Antes de 1947, o sistema colonial persiste no mundo. As metrópoles enfraquecidas pela guerra impõem o retorno à ordem em suas colônias.
Depois da independência da índia, conquistada em 1947, um poderoso movimento de descolonização se ergue no Terceiro Mundo, e ele conduz progressivamente à independência de todos os países colonizados, inclusive as Filipinas e a África do Sul.
A comunidade das potências aumenta na ONU, com a eclosão das novas nações em todos os continentes. Um novo mundo nasceu, e ele encontra seu lugar no “Terceiro Mundo”.
*****
Antes de 1947, é a persistência do sistema colonial elaborado pelas nações industriais no planeta a partir do século XVI. A primeira colonização é a das Américas pela Espanha e Portugal, seguida pelo tráfico negreiro. Ela visa à exploração bruta dos recursos minerais preciosos, o ouro, a prata e os diamantes e as especiarias.
Uma segunda vaga de colonização, mercantil, atinge, nos séculos XVII e XVIII, o norte da América, onde são criados o Canadá e as treze colônias inglesas. Ela atinge também as índias, de onde os franceses são expulsos pelos ingleses, que estão igualmente instalados no Cabo.
Uma terceira vaga se apodera de todos os continentes, do século XIX ao XX. A conquista da África, de norte a sul, leva ao enfrentamento as nações coloniais. O sudoeste da Ásia é por sua vez colonizado, e a China é explorada. Até mesmo as ilhas da Oceania são ocupadas.
Os americanos do norte organizam uma forma original de dominação econômica na América Latina. No entanto, a abolição da escravidão em 1848, na França, e em 1888, no Brasil, assinala o começo de um movimento de descolonização, que desenvolve ações de resistência a partir do fim da Primeira Guerra Mundial: a revolta de Rif no Marrocos e a insurreição da Indochina francesa.
O pós-guerra conduz as metrópoles a recuperar as colônias perdidas por uma política de força: a França trava uma guerra na Indochina, reprime as revoltas de Madagáscar, envia navios de guerra e aviões para a Cabília quando ocorre a revolta de Sétif em 1945. Os holandeses combatem na Indonésia. Os ingleses enfrentam a revolta dos Mau-Mau na África.
Mas a índia, sobretudo, se lança na conquista de sua independência a partir do começo do século. Em Bombaim, reúne-se pela primeira vez, a partir de 1885, o Congresso concedido pelos britânicos. Em 1906, os radicais indianos pedem a autonomia interna.
Em 1918, 1,3 milhão de indianos foram mobilizados pelo exército britânico. No Congresso, Gandhi se entende com os muçulmanos para exigir um governo indiano autônomo. Em 1919, depois de greves e de sangrentos distúrbios, o Government of índia Act organiza um sistema de autonomia ainda dominado pelos britânicos, que mantêm em suas mãos as finanças e o Poder Executivo da União.
O Congresso se lança em uma ação não violenta para paralisar a administração, o sistema escolar e a produção através do boicote. A partir dos anos vinte o gandhismo é ultrapassado pelos movimentos mais radicais como o de Nehru, que pede a independência.
A violência dos atentados terroristas obriga os ingleses à repressão. Gandhi, organizador, em 1930, da “marcha para o mar”, é preso, com 60.000 pessoas. Um movimento de desobediência civil se espalha por todos os lugares e começa a ser conhecido no mundo inteiro sob o nome de “rota do sal”.
Os ingleses dão à colônia, em 1935, um estatuto liberal, o que aumenta as tensões entre muçulmanos e hindus. Os muçulmanos de Jinnah pedem a criação de um Estado separado, o Paquistão.
Em 1946, hindus e muçulmanos se enfrentam; lorde Mount-batten, nomeado vice-rei nas índias, aplica, em 15 de agosto de 1947, a Indian Independance BUI votada pelo Parlamento.
Ao preço de violentas guerras (400.000 mortos) dois Estados independentes, o da índia e o do Paquistão, nascem com o estatuto de domínios da Coroa, como o Canadá e a África do Sul.
Com a independência da índia, o sinal está dado, o mundo encontra-se nas mãos das duas superpotências que criticam, tanto uma quanto a outra, o sistema colonial, cujo desaparecimento elas desejam: os comunistas apóiam os movimentos de resistência, principalmente na Ásia. Os americanos, seguindo a doutrina de Roosevelt, criador da ONU, ajudam na constituição de nações independentes.
As metrópoles européias tentam em vão manter seus domínios: na Indochina, na Argélia, na Indonésia, os problemas tinham estourado entre as duas guerras. Sukarno havia fundado o partido nacional indonésio, em 1927, contra os holandeses. O exército inglês teve de deixar, em 1936, o Egito, sob a pressão do partido nacionalista Wafd. Na Argélia, Messali Hadj lançara, em 1927, um partido independentista. Os franceses enviaram tanques ao Marrocos para enfrentar a insurreição de Rif chefiada por Abd el-Krim. Os movimentos de resistência à colonização se organizavam na África negra e em Madagáscar.
