Harald Cabelo Belo, o rei viking que unificou a Noruega

(Representação visual gerada por IA)

Antes do final do século IX, o território norueguês era dividido em variados pequenos reinos ou domínios autônomos como Vestfold, Rogaland, Hordaland, Trøndelag, entre outros. Cada um desses domínios era comandado por um líder local, seja um konungr (rei) ou um jarl (conde), além das things, assembleias compostas por homens livres de proeminência. A agricultura era uma base importante das economias locais, além das atividades de pecuária, caça e pesca, o que exigia cada vez mais territórios controlados para prover a disponibilidade de recursos necessários. Os conflitos entre as regiões governadas eram frequentes, pois disputavam terras e riquezas para proporcionar o sustento dos habitantes e ampliação do poder. 

A situação passou por uma importante transformação com a pressão do crescimento populacional que reforçou as disputas territoriais, enquanto as influências aprendidas através dos contatos com outros povos europeus como os francos e anglo-saxões serviu de inspiração para a centralização política. Esse cenário favoreceu o processo de unificação, evento que destacou a figura de Harald Hårfagre ou  Harald Cabelo Belo, também conhecido como Harold I da Noruega.

Harald nasceu por volta de 850 d.C. no reino de Vestfold, localizado na região sudeste da Noruega. Ele era filho do rei Halfdan, o Negro, pertencente a uma linhagem que pretensamente descendia do próprio deus Odin. Seguindo a tradição de seu clã e os registros das sagas Heimskringla, desde cedo o jovem Harald se preparou para a liderança e para a guerra, mas uma motivação adicional determinou seus planos futuros. Quando ainda era um adolescente, Harald herdou o trono e se apaixonou pela bela Gyda, filha de um rei rival, porém a princesa recusou o pretendente justificando que somente um homem que governasse toda a Noruega seria digno dela. Aceitando o desafio, Harald decidiu dominar todos os reinos noruegueses e fez o juramento de que somente cortaria seus cabelos quando cumprisse a ambiciosa missão –  originando o apelido pelo qual ficou famoso.

Evidentemente, a conquista não foi um processo simples. Uma desgastante campanha militar e exaustivas negociações diplomáticas foram necessárias para proporcionar o progressivo domínio territorial sob o comando de Harald, que conquistou Ringerike e Hadeland, ampliando a possibilidade de se impor sobre outras regiões. Ele cumpriu o propósito de controlar a Noruega em 872, através da vitória na decisiva Batalha de Hafrsfjord, derrotando uma coalizão de reis rivais. 

Contando com o apoio de aliados leais e combativos que ele nomeou como jarls, concedendo-lhes terras e prestígio, a consolidação de seu domínio exigiu a continuidade da guerra contra focos de resistência numa luta contra rebeldes que insistiam em contestar sua legitimidade. A força militar montada pelo rei contava com um exército permanente formado por guerreiros profissionais e uma frota naval que ajudava a patrulhar a costa. Esse poder ofensivo frequentemente era empregado contra os próprios noruegueses, situação que proporcionou exílios de rivais e motivou um considerável êxodo de habitantes descontentes que migraram para lugares como a Islândia, Ilhas Faroé e Escócia. Entre as pessoas que saíram da Noruega durante o reinado de Harald estavam Aud Ketilsdóttir (conhecida como Aud, a Profunda), que representou a liderança feminina no estabelecimento de colônias vikings, e Hrólf, o Andarilho (Rollo), que foi banido das terras norueguesas e posteriormente conquistou uma posição influente entre os francos. 

Harald Hårfagre estabeleceu novas cobranças de tributos, controlou as assembleias para impor sua autoridade e padronizou leis para aprimorar o controle sobre o reino. Além disso, foi estabelecida uma monarquia hereditária em moldes diferentes da tradição viking, o que também ocasionou dificuldades sucessórias. 

Como parte de sua estratégia de alianças políticas, Harald teve várias esposas oriundas de clãs e reinos diferentes. As uniões geraram um grande número de filhos e também divergências sucessórias porque motivou rivalidades entre os descendentes reais pela falta do critério específico da primogenitura para a estabelecer a herança do poder. 

Quando o rei morreu, por volta do ano 930, a disputa entre seus filhos já estava declarada porque ao menos alguns deles tinham posições mais vantajosas para postular o trono. O filho guerreiro Eirik Blodøks ou Erik Machado Sangrento acabou assumindo o poder, mas foi derrubado pelos irmãos após um curto e tumultuado governo. Depois o poder recaiu sob o controle de seu irmão,  Haakon, o Bom, que buscou preservar ações realizadas pelo pai e tentou converter o reino ao cristianismo. Em 961, após a morte de Haakon, a unidade territorial da Noruega foi afetada por disputas internas que levaram a outra fase de fragmentação até que Olaf II Haraldsson voltasse a reunificar as terras como único rei.


Referências:

2 comentários

Os comentários estão fechados.