Bruxaria em diversas culturas, lendas e tradições

A bruxaria é uma atividade sobrenatural misteriosa e controversa presente em diversas culturas ao redor do mundo. Bruxas e bruxos são frequentemente associados a saberes ocultos e poderes mágicos extraordinários, capazes de alterar a normalidade da natureza e promover fenômenos além da compreensão humana. As características dessas figuras podem variar conforme as referências de cada tradição em que estejam presentes nas suas múltiplas formas, representações e equivalências.

Variando os contextos, podem ser identificadas como bruxas ou equivalentes as figuras humanas que manejam os conhecimentos e ritos misteriosos dos feitiços, da conexão com forças ocultas e da capacidade de vislumbrar aquilo que os sentidos humanos comuns não podem alcançar, e há ainda as entidades lendárias, espectrais e de outras naturezas existenciais dotadas desses e de outros atributos e poderes inexplicáveis.  

Bruxas e bruxos habitam a história, o folclore, a imaginação e as artes de muitos povos em suas ricas e reveladoras faces, cores, símbolos, mensagens e perspectivas diante do bem e do mal, da vida e da morte, do real e da magia.

Confira alguns exemplos de representantes lendários e praticantes da bruxaria em culturas diferentes.

A Bruxa Europeia

Se há uma referência imediata para identificar e reconhecer uma bruxa, as representantes da Europa medieval são inevitáveis. Os anos de perseguições proporcionaram muitos estigmas e estereótipos, que fundamentaram no imaginário coletivo a aparência de velhas de aspecto grotesco ou de jovens sedutoras praticantes de magia negra. Elas foram vinculadas aos poderes sombrios e infernais e, apesar de dotadas de saberes milenares, vivem à margem da sociedade tramando ações maléficas em suas práticas perturbadoras e sinistras.

Circe

A feiticeira mitológica da Grécia – Filha do titã Hélio e da oceânide Perseis, estava presente em muitos mitos gregos. Sua encantadora beleza poderia esconder o perigo de sua atuação, pois encantava muitas de suas vítimas antes de realizar suas ações perversas. Seu conhecimento sobre os preparos e poções dá a capacidade de produzir todo tipo de substância para feitiços variados. Ela era capaz de transformar homens em porcos e consegui até enfeitiçar outras figuras míticas.

Yamauba

As velhas bruxas do folclore japonês habitavam as montanhas, abrigadas em cabanas onde viviam solitárias. Dotadas do poder de mudar de aparência, elas apareciam como bonitas e sedutoras jovens para enganar os homens ou assumiam outras aparências para perambular entre a população. Os feitiços que realizavam poderiam ter propósitos maléficos ou benéfico, dependendo das intenções e ressaltando a ambiguidade moral do comportamento dessas bruxas. Em algumas lendas elas são retratadas como devoradoras de crianças.

Bokor

Os temidos feiticeiros do vodu haitiano são notáveis por suas habilidades na magia obscura, na manipulação das forças espirituais e por suas poderosas maldições. A mais destacada de suas atividades é a transformação de zumbis, processo de reanima os mortos que ficam à disposição de suas ordens. São exímios na produção de poções mágicas e venenos.

La Sayona

Também conhecida como Melissa ou Casilda era uma bela mulher que vivia em uma vila venezuelana com seu marido e filhos, mas sua felicidade foi arruinada quando soube da infidelidade de seu companheiro. Para piorar a situação, o adúltero traia a esposa com a mãe dela. Tomada por uma fúria incontrolável, a mulher duplamente traída resolveu se vingar violentamente matando quem a decepcionou de maneira tão sórdida, mas as últimas palavras de sua mãe foram uma maldição que a condenou a vagar como um espírito raivoso. La Sayona passou a ser uma entidade vingativa com poderes sobrenaturais e o hábito de seduzir homens infiéis para assustar, ferir ou matar como forma de exercer sua missão. Sua capacidade de enfeitiçar era direcionada aos seus alvos específicos.

Sangoma

Feiticeiros feiticeiros benfeitores, além dos habituais conhecimentos sobre as plantas e materiais para produção de poções, eles se comunicam com os espíritos, realizam adivinhações e preparam encantos. Eles são escolhidos pelas forças espirituais e recusar o chamado pode ser fatal. A antiga tradição dos bruxos africanos ainda persiste em algumas regiões da África do Sul, Zimbabwe, Moçambique, Lesoto e Eswatini.