Os japoneses, invadindo o oeste do Pacífico, desenvolveram uma propaganda antiocidental. Em 1945, Sukarno proclama a independência da Indonésia, e o Vietminh, a do Vietnam.
Nos dois países, as potências coloniais enviam as forças armadas, na tentativa de se manter. Os problemas nas Filipinas obrigam os Estados Unidos a reconhecer a independência das ilhas.
A Inglaterra, abandonando as índias, não pode reter a Birmânia, que se torna independente em 1948. A partir de 1956, os britânicos, durante muito tempo envolvidos no Quênia na revolta dos Mau-Mau contra os colonos brancos, concedem a independência a Gana e ao Sudão anglo-egípcio. Por contágio, todas as colônias britânicas da África se liberam facilmente, menos a Rodésia do Sul, onde os exploradores brancos das plantações criam uma colônia independente em 1965, condenada pela ONU, pois ela não concede direitos políticos à maior parte da população.
A França resiste instaurando a União Francesa, na qual ela inclui os povos que ela tem, de acordo com a Constituição de 1946, a vocação de “conduzir”. Ela se engaja em uma custosa série de guerras coloniais. A da Indochina, de 1946 a 1954, resultará na independência negociada de dois Estados sul-vietnamitas. A guerra não impede que o Marrocos e a Tunísia cheguem à soberania nacional em 1956. O artesão essencial de uma política de evolução pacífica é Pierre Mendes France.
A guerra da Argélia, de 1954 a 1962, vira um drama nacional e provoca a repatriação de aproximadamente um milhão de europeus, após os acordos de Evian terem declarado a República argelina independente.
A descolonização será mais fácil na África negra, onde o decreto-lei Defferre, em 1957, preparou uma pacífica evolução política. A eclosão dos movimentos de independência sob o gaullismo resulta na criação de quatorze Estados. Todos, menos a Guiné de Sekou Touré, aceitam a ajuda e a cooperação da França.
A resistência das metrópoles é quebrada em todos os lugares: a Indonésia consegue (menos o Suriname) sua independência em 1949.
O Congo belga torna-se o Zaire em 1971. Em todos os lugares onde as metrópoles querem resistir, elas são derrotadas: a cidade indiana de Goa se liberta de Portugal, da mesma maneira que as colónias de Angola e Moçambique, após uma longa e sangrenta guerra de libertação. A Espanha só guarda algumas possessões.
O movimento mundial de libertação expressara-se pela primeira vez, com força, na Conferência de Bandoeng, de 18 a 24 de abril de 1955. Nessa cidade da Indonésia situada na parte ocidental de Java, a Birmânia, o Ceilão, a índia, o Paquistão e a Indonésia convidaram representantes dos 29 Estados da África e da Ásia, compreendendo também a China democrática cuja influência sobre o terceiro mundo em formação devia ser preponderante.
Em Bandoeng foram condenadas, não somente as formas políticas e soberanas do colonialismo, mas também a segregação racial. A Rodésia e a África do Sul encontravam-se assim ameaçadas. A conferência pedia o desarmamento atômico, encorajava os árabes a lutarem contra Israel, encorajava a resistência “neutralista” do Terceiro Mundo às duas grandes potências.
Os Estados Unidos, envolvidos com o problema negro em seu próprio território, pedem pela igualdade racial na África do Sul. Em 1980, graças ao apoio de Londres, os liberais impõem a independência da Rodésia do Sul, que se torna a República Democrática do Zimbabue.
As longas lutas raciais prolongam-se durante várias décadas na África do Sul, onde a comunidade de origem européia não quer largar o poder, até 1992, quando uma Constituição transitória permite que Nelson Mandela, Prêmio Nobel da Paz, herói da resistência negra, seja o presidente da nova República.
Dessa forma, a longa marcha da descolonização, iniciada em 1947 com a independência da índia e do Paquistão, acabará em uma eclosão de novas nações, todas ligadas, em seus princípios e em suas constituições, aos valores da ONU. O Terceiro Mundo, pego na concorrência feroz dos dois blocos, americano e russo, procurava seu caminho no neutralismo e na assistência em nível mundial. Constituiu-se pela primeira vez um movimento globalizante no palco da história.
Pequena Cronologia
Colonização
- De 1500 a 1515: Conquistas coloniais portuguesas, Brasil, ilhas do Atlântico, Goa, Málaca, Socotra, Ormuz, ilhas de Sonde, Macau.
- De 1506 a 1570: Conquistas do império colonial espanhol: as Antilhas, São Domingos, Cuba, Porto Rico, Jamaica, Panamá. Cortez no México, Pizarro no Peru. A Califórnia e a Flórida, Mendoza no Chile no Rio da Prata. Oran, Trípoli e Túnis na África do Norte, as Marianas e as Carolinas, depois as Filipinas no Pacífico.
- De 1524 a 1686: Conquista do primeiro império colonial francês: Cartier no Canadá, depois Champlain em Quebec. Nas Antilhas, São Cristóvão, Guadalupe, Martinica e oeste de São Domingos, Mississipi e Luisiana. São Luís do Senegal (1659). Fort-Dauphin em Madagáscar (1642). Pondichéry (1674) e Chandernagor na índia (1686).
- De 1583 (fundação de Terra Nova) a 1698 (criação de Calcutá, nas índias): Os ingleses conquistam suas treze colônias na América a partir do desembarque do Mayflower em 1620. Eles se estabelecem nas Antilhas (Barbados, Jamaica), nas índias em Madras e Bombaim.
- De 1619 a 1717: Os holandeses tomam, na Indonésia, as Molucas e as Célebes, Batávia e Ceilão dos portugueses. Eles fundam a colônia do Cabo, na África, Suriname e Curaçao, no Mediterrâneo americano. Eles compram um entreposto no golfo de Guiné.
- Século XVIII: Os ingleses se apossam de uma parte do domínio francês. O Tratado de Paris (1763) lhes dá as índias conquistadas por Dupleix e o Canadá. Os franceses entregam a Luisiana aos espanhóis e conservam somente Saint-Pierre-et-Miquelon e as Antilhas.
- De 1763 a 1870: A conquista se deve principalmente ao fato de a Inglaterra ter de se separar de suas colónias da América que se tornaram independentes em 1783, mas ela se estabelece na Serra Leoa, em Natal, na Costa do Ouro, na Austrália e na Nova Zelândia (1840). No Mediterrâneo, os ingleses se fixam em Gibraltar, Malta, na rota das índias, em direção ao Ceilão, conquistado. A colónia do Cabo também é tirada dos holandeses. A Birmânia e a Caxemira são britânicas. Aden abre o caminho para o Extremo Oriente, com Málaca e Cingapura, depois em 1841 Hong Kong, que se tornou um entreposto britânico na China.
- Os franceses tomam a Argélia em 1830, entrepostos na África e no Taiti.
- De 1851 a 1870, eles colonizam o Senegal, a Cochinchina e a Indochina, a Somália e a Nova Caledônia.
- De 1870 a 1919: A Europa conhece sua grande época colonial. Em 1885, a África é dividida entre as potências (que compreendem a Alemanha, Bélgica, Portugal e Espanha) no Congresso de Berlim. Os franceses têm um domínio africano e asiático, os ingleses têm a parte do leão, com seis milhões e meio de quilômetros quadrados de conquistas. Donos do Canadá e da índia, eles possuem na África o eixo Cabo-Cairo e dispõem do Canal de Suez, bem como de ilhas e de estreitos estratégicos em todos os mares. Os americanos tiraram os territórios dos espanhóis: Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam.
Descolonização
- 1946: Independência das Filipinas, reconhecida pelos Estados Unidos, mas não efetiva (bases militares).
- 1946-1954: Guerra dos franceses na Indochina, que termina com os acordos de Genebra, negociados por Pierre Mendes France.
- 1947: Independência da índia e do Paquistão.
- 1948: Secessão da Birmânia.
- 1949: Soberania reconhecida da Indonésia pelos Países Baixos.
- 1954-1962: Guerra da Argélia. A França tenta salvar a implantação de um milhão de europeus na AFN. Os acordos de Évian terminam pela retirada, após a independência proclamada da Argélia.
- Abril de 1955: Conferência de Bandoeng, afirmação do Terceiro Mundo.
- 1956 a 1970: Descolonização em cadeia das colônias britânicas. A partir de Gana. Guerra dos Mau-Mau no Quênia. Tumultos na Rodésia do Sul com a secessão dos colonos brancos em 1965.
- 1956: Independência acordada pela França para a Tunísia e para o Marrocos.
- 1956: Decreto-lei Defferre acordando a autonomia aos territórios da África e de Madagáscar, todos independentes em 1960.
- 1961: Independência do Congo belga, que se transformou no Zaire. Goa, tomada aos portugueses, volta para a índia.
- 1968: Independência da antiga Guiné espanhola.
- 1974: A Revolução dos Cravos, em Portugal, coloca um fim na guerra de independência de Angola e Moçambique.
- 1975: Independência do Suriname, antiga Guiana Holandesa.
- 1976: Divisão do Marrocos espanhol entre o Marrocos e a Mauritânia. Três anos mais tarde, o Marrocos se apossa de todo o território.
- 1991: Abolição do apartheid na África do Sul.
- 1994: Eleições livres na África do Sul. O ANC (Congresso Nacional Africano) obtém 63% das cadeiras.
- 1994: Nelson Mandela é o presidente da República da África do Sul.
Parabéns pelo trabalho.
Parabéns pela seriedade com que o autor trata cada acontecimento.
joão
nhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!