O nome e as façanhas de Freydís Eiríksdóttir sobrevivem através dos tempos entre a história e as lendas, retratada como uma figura ao mesmo tempo heroica, brutal e de caráter duvidoso. Ela nasceu na Islândia, mas foi parar na Groenlândia ainda criança, acompanhando a família depois que seu pai foi condenado ao exílio como pena por um homicídio, por volta do ano 985.
A chegada da família no novo destino foi um ato de pioneirismo, pois seu pai, Erik, o Vermelho, foi fundador da primeira colônia na Groenlândia. O impulso desbravador acabou fazendo parte da família, pois os filhos de Eric também se envolveram em aventuras através de mares e terras desconhecidas, com destaque para Leif Erikson, também celebrado como provável primeiro europeu nas terras continentais da futura América.
Freydís se habituou a uma vida intensa e isso fez de sua própria experiência uma jornada incrível. Contrariando as expectativas convencionais para as mulheres nórdicas, que se dedicavam aos afazeres domésticos, além de trabalhos artesanais e agrícolas, ela assumiu um papel ativo em expedições, combates e ambientes decisórios constituídos por homens.
Depois do sucesso da iniciativa desbravadora liderada pelo irmão Leif Erikson, foi fundada a colônia de Vinland em terras situadas no atual Canadá, por volta do ano 1000. O feito proporcionou glórias para Leif, mas as expedições posteriores para o novo assentamento também custaram as vidas de seus irmãos Thorvald Eiriksson e Thorstein Eiriksson, mortos em infortúnios durante es viagens. Freydís Eiríksdóttir era a irmã mais jovem e queria fazer parte das jornadas para Vinland e obter suas próprias conquistas por lá.
Formar uma expedição era um processo complexo, pois exigia planejamento, recursos para dispor de mantimentos e embarcações bem constituídas para suportar a travessia, além da necessidade de arregimentar pessoas dispostas a encarar a aventura com perspectivas de obter vantagens pelos riscos. Freydís conseguiu convencer a dupla Helgi e Finnbogi como sócios da empreitada e finalmente montaram uma expedição por volta do ano 1010. O acordo previa participações em condições equilibradas dos sócios, que deveriam recrutar as mesmas quantidades de colonos e proporcionar uma divisão igualitária dos lucros pela exploração dos recursos obtidos no assentamento.
De acordo com a “Saga dos Groenlandeses”, ela resolveu burlar o acerto levando mais pessoas do que o combinado, gerando conflitos entre os sócios. Mas o pior de tudo foi sua a trama de mobilizar Thorvard, seu marido, e outros homens de seu grupo para executar um massacre de Helgi, Finnbogi e os integrantes de sua comitiva, atacados desprevenidos enquanto dormiam. A saga narra que os agressores comandados por Freydís se recusaram a matar as mulheres, então ela se encarregou pessoalmente de realizar estes assassinatos. Quando somente o seu grupo voltou para a Islândia com fartura de bens (incluindo o que foi roubado dos acampamentos dos ex-sócios), dúvidas pairaram sobre o que teria acontecido, mas Freydís impôs emaças de morte a quem revelasse o que se passou em Vinland.
O segredo não foi mantido por muito tempo, mas Leif Erikson, líder da comunidade, que havia previsto que o destino da irmã seria sangrento e que seus descendentes amargariam infortúnios, não aplicou nenhuma punição direta. Apesar disso, Freydís, Thorvard e seus filhos foram tratados como párias e tiveram um destino obscuro, sumindo dos registros.
A mesma Freydís retratada como uma figura vil na “Saga dos Groenlandeses” é brevemente apresentada na “Saga de Erik, o Vermelho” como uma mulher de extraordinária coragem, que enfrentou sozinha um grupo de nativos que ameaçavam os integrantes de seu grupo no assentamento enquanto muitos de seus homens já fugiam em pânico. A narrativa descreve que uma protetora Freydís, em plena fase final de gravidez, se posicionou diante dos indígenas batendo com uma espada em seus seios nus enquanto desafiava aqueles que cercavam o acampamento. Sua atitude brava causou tanto impacto que os atacantes resolveram recuar e assim ela salvou seus companheiros de assentamento.
Freydís Eiríksdóttir é uma figura marcante nos registros nórdicos por sua posição incomum de uma mulher num contexto arriscado e brutal dominado por homens, sendo uma guerreira e exploradora que articulou bravura e também a vilania. Sua atuação narrada através de sagas não confirma sua existência histórica, mas não nega sua relevância como personagem complexa entre os vikings mais conhecidos.
Referências:


[…] Freydís Eiríksdóttir, irmã de Leif Erikson, é lembrada como uma figura contraditória nas sagas vikings. Destemida e envolvida em expedições perigosas, ela é descrita tanto como heroína quanto como vilã. Em uma saga, lidera um massacre brutal para garantir sua própria sobrevivência; em outra, demonstra coragem extraordinária ao enfrentar sozinha inimigos durante sua gravidez. Descubra a história dessa mulher complexa, que desafiou as convenções e fez seu nome entre os mai… […]
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