Irene de Atenas, a icônica imperatriz bizantina

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O Império Bizantino estava agitado nos idos do final do século VIII, com distúrbios internos em torno de temas religiosos e ameaçadoras pressões externas quando Irene de Atenas chegou à Constantinopla para se casar com o co-imperador Leão IV, filho de Constantino V, efetivando uma união arranjada politicamente. Irene nasceu por volta de 750, integrante da poderosa família Sarantapechos, e assumiu a condição de imperatriz consorte dos bizantinos em 769. 

Os bizantinos estavam diante de uma conflituosa controvérsia religiosa em torno da veneração de ícones, imagens de figuras sagradas muito presentes entre os cristãos na região. Os iconófilos defendiam a prática de utilizar tais artefatos nas liturgias porque elas tinham um significado além da representação artística, pois representavam a presença divina. Os iconoclastas apontavam a prática como uma heresia, pois interpretavam o uso dos ícones como um ato de idolatria. As divergências entre os dois lados acabaram tomando uma dimensão política, com a intervenção do próprio imperador da questão. Constantino V adotou o lado iconoclasta e passou a reprimir o uso dos ícones religiosos, mas quando seu filho, Leão IV, assumiu o trono como único imperador reinante, resolveu assumir uma postura moderada, permitindo o antigo costume que remontava ao cristianismo primitivo e reduzindo as perseguições. 

Leão IV precisou defender o império das ameaças representadas pelos árabes e pelos búlgaros, recorrendo a um intenso esforço diplomático combinado com estratégias militares. Ele providenciou casamentos para firmar alianças, mas também encarou a necessidade de enfrentamentos nos campos de batalha, principalmente contra os árabes. 

O rei que estava diante dos desafios de aprimorar a administração do império, assegurar sua integridade diante do cenário externo e resolver as desavenças religiosas, acabou morrendo aos 30 anos de idade, em 780, deixando seu filho, Constantino VI, muito jovem para assumir o poder. A situação exigiu que Irene assumisse a condição de figura reinante, tomando o poder num cenário desafiador.

De imediato, ela precisou lidar com rebeliões que estouraram em várias partes do império, sendo testes importantes para demonstrar sua firmeza como governante. Ela conseguiu sufocar os focos de resistência e encarou outros esforços difíceis, como resolver a desgastante polêmica religiosa em torno dos ícones. O Segundo Concílio de Niceia foi convocado pela imperatriz em 787, que acabou definindo a restauração da veneração dos ícones, realização que ela, defensora pessoal da veneração dos ícones sagrados, encaminhou para encerrar uma questão que estava dividindo a população. 

Irene foi se apegando firmemente ao poder e a condição de governar até ceder o trono para o filho já não agradava. Constantino VI tentou assumir seu direito  legítimo de comandar o império em 790, mas ela insistiu em governar ao seu lado como uma influência predominante que reduzia a relevância do filho. A solução para o problema ocorreu de maneira drástica, quando Constantino VI foi vítima de uma conspiração, sendo capturado e cego. Diante da situação, Irene acabou voltando a figurar como única governante do império, retomando seus próprios planos de poder. 

A imperatriz adotou medidas para agradar as pessoas das camadas mais baixas da sociedade, distribuindo dinheiro, reduzindo impostos e promovendo ações assistencialistas. Em uma manobra ousada para estreitar os vínculos diplomáticos, Irene propôs casamento ao poderoso Carlos Magno, mas a iniciativa não deu certo porque foi duramente combatida pela nobreza bizantina e alimentou uma trama que foi bem explorada por seus vários inimigos, que articularam um golpe contra ela. Irene acabou sendo deposta por um complô da nobreza em 802 e foi exilada para a ilha de Lesbos, onde acabou morrendo no ano seguinte, tendo por volta de 52 anos de idade.

Enquanto reinava, Irene mantinha uma forte ligação com o alto clero, designando seus líderes e atuando com o apoio institucional da igreja, que ajudava a legitimar seu poder. A imperatriz ampliou a estrutura e alcance religioso construindo templos e mosteiros. Os benefícios que ela promoveu em favor da igreja renderam posteriormente sua canonização como santa pela Igreja Ortodoxa.


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