércitos cruzados em momentos cruciais. Estas críticas, no entanto, são frequentemente fundamentadas na retrospectiva e desconsideram as normas de guerra do período, que privilegiavam a guerra de cerco em detrimento das batalhas abertas. Mesmo a hesitação em capturar Tiro, o último refúgio dos francos, pode ser compreendida quando consideramos a preocupação de Saladino com a iminente chegada de Frederico I, que acabou por não se concretizar. Saladino optou por desgastar o inimigo em seus pontos mais vulneráveis, confiando no tempo como aliado, visto que os reis ocidentais não poderiam abandonar indefinidamente seus reinos de origem. A estratégia de Saladino provou-se eficaz quando, em 1192, os cruzados, exaustos, abandonaram sua principal missão, culminando em uma paz negociada. Apesar de todo o esforço, Ricardo Coração de Leão não obteve ganhos significativos, enquanto Saladino manteve sua posição dominante.

Saladino não foi apenas um líder militar determinado na resistência à invasão cristã, mas também uma figura que atraiu a admiração e o respeito da própria Europa que combatia. Sua reputação cavalheiresca transcendeu fronteiras e épocas, contrapondo-se até à brutalidade dos cruzados, que massacraram indiscriminadamente em sua conquista de Jerusalém em 1099, enquanto Saladino concedeu anistia e passagem segura a todos os católicos, além de tratamento ainda mais favorável aos cristãos ortodoxos gregos, que frequentemente resistiam aos cruzados. Essa postura destaca sua habilidade em equilibrar a astúcia militar com a diplomacia e a compaixão, garantindo seu legado como uma das figuras mais emblemáticas da história medieval.

Saladino morreu em 1193 aos 55 anos de idade.

7 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados *