Amor proibido e exílio selvagem: A trágica história de Marguerite de La Rocque

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Uma das punições mais severas aplicadas durante a era das navegações era o abandono de tripulantes ou passageiros que infringissem as regras estabelecidas para a realização da viagem. Estas pessoas eram deixadas em condições precárias em lugares isolados e sem a perspectiva de um resgate. Variadas situações poderiam resultar neste castigo severo, seja por causa de desobediência e insubordinação ou por razões comportamentais como conduta sexual tida como não apropriada.

Um caso famoso de banimento ou exílio forçado em uma ilha deserta envolveu a nobre francesa Marguerite de La Rocque, que viveu de 1542 a 1544 em uma ilha deserta ao ser deixada em tal situação como um castigo. A senhora era proprietária de terras em Périgord e Languedoc e de um domínio na colônia concedido pelo rei Francisco I, mas ela tinha que compartilhar a propriedade de seus bens com Jean-François de La Rocque de Roberval, um corsário favorecido pelo monarca. A relação entre Marguerite e Roberval era de parentesco não devidamente esclarecido pela falta de informações definidas, podendo ser irmãos, primos ou sobrinha e tio, dependendo da fonte.

Roberval foi designado tenente-general e encarregado de comandar uma expedição e missão colonizadora na Nova França, área explorada pelo reino na América, e levou Marguerite na viagem. As coisas não transcorreram bem entre os parentes e Roberval acusou Marguerite de comportamento indecente, pois iniciou um romance com um marinheiro, o que foi considerado inaceitável e indecente pelo comandante, que julgou e determinou o abandono de Marguerite, do amante e de uma criada chamada Damienne na já infame Île des Démons (Ilha dos Demônios). O trio dispunha apenas de algumas provisões no ato do abandono, incluindo alimentos, um mosquete, pólvora, facas e uma Bíblia, item que costumava fazer parte dos recursos deixados com os abandonados.

A vida na ilha foi marcada por condições desafiadoras e trágicas. Durante os primeiros meses de confinamento Marguerite engravidou, mas a situação ficou ainda mais complexa quando a criada e o homem morreram antes do nascimento do bebê, que acabou também não resistindo depois do parto. Ela teve que lidar sozinha com os problemas encontrados na luta diária pela sobrevivência num ambiente hostil e selvagem, abrigada em uma caverna e precisando obter alimento por conta própria até ser finalmente encontrada por um grupo de exploradores que pescavam nos arredores da ilha.

Depois de resgatada e acolhida provisoriamente até ser enviada de volta à França, ela estabeleceu na cidade de Nontron, onde fundou uma escola para meninas e passou a viver discretamente no Chateau de La Mothe, não buscando reparações por parte de Roberval por causa de toda situação e sofrimento que ele provocou ao ordenar o abandono. Sua história de sobrevivência foi contada por pessoas que tiveram contato com ela até ser registrada pelos cronistas André Thevet e François de Belleforest, além da rainha Margarida de Navarra, que se impressionou com a história e a incluiu em sua obra “Heptaméron” (1558).

As narrativas publicadas podem até ter incluído episódios fictícios, mas a experiência de Marguerite de La Rocque foi dramática e extraordinária de qualquer maneira. Não persistiram registros sobre ela desde o restabelecimento na França e opção por uma vida reservada e fontes não indicam até quando ela viveu.


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