Um dos mais emblemáticos monarcas ingleses praticamente não governou o reino, pois nos quase dez anos de seu reinado, ele passou apenas seis meses em solo inglês. O ausente Ricardo I ou Ricardo Coração de Leão era, acima de tudo, um guerreiro, reconhecido como um arquétipo do cavaleiro medieval através de narrativas difundidas na cultura popular, apesar de sua ineficiência como governante e dos problemas que deixou para seu sucessor, o irmão João Sem Terra.
Ele nasceu em 1157 e era filho do rei Henrique II, fundador da Dinastia Plantageneta. Ricardo foi criado na França, nos domínios da mãe, Leonor da Aquitânia, onde iniciou sua vida de guerreiro ao assumir o comando de tropas aos 16 anos para lidar com rebeliões contra seu pai, mas esta lealdade não durou muito. Ricardo promoveu suas próprias rebeliões contra Henrique II objetivando obter maior poder e domínios em seu nome.
Incentivados pela mãe, os filhos do rei resolveram enfrentar militarmente em busca de vantagens e autonomia para que governassem as partes do reino que lhes foram destinadas, resultando em uma guerra travada entre pai e filhos em 1173 e 1174. Henrique saiu-se vitorioso do embate, impondo aos herdeiros rebeldes uma limitação de seus poderes, reduzindo seus domínios territoriais e prendendo a própria rainha, fomentadora do conflito.
Em 1183, com a morte de Henrique, o Jovem Rei, seu irmão mais velho, Ricardo assumiu a posição de herdeiro por primogenitura. Apesar disso, Henrique II, ainda motivado pela rebelião anterior, relutava diante da possibilidade de confirmar o reconhecimento como sucessor de quem o desafiou e conspirou contra seu reinado, então cogitava designar o filho mais novo, João, para dar continuidade ao comando do Império Angevino, que abrangia a Inglaterra, a Irlanda, o País de Gales e vastas regiões francesas. Ricardo não aceitou a indefinição e o risco de não herdar o trono, então voltou a confrontar o pai em mais uma mobilização militar, aliado ao rei Filipe II da França. Sob pressão e contrariado, Henrique assinou o reconhecimento de Ricardo como seu sucessor e morreu estranhamente dois dias depois desse ato, possibilitando a coroação de Ricardo I da Inglaterra, em 1189.
O novo rei partiu para a guerra longe da Inglaterra praticamente assim que assumiu o trono, indo combater durante a Terceira Cruzada (1189-1192), conhecida como “Cruzada dos Reis” porque continha outras lideranças da realeza como Filipe II da França e Frederico I Barbarossa do Sacro Império Romano-Germânico diretamente envolvidos na missão de retomada de Jerusalém, que foi conquistada pelo sultão Saladino. Ricardo empenhou muitos recursos da Inglaterra para participação na cruzada. O primeiro resultado da campanha militar foi a conquista de Chipre, que serviu de base para as expedições dos cruzados. Em seguida, os reforços acrescentados pelas tropas de Ricardo ajudaram a conquistar Acre e depois atuaram em novas batalhas que aumentaram a presença dos cristãos na área disputada. Além disso, apesar do fracasso da tentativa de retomada de Jerusalém, Ricardo recorreu à diplomacia para negociar com Saladino os termos de uma liberação para que peregrinos cristãos pudessem visitar os lugares sagrados da cidade.
Depois de cumprida a missão, Ricardo estava voltando para casa quando passou pelas proximidades de Viena e acabou sendo detido sob as ordens de Leopoldo V da Áustria. O rei guerreiro inglês viajava disfarçado na tentativa de evitar emboscadas, pois fez poderosos inimigos entre os próprios cristãos durante a guerra. As rivalidades e interesses conflitantes entre os líderes da cruzada proporcionaram relações desgastadas. Leopoldo V era desses desafetos, pois foi insultado e desafiado durante o cerco de Acre, além de divergir do comando agressivo de Ricardo, que ordenou a execução de quase 3 mil prisioneiros após o confronto pelo domínio da cidade. Sua custódia forçada foi passada para Henrique VI do Sacro Império Romano-Germânico, que manteve o rei inglês preso e exigiu um resgate de 150.000 marcos de prata, o que correspondia a mais de dois anos de arrecadação de impostos da coroa inglesa.
Além de todos os esforços tributários para sustentar as campanhas militares de seu rei, os súditos precisaram arcar com um imenso custo para libertar Ricardo, que finalmente chegou no país aclamado como um herói. Sua permanência, porém, também durou pouco e ele foi embora para mais uma nova jornada bélica, agora contra seu ex-aliado Filipe II da França tentando preservar as posses de seu império na região francesa. Esta nova investida exigiu mais uma mobilização de arrecadação e reformas administrativas para proporcionar a disponibilidade de recursos para bancar os esforços de guerra. Foi a última aventura bélica do rei, que morreu em 6 de abril de 1199, aos 41 anos, em decorrência do ferimento após ser atingido por uma flecha dias antes.
Ricardo I não teve filhos em seu casamento com Berengária de Navarra, então o sucessor legítimo era seu irmão João Sem Terra, que assumiu o trono e as dificuldades financeiras geradas pelos contínuos anos de guerra do reinado de seu antecessor. João já exercia influência na ausência de Ricardo e entrou em atrito diversas vezes com os regentes William de Longchamp, Walter de Coutances e Hubert Walter. O poder de Leonor da Aquitânia foi o elemento capaz de assegurar estabilidade interna em um reino sem seu rei. Ela também impediu manobras de usurpação tentadas por João e acabou, finalmente, garantindo a segurança da sucessão.
Referências:


[…] novamente convocados para o combate ativo durante a Cruzada dos Reis liderada por Ricardo Coração de Leão, serviram na Sexta Cruzada sob o comando de Frederico II, mas os relacionamentos entre os cruzados […]
[…] cavaleiros da Idade Média e prestou seus serviços aos reis Henrique II, Henrique o Jovem, Ricardo Coração de Leão, João Sem Terra e Henrique III. Filho do barão John Marshal, ele nasceu por volta de 1146, e […]
[…] e de seu rei consorte Guy de Lusignan. Ele se juntou à iniciativa que contava com os monarcas Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, Filipe II da França, entre outras lideranças. O sacro-imperador encarou a cruzada diante da […]
[…] dividir partes significativas de seus domínios entre os filhos mais velhos, Henrique, o Jovem Rei, Ricardo Coração de Leão, e Godofredo II, duque da Bretanha, ele acabou precisando lidar com uma rebelião de seus herdeiros […]
[…] a morte de Henrique II, quando voltou à ativa. Ela assumia o poder como regente enquanto seu filho Ricardo Coração de Leão participava de suas constantes campanhas militares e partiu para a Terceira Cruzada até nunca mais […]
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