A inglesa Emma Elizabeth Crouch (1835-1886), mais conhecida como Cora Pearl, foi uma bela mulher de origens nada nobres – foi ex-prostituta de rua em Paris -, mas teve uma incrível ascensão social. Inteligente e determinada, aprendeu logo que para progredir precisaria aprimorar seus modos e estratégias. Aliada a um conhecido cafetão, o Monsieur Roubisse, passou a atuar em ambientes mais refinados, aprendeu a negociar e aprimorou seu repertório profissional. Após a morte de seu “agente”, Cora passou a atuar por conta própria e começou a colecionar amantes das altas esferas sociais francesas, homens de origens nobres e com influências.
Seu caso com jovem Victor Masséna, terceiro Duque du Rivoli e mais tarde quinto Príncipe de Essling, rendeu grandes progressos para Cora, que passou a ser atendida por uma comitiva de serviçais (incluindo um chef particular) e a gozar de luxo, dinheiro e jóias caríssimas. Também passou a colecionar cavalos de raça e diziam que ela era mais gentil com eles do que com seus amantes. a relação com Masséna durou cinco anos, mas ao mesmo tempo ela também tinha outros amantes, incluindo o Príncipe Achille Murat, um homem muito mais velho que ela.
Na década de 1860 ela era uma das cortesãs mais conhecidas de Paris e tinha em sua coleção de amantes aristocratas importantes entre representantes das nobrezas de variados países da Europa. Os favores que recebia garantiam uma vida requintada com direito a extravagâncias como viver num luxuoso castelo conhecido como Chateau de Beauséjour (“Castelo Bela Jornada”) onde eram realizadas festas concorridas e recepções íntimas para até quinze convidados muito especiais. Nos eventos que promovia não faltavam apelos incomuns com teatralidade e exageros, tendo ela como protagonista e atração principal (outras mulheres também já estavam sob seus serviços para os entretenimentos sexuais dos convidados). Num desses jantares ela resolveu servir um espantoso prato principal disposto sobre a mesa: Ela mesma, nua e polvilhada de temperos numa grande bandeja de prata que foi carregada e “servida” por uma equipe de garçons. Ela também se apresentou como Eva num baile de máscaras com uma “fantasia” equivalente ao que é geralmente atribuído a essa figura bíblica, ou seja, sem roupas. Suas aparições em teatros eram sempre escandalosas, geralmente por causa do exibicionismo das apresentações em trajes mínimos.
Os encantos de Cora foram capazes de levar homens à ruína financeira e até mesmo a morte. Numa ocasião um de seus apaixonados apareceu em sua porta transtornado, ameaçando se matar se não fosse correspondido e como não foi, ele cumpriu a ameaça e deu um tiro na cabeça em frente à casa da encantadora cortesã, embora não tivesse morrido e tenha precisado sobreviver com sequelas e com a desilusão amorosa. A reação de Cora foi fria após o incidente: Foi dormir como se nada tivesse acontecido.
O patrimônio de Cora era riquíssimo, constituído por jóias, obras de arte, móveis, cavalos, roupas caras e imóveis, muitos deles presentados por seus admiradores e amantes, incluindo Napoléon Joseph Charles Bonaparte Paul, rico primo do imperador Napoleão II e seu mais duradouro amante (o relacionamento durou nove anos, também não sendo exclusivo por parte da moça), que lhe deu diversos chalés e um palácio chamado Les Petites Tuileries. Cora sustentava sua mãe e seu pai, que viviam, respectivamente na Inglaterra e nos EUA tinha uma estratégia de valorização de seus pagamentos que colocava seus pretendentes em concorrência, elevando os valores que recebia – uma noite com ela chegava a custar 10 mil francos, uma pequena fortuna nos idos de 1860-1870.
Cora Pearl morreu de câncer intestinal aos 51 anos de idade.
Além de Cora, outras famosas cortesãs da Belle Époque foram Marie Duplessis, Emilienne d’Alençon, La Belle Otero e Liane de Pougy.