Entre a História e a lenda: Quem foi Sun Tzu?

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O general e filósofo chinês Sun Tzu, também conhecido como Sun Wu, seu nome de nascimento, ou ainda por Changqing, nome recebido na corte imperial, é reconhecido como um dos mais notáveis estrategistas militares.

Apesar de sua notoriedade, as informações sobre sua vida e carreira são escassas ou sujeitas a debates. Ele viveu possivelmente entre 544–496 a.C. durante a fase inicial do turbulento período dos Estados Combatentes, quando a China experimentou uma intensa guerra interna entre os estados feudais que culminou com sua unificação sob o governo de Qin Shi Huangdi em 221 a.C. Sun Tzu serviu como general ao rei Helü de Wu e foi creditado por importantes êxitos do exército do reino, com destaque ao seu comando durante a Batalha de Boju, quando as forças de Wu derrotaram o poderoso estado rival de Chu. O comandante era tido como cuidadoso em relação aos mínimos detalhes, desde a formação e treinamento ao desempenho das movimentações e táticas de atuação durante os combates. Ele era tão obcecado pela preparação para a luta que chegou a converter o harém de concubinas do rei em uma unidade de combatentes disciplinadas e preparadas para a ação.

Ele reuniu aspectos de sua experiência militar e percepção estratégica numa compilação de ensinamentos distribuídos em 13 capítulos, dedicados a aspectos essenciais da guerra, envolvendo planejamento, estratégia, tática, movimentação de tropas, reconhecimento e uso do terreno, uso dos recursos, diplomacia, espionagem, métodos para enganar os oponentes e apreciações de natureza filosófica e psicológica para o exercício da liderança e sabedoria para lidar com os desafios dos conflitos.

Seu tratado abrangente introduziu abordagens e conceitos inovadores. Para ele, a guerra não era apenas uma disputa de forças físicas, mas também um confronto psicológico, então prescreveu a inteligência acima da força como principal e decisivo fator para a obtenção de vitórias. O general considerava que uma guerra era primeiramente travada na mente e na estratégia dos líderes antes de ser levada ao campo de batalha, o que ilustrava seu argumento de que um exército vitorioso ganhava antes da própria luta, enquanto o perdedor lutava antes de realmente buscar a vitória. 

Sun Tzu via a guerra como uma questão crucial para a vida ou morte do Estado e os soldados estavam na base do poder militar que garantiria sua sobrevivência. Por isso os soldados deveriam ser motivados e tratados como “filhos” pelos senhores da guerra para inspirar lealdade e inspirar determinação.

A morte na guerra é um aspecto preocupante e inevitável, então Sun Tzu tinha uma visão pragmática a este respeito. O medo da morte deveria ser explorado como fator motivador para proporcionar o máximo dos soldados, que tenderiam a lutar com maior determinação quando o perigo era mais acentuado. A ocorrência das baixas seriam custos próprios da guerra e por isso precisariam ser minimizadas para evitar instabilidades entre as tropas. Apesar disso, Sun Tzu considerava que o grande objetivo de um comandante deveria ser preservar vidas através da atuação eficiente e estratégica para evitar os confrontos sangrentos. Ele desprezada as guerras movidas pela vaidade e ira dos líderes e o prolongamento desnecessário delas, pois a guerra só seria honrosa se servisse para proteger o Estado e o povo.

Mesmo considerando sua relevância, a obra “A Arte da Guerra” é objeto de discussões que colocam em questão se Sun Tzu foi autor único de seu conteúdo ou se esta produção reuniu saberes acumulados e produzidos por vários estrategistas ao longo dos tempos. Além disso, a falta de registros contemporâneos sobre a vida do general e o fato de citações a seu respeito só surgirem muito tempo depois do período atribuído à sua existência suscitam dúvidas sobre a autenticidade da atribuição de sua autoria.

Se Sun Tzu existiu como o imaginado, o texto tido como seu trabalho é de qualquer forma um magnífico trabalho de análise sobre o próprio comportamento humano diante da antiga prática da guerra.


Referências: