O guia francês de 1830 que apontava “as consequências fatais da masturbação”

O deputado federal Marcelo Aguiar (DEM-SP) apresenta o Projeto de Lei 6.449/2016 com o propósito alegado de proteger os brasileiros dos efeitos maléficos da masturbação, do comportamento por ele chamado de “autossexual”, mas a preocupação do parlamentar brasileiro não é nenhuma novidade – embora que, no fundo, a proposta do deputado resulte em um processo de censura ao conteúdo acessado pelo usuário da internet, pois prevê “obrigar as operadoras a criarem um mecanismo que filtra, interrompendo automaticamente na internet todos os conteúdos de sexo virtual, prostituição, sites pornográficos”.

Médicos no passado achavam que a masturbação era não apenas um distúrbio moral, mas também uma moléstia do corpo e da mente. Em 1716, na Inglaterra, o doutor Balthazar Bekker publicou um panfleto condenando a masturbação, qualificada como pecado hediondo e concluiu que sua prática poderia provocar uma longa lista de problemas: perturbações estomacais, má digestão, redução do apetite ou uma fome incessante, vômitos, debilidade respiratória, tosse, rouquidão, anemia, dor nas costas, fadiga crônica, perda de memória, a taques nervosos, amnésia, loucura, epilepsia e, enfim, levar ao suicídio. Ufa!

O alarmado dr. Bekker não estava sozinho em matéria de preocupação sobre o problema. Num dicionário médico de 1745, o doutor Robert James indicava que o onanismo era gravíssimo, responsável por distúrbios incuráveis. Também do século 18, o notável médico suíço Samuel-Auguste Tissot, que era aclamado por iluministas como Voltaire, virou especialista na matéria, escrevendo uma importante obra a respeito – o livro L’Onanisme, publicado pela primeira vez em 1760. Tissot argumentava que o desperdício de sêmen por consequência da masturbação causava uma enorme lista de males, a exemplo do que concluiu o dr. James.

Estes médicos eram respeitáveis e ilustres profissionais nos idos dos tempos iluministas e amparavam suas teses em argumentos repletos de referências nos postulados científicos de então.

Posteriormente, em 1830, na França, foi publicada a obra Le livre sans titre (“O Livro sem título”), um compêndio ilustrado que condenava a prática “autossexual”, reforçando as teses dos doutores Bekker, James e Tissot. A obra tinha uma pretensão didática e visava conscientizar – e aterrorizar – os jovens masturbadores, trazendo a triste e trágica história de um rapaz que se masturbava com frequência.

Vamos a ela:

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“Ele era jovem e bonito… a esperança de sua mãe”
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“Ele se corrompeu! E seu crime o fez envelhecer antes do tempo. Suas costas se curvaram”
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“Um fogo devorador queima suas entranhas e ele sente dores horríveis no estômago”
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“Ele não pode mais andar… suas pernas cederam”
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“Seu peito está queimando… ele tosse com sangue”
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“Ele tem fome e quer comer, mas nenhum alimento fica em seu estômago”
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“Veja seus olhos tão puros, tão brilhantes: O brilho desapareceu! Uma faixa de sangue envolve seus olhos”
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“Sonhos terríveis perturbam seu sono e ele não consegue dormir”
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“Seus dentes apodrecem e caem”

 

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“Seus cabelos, antes tão bonitos caem como os de um velho e tão cedo já está ficando careca”
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“Seu peito está dobrando… ele vomita sangue”
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“Todo seu corpo está coberto por pústulas… é uma visão horrível!”
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“Uma lenta febre o consome, ele emagrece, seu corpo queima”
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“Seu corpo enrijece, seus membros pararam de se mexer” 
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“Ele delira, paralisa diante da morte que se aproxima”
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“Aos 17 anos ele morre, com tormentos horríveis”

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