O Egito do século XIII ainda vivia sob o domínio da Dinastia dos Aiúbidas, fundada por Saladino, durante os conflitos envolvendo as Cruzadas, porém a situação era desfavorável por causa de rivalidades internas promovidas por facções e por novas pressões externas dos cruzados. A defesa egípcia dependia dos mamelucos, soldados escravos ou libertos em sua maioria de procedência turca, e comandantes dessa força começaram a ter bastante destaque e poder, fator importante para a definição de um novo cenário político.
Em 1240, ascendeu ao trono o sultão al-Salih Ayyub, último representante da dinastia a exercer o poder. Ele conseguiu negociar com as facções divergentes e se estabeleceu no comando para tentar manter a ordem naquela parte do Império Aiúbida e buscar obter importantes vitórias, mas a rivalidade das lideranças mamelucas exercia uma pressão significativa no decorrer de seu governo.
Uma figura de notável destaque que despontou no Egito islâmico de al-Salih Ayyub foi sua esposa Shajar al-Durr. Suas origens são incertas, pois há hipóteses de que ela tinha procedência turca ou armênia, tendo sido uma cristã que foi vendida como escrava ainda na infância, por volta de 1220. Ela fez parte do harém do sultão como odalisca e logo passou a ser sua concubina favorita, então obteve sua liberdade e foi finalmente promovida à condição de esposa principal. Ela detinha um papel especial de conselheira, acompanhando o marido em suas atividades políticas e conhecendo cada vez mais a respeito das complicadas relações no centro do poder em um tempo de guerra, pois na época ocorria a Sétima Cruzada (1448-1454), liderada por Luís IX, rei da França.
Shajar al-Durr, cujo nome significa “Árvore de Pérolas”, foi uma mulher ousada diante da delicada situação do Egito e tomou uma iniciativa engenhosa durante um momento crítico. Em junho de 1440, as forças dos cristãos invadiram o delta do Nilo num momento de fragilidade porque o sultão estava gravemente doente, vindo a morrer em novembro durante a campanha militar em defesa do território egípcio. Não havia herdeiro, pois o único filho do casal morreu ainda na infância, então a viúva resolveu colocar em prática um plano para manter a moral das tropas e a segurança do trono em meio à calamidade.
Ela ocultou a morte do marido e passou a administrar em seu nome, colocando o selo oficial do sultão nos documentos emitidos e emitindo decretos e ordens como se al-Salih Ayyub estivesse vivo e exercendo suas atribuições. Sob a falsa identidade do sultão, ela expediu as ordens que determinaram as ações da defesa de Al-Mansurah, cidade estratégica para a estratégia de resistência egípcia. As determinações foram enviadas para o general mameluco Baibars al-Bunduqdari, que pôs em prática o plano que Shajar al-Durr traçou para orientar as abordagens de mobilidade de unidades militares e estratégias de emboscada nas ruas de Al-Mansurah. A execução fiel do planejamento trouxe como resultado uma importante vitória contra os cruzados, incluindo a morte do comandante Robert de Artois, irmão do rei Luís IX, além de abrir caminho para uma continuada ofensiva contra dos cristãos, que foram finalmente derrotados na Batalha de Fariskur em abril de 1250, ocasião na qual o próprio rei francês foi capturado.
Turanshah, um dos filhos de al-Salih Ayyub, assumiu o posto de sultão, mas sua inexperiência e falta de habilidade levaram à sua imediata ruína e assassinato por mamelucos, então Shajar al-Durr saiu-se fortalecida como líder e proclamada sultana do Egito. Ela mandou sonhar moedas com seu nome, passou a ser mencionada nas orações e atos públicos em sua honra foram realizados para ajudar a legitimar sua posição, mas a situação de existência de um governo chefiado por uma mulher era inaceitável para significativa parte da população e em especial por parte da elite abássida.
Shajar al-Durr se casou com o líder mameluco Izz al-Din Aybak e transferiu para ele oficialmente o título de sultão como estratégia de permanecer atuando no governo de maneira informal, mas seu novo marido resolveu atuar por conta própria e a afastou do centro do poder. O sultão decidiu se casar com a filha de um poderoso opositor de Shajar al-Durr, então ela resolveu interferir e encomendou o homicídio de Aybak em 1257. Ela tentou disfarçar o crime alegando que o marido morreu repentinamente, mas foi descoberta e caiu em desgraça, sendo presa por aliados do sultão assassinado.
A sultana foi executada por espancamento em 1257 e seu corpo foi deixado exposto como uma macabra demonstração para eventuais traidores até finalmente ser sepultado no mausoléu que ela havia mandado construir anos antes no Cairo.
Referências:


[…] Shajar al-Durr, a ousada sultana do Egito […]