Cihuateteo

A mitologia asteca é rica em entidades mágicas e feitiços. Entre os seres capazes de enfeitiçar e causar efeitos sobre os vivos estão as Cihuateteo, aterrorizantes figuras femininas que assombram a noite em busca de vítimas, que podem ser crianças para sequestrar ou homens para seduzir. Elas enlouqueciam ou amaldiçoavam os infelizes e seus feitiços malignos provocavam doenças que afetavam famílias inteiras. Vinculadas à deusa Tlazolteotl e ao senhor do submundo, o deus Mictlantecuhtli, elas foram mulheres que morreram no parto e trazem consigo, assim como outras figuras lendárias do universo da bruxaria, uma dimensão de tragicidade à sua atuação enfeitiçada.

Baba Yaga

Esta figura aterrorizante do folclore eslavo, descrita como uma velha bruxa ou ogra que se alimenta de carne humana, vive em uma casa ambulante adornada com crânios humanos. Ela é conhecida por capturar vítimas inocentes e usar um pilão para esmagá-las. Habitando bosques e florestas, Baba Yaga protege a natureza de invasores. Sua imagem foi documentada a partir do século 17, e ela também aparece em contos como a história russa de Vasilia, onde impõe tarefas impossíveis que, quando superadas, resultam em um benefício mágico. Ainda hoje, histórias sobre Baba Yaga são usadas para assustar crianças na Rússia e no Leste Europeu.

Maria Perpétua

Algumas mulheres foram acusadas de bruxaria e acabaram convivendo com uma reputação muito negativa a exemplo de Maria Perpétua, nascida em Portugal em 1790. Após a morte de seu primeiro marido, mudou-se para o Brasil, casando-se novamente e fixando-se na Ilha de São Sebastião. Lá, envolveu-se com o ocultismo, ganhando fama e fortuna com adivinhações e poções mágicas. Sua crescente notoriedade atraiu forasteiros e preocupou os habitantes locais, resultando em sua denúncia por bruxaria em 1812. Acusada de enfeitiçar e causar a morte de uma escrava, sua casa foi investigada, e evidências incriminatórias foram encontradas. Embora tenha sido presa, foi rapidamente libertada devido à sua influência. Em 1817, Maria Perpétua morreu após ser esfaqueada pelo marido, mas seu legado de “feiticeira” perdura, sendo lembrada na praia que leva seu nome em Ilhabela.

Cumacanga

Nas lendas brasileiras, a estranha e terrível Cumacanga figura como outro exemplo marcante do poder da maldição e do feitiço. Há quem diga que ela foi uma mulher de conduta indigna, levando uma vida lasciva adúltera e incestuosa que foi amaldiçoada por seus atos. Também existe a versão de que foi uma bruxa flagrada realizando seus rituais proibidos e ainda a condição de quem foi amante profana de um padre ou ainda a sétima filha decorrente desta união pecaminosa. De qualquer forma, a tal mulher foi transformada numa entidade horripilante, que aparece como uma cabeça flamejante flutuando pelos ares enquanto o seu corpo está imóvel. A bruxa em chamas aterroriza e persegue aqueles que estão fora de casa além da hora do recolhimento noturno.

Tituba

Tituba era uma escrava em Salem, Massachusetts, que foi acusada de bruxaria durante os Julgamentos das Bruxas de Salem de 1691 e 1692. Ela foi uma das primeiras pessoas a serem perseguidas nos julgamentos e foi fundamental nos julgamentos porque confessou praticar bruxaria. Tituba foi trazida de Barbados para Massachusetts colonial por Samuel Parris, o ministro da vila de Salem. Ela provavelmente era descendente de nativos sul-americanos e era propriedade de Parris. Sua confissão provocou a histeria em toda a cidade que logo se tornaria o Julgamento das Bruxas de Salem e, neste período de dois anos, 144 pessoas foram acusadas de feitiçaria, incluindo 19 que foram mortas após serem condenadas por bruxaria, a maioria mulheres.

Völvas

Feiticeiras, sábias e profetisas, eles dominavam os saberes e segredos do de Seidr, a elevada magia viking. Elas interpretavam ou agiam para manipular o destino. Elas invocavam espíritos e podiam mediar as relações entre o plano terreno e o sobrenatural. Seus poderes eram empregados para o bem ou para o mal através das habilidades de enfeitiçar, amaldiçoar ou direcionar o futuro. Elas manejavam runas, ossos e outros objetos ritualísticos em suas práticas, conheciam profundamente os processos e elaborações de poções e produziam amuletos protetores. Entre seus dons estava a capacidade de realização de verdadeiras viagens espirituais, pois seus espíritos podiam deixar os corpos e ser transportados para o além nos momentos de transe profundo.