Al-Biruni e sua ciência sem fronteiras

(Representação visual gerada por IA)

A “Era de Ouro Islâmica” foi fase de intensa produção artística e científica nas sociedades muçulmanas durante os séculos VIII e XIII. Centros de estudos se desenvolveram e impulsionam uma verdadeira revolução intelectual no Oriente Médio, Pérsia, Ásia Central, Norte da África e em Al-Andalus (na Península Ibérica). Conhecimentos gregos, persas, indianos e mesopotâmicos foram integrados, descobertas e inovações proporcionaram avanços técnicos e resultaram em um legado inestimável para o mundo. Indivíduos notáveis foram revelados durante o contexto e o nome de Al-Biruni foi destaque entre eles.

Al-Biruni (Abu Rayhan Muhammad ibn Ahmad al-Biruni) nasceu em 973 na cidade de Kath, localizada na região de Khwarizm (atual Khorezm, no Uzbequistão). Ele foi aprendiz de notáveis sábios da região e com eles aprendeu grego, siríaco e hebraico, além dos idiomas árabe e persa. Essa base e sua natural capacidade intelectual possibilitaram seu aprofundamento em saberes de diversas procedências e seus interesses atingiram áreas variadas. Entre 990 e 998 ele atuou como integrante do corpo de sábios a serviço do emir Qabus ibn Wushmagir, um patrono das artes e ciências, mas precisou 

Sua terra natal fazia parte do Império Persa Samânida, que vivenciava um período crítico por causa dos intensos conflitos com o Império Ghaznávida (Afeganistão/Índia) e o Império Kara-Khanida (Turco), potências vizinhas em processo de expansão territorial, assim a região estava sujeita aos efeitos das circunstâncias. Em 999 ocorreu a queda dos Samânidas, situação que obrigou Al-Biruni a buscar exílio em cortes dos atuais Irã e Afeganistão, mas se dedicou ao aprofundamento de seus estudos nos locais que serviram de refúgio. Sob o serviço e proteção do sultão Mahmud de Ghazni, Al-Biruni teve a oportunidade de acompanhar expedições para a Índia, onde permaneceu de 1017 até 1030. 

Ele estudou escritos hindus como os Vedas e outras obras científicas, traduziu textos do sânscrito para o árabe e vice-versa, atuação que favoreceu o intercâmbio entre as duas culturas. Percorreu o território, descreveu a geografia e a natureza, produzindo mapas através da aplicação de cálculos de latitudes e longitude, além do emprego de técnicas e instrumentos islâmicos. Enquanto observou o ambiente, considerou que as formações geológicas eram resultados de processos como erosão, terremotos e fatores naturais e não da atuação de forças divinas. Se interessou pelas religiões da região, explorando os ensinamentos do hinduísmo, budismo e jainismo. Realizou ainda a uma minuciosa análise de práticas sociais indianas como o sistema de castas e o sati, uma tradicional imolação de viúvas. A ciência praticada na Índia foi um de seus principais focos, pois aprendeu outras abordagens de astronomia e adotou conceitos matemáticos como o zero e a trigonometria, conhecimentos que favoreceram o seu trabalho posterior. 

O acúmulo e assimilação de saberes que Al-Biruni realizou proporcionaram sua própria produção de conhecimentos em variados campos. Enquanto estava na Ìndia, aplicou métodos matemáticos para dimensionar a circunferência da Terra, obtendo um valor incrivelmente próximo ao atual, que foi obtido com técnicas e instrumentos mais avançados. Antes de Copérnico, ele questionou o geocentrismo, indicou a realização do movimento do planeta em torno de seu próprio eixo e propôs a noção da esfericidade terrestre. Produziu estudos astronômicos que conseguiram prever eclipses e aperfeiçoaram as medições do calendário islâmico. Sua matemática avançada realizou cálculos de trigonometria que puderam ajudar em processos como navegações e observações astronômicas. O emprego dos algarismos indo-arábicos, incluindo o zero, favoreceram a compreensão de seus ensinamentos e favoreceram a difusão dos conhecimentos que ele elaborou ou explanou.

Al-Biruni deixou vários escritos, embora a maioria das obras tenham se perdido. Em “Tarikh al-Hind” (“História da Índia”, escrita por volta 1030), um vasto registro de aspectos sobre sua experiência e observações realizadas enquanto viveu na Índia. A obra expressou sua abordagem que buscou explorar a observação e registro de maneira objetiva, evitando impor suas próprias referências culturais e religiosas. “O Cânone Mas’udi” (1030) aborda diversos conhecimentos astronômicos, incluindo teses inovadoras e abordagens comparativas entre conhecimentos gregos e indianos. Ele produziu obras didáticas compostas por instruções a respeito de astronomia, cálculos e práticas para os estudos dos astros, além de tratados sobre farmacologia e mineralogia. Em seus diários e correspondências com outros cientistas de seu tempo como Avicena, Abu Nasr e astrônomos indianos, várias de suas mais inovadoras teses foram debatidas com profundidade. Outras de suas importantes produções foram as traduções que ajudaram a disseminar conhecimentos entre vários estudiosos.


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