Frederico I Barbarossa, um notável imperador medieval

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O Sacro Império Romano-Germânico, referido pelos alemães como I Reich, foi instituído como sucessor do império de Carlos Magno em 962 por Otto I. Apesar de não ser unificado territorialmente, era constituído por territórios autônomos com seus próprios governos, mas liderados por um imperador consagrado pela Igreja Católica e indicado pelos príncipes-eleitores. O Sacro Império Romano-Germânico era considerado protetor da fé cristã da Igreja Católica e seus imperadores eram coroados pelos papas, simbolizando o vínculo desta interação política e religiosa e abrangia uma variada gama de povos europeus, incluindo germânicos, latinos e eslavos. Era uma entidade política respeitada que atuou com influência ao longo de sua existência, apesar da decadência iniciada pelo fortalecimento de potências como a França e Inglaterra e pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Sua ocorreu finalmente em 1806, quando as forças de Napoleão derrotaram o último imperador, Francisco II, e o soberano francês reordenou a situação da Europa.

Um dos mais celebrados líderes do Sacro Império Romano-Germânico foi Frederico I, conhecido como Frederico Barbarossa. Ele nasceu em Haguenau, no Ducado da Suábia, atualmente no território francês, em 1122. Seus pais, Frederico II, Duque da Suábia, e Judith da Baviera eram provenientes de duas importantes linhagens que frequentemente rivalizavam (as casas de Hohenstaufen de Welf), que realizaram uma união estratégica. Depois da morte do pai, ele assumiu o Ducado da Suábia e acompanhou o tio Conrado III na Segunda Cruzada. Apesar do fracasso militar da cruzada, a capacidade de liderança de Frederico I foi um destaque que ampliou o seu prestígio, ao ponto de Conrado III designar o sobrinho – e não seu próprio filho – como seu sucessor, garantindo uma posição privilegiada.

Ele foi eleito Rei dos Romanos em 1152 pelos príncipes-eleitores, mas o papado não reconheceu imediatamente sua autoridade por causa de disputas na Itália que refletiam sobre a atuação do comando da Igreja Católica. Isso indicava que questões internas representavam dificuldades que precisavam ser resolvidas para a afirmação de seu poder, então Barbarossa realizou uma campanha militar para intervir sobre a situação italiana, resultando na tomada de Roma e imposição de sua coroação pelo Papa Adriano IV como sacro-imperador em 1155. Frederico esperava que sua posição assegurasse autoridade sobre a Itália e a própria Igreja Católica, mas o papa e seus aliados discordavam, implicando numa relação tensa e conflituosa. A situação se agravou após a elevação do Papa Alexandre III, em 1159, pois o novo pontífice formou a Liga Lombarda contra Frederico, além de determinar sua excomunhão. O imperador reagiu estimulando a ascensão dos antipapas Victor IV e Pascal III, que eram pontífices designados por processos eleitorais paralelos e apoiados por ele, ato que promovia uma divisão interna na Igreja e visava minar o poder de Alexandre III. Os conflitos militares entre as formas de Frederico e as tropas aliadas do Papa culminaram na Batalha de Legnano em 1176, vencida pelo lado de Alexandre III. O imperador foi forçado a reconhecer a legitimidade do pontífice através da Paz de Veneza (1177) e, finalmente, cedeu de suas pretensões por meio da Paz de Constança (1183).

Enquanto lidava com o cenário italiano, Frederico Barbarossa pacificou divergências entre príncipes alemães e tentou se conciliar com o rival Henrique, o Leão, Duque da Saxônia e da Baviera, celebrando uma aliança desfeita em 1180 pela recusa do nobre em manter seu apoio diante das questões com a Itália e o papado. 

Em 1189, Barbarossa aderiu à Terceira Cruzada ou “Cruzada dos Reis” para tentar retomar Jerusalém, conquistada pelo sultão Saladino após a derrota do reino cristão que estava sob o comando da rainha Sibila de Jerusalém e de seu rei consorte Guy de Lusignan. Ele se juntou à iniciativa que contava com os monarcas Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, Filipe II da França, entre outras lideranças. O sacro-imperador encarou a cruzada diante da obrigação de atuar na condição de protetor da fé e como uma oportunidade de afirmar sua condição imperial. Ele partiu de Regensburg, na Alemanha, comandando um exército considerável composto por combatentes de várias origens e chegou a forçar a travessia desafiando os bizantinos, que recusaram a passagem de um exército tão grande em seu território.

Apesar da disposição e do efetivo que conduzia, Frederico I Barbarossa morreu mesmo antes de entrar em combate. Ele se afogou 10 de junho de 1190 enquanto tentava cruzar o Saleph na Cilícia, na atual Turquia. O incidente desestabilizou a tropa, dispersando muitos combatentes, que resolveram desistir da luta enquanto uma quantidade reduzida de cavaleiros manteve o propósito de cumprir a missão. A morte de Barbarossa e a desarticulação das tropas afetou a cruzada como um todo, pois um reforço militar considerável sequer chegou aos campos de batalha em Jerusalém.

Henrique VI, filho Barbarossa, que já ostentava o título de Rei dos Romanos desde 1169, foi coroado pelo Celestino III como Sacro Imperador Romano-Germânico em 1191. Entre os alemães, a figura de Barbarossa passou figurar também através das lendas, pois surgiu uma crença no retorno do rei-herói para salvar os germânicos das adversidades.


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