Delphine LaLaurie e a Mansão da Morte

(representação visual gerada pela IA Leonardo)

Alguns traços marcantes nos comportamentos de notórios psicopatas conhecidos por seus atos brutais podem englobar a falta de empatia, alta capacidade de manipulação, egocentrismo e habilidades de manter uma fachada diante das outras pessoas para encobrir práticas hediondas. Embora seja especulativo afirmar algo tão contundente sobre a natureza de alguém cuja existência se distancia no tempo, figuras como Delphine LaLaurie (1787-1851) podem suscitar suspeitas por causa de práticas cruéis sistemáticas com resultados chocantes.

Nascida Marie Delphine Macarty, oriunda de uma família respeitável de Nova Orleans, tinha uma ascendência franco-hispânica comum entre os bem-nascidos da região e teve logo cedo instruções básicas para a vida entre camadas favorecidas da sociedade. Ela se casou no fim de sua infância, aos 13 anos de idade, com Don Ramón de Lopez y Angulo, um oficial espanhol muito mais velho, situação comum nos casamentos arranjados da época. Sua primeira união durou apenas 3 anos, deixando a jovem viúva com uma criança e uma herança moderada. Voltando a se casar aos 21 anos com o rico banqueiro e político Jean Blanque, vivenciou uma notável ascensão social e passou a frequentar as altas rodas da elite. Ela teve mais 4 filhos com o magnata, mas ficou viúva novamente em 1816, passando a assumir o controle da fortuna e dos negócios do finado marido.

Ela voltou a casar em 1825 com o médico Leonard Louis Nicolas LaLaurie, que era 15 anos mais jovem, situação que costumava causar alguns comentários na sociedade com acentuadas influências de uma mentalidade paternalista que tratava de forma desigual a relação na qual a mulher era significativamente mais velha que o homem. Além disso, a fortuna da esposa era consideravelmente superior aos meios do jovem doutor recém-chegado da França. De qualquer forma, o casal seguiu com seu relacionamento e suas interações entre os endinheirados locais e até firmaram residência no agitado French Quarter. 

As aparências eram importantes para a senhora da Mansão LaLaurie, que preservava uma reputação de pessoa importante e influente, digna de elevada respeitabilidade que cultivava sob uma conduta cortês e sofisticada diante do público enquanto omitia um comportamento muito diferente fora das vistas de seus pares da alta sociedade. O que somente alguns dos mais desconfiados imaginavam era que a Madame LaLaurie não era a pessoa digna que parecia ser e um episódio trágico acabou revelando para Nova Orleans inteira a verdadeira natureza daquela mulher rica e poderosa.

No fatídico 10 de abril de 1834 um incêndio atingiu a mansão, mas o fogo que destruiu parcialmente a luxuosa residência de Delphine LaLaurie denunciou que no interior daquele ambiente funcionava um centro de horrores indescritíveis. Durante a ação do resgate, testemunhas se deparam com escravos da aristocrata em condições estarrecedoras de absurdos abusos, com mutilações severas e em situação de confinamento desumano e degradante. O incêndio foi provocado por uma de suas escravas, uma mulher idosa que vivia acorrentada na cozinha e que decidiu iniciar o fogo como medida desesperada para fugir. Depois de controladas as chamas, as autoridades acabaram vasculhando a propriedade e encontraram provas contundentes de que o local funcionava como uma câmara de tortura e cárcere no qual pessoas eram mantidas sob domínio violento durante prolongado tempo. Para agravar a situação foram identificadas covas clandestinas nas quais foram enterradas vítimas da Madame LaLaurie.

As vítimas confirmaram que a própria senhora aplicava as torturas e foi responsável por assassinatos. Também foi dito que as próprias filhas da mulher também sofriam agressões quando flagradas tentando ajudar os escravos que estavam passando pelos dolorosos castigos sem justificativa ou sentido. Apesar das evidências e testemunhos, a autora dos crimes conseguiu fugir da cidade antes de ter sua prisão decretada e enquanto moradores revoltados promoviam protestos exigindo sua captura. Os jornais da época destacaram bastante o episódio do incêndio e a situação que envolvia a vida real no interior da mansão da morte e a dona da casa foi retratada como uma figura monstruosa, merecendo até a qualificação como “demônio em forma de mulher”.

Delphine LaLaurie e sua família conseguiram chegar até Nova York, de onde partiram para a Europa. Ela passou a viver anonimamente na França, longe de qualquer punição por seus crimes bárbaros. A madame sádica morreu impune em Paris aos 62 anos de idade.

A sangrenta senhora LaLaurie inspirou diversas histórias macabras, destacando a série “American Horror Story”, que apresentou uma versão ficcional da sádica torturadora e assassina. A Mansão LaLaurie virou um ponto turístico sombrio na cidade de Nova Orleans, colecionando histórias de assombração e fantasmas.


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