Joana Angélica, a freira heroína da Independência do Brasil

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

A freira baiana Joana Angélica de Jesus (1762-1822) é uma heroína brasileira devidamente inscrita no Livro de Aço dos Heróis e Heroínas da Pátria em reconhecimento à sua brava atuação em defesa da Independência do Brasil. Nascida em Salvador, filha de uma família de posses, desde jovem abraçou a vocação religiosa e em 1782 acabou se tornando noviça no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, em sua cidade natal. Era uma figura ativa no convento, assumindo tarefas e responsabilidades no exercício de suas funções desde escrivã até se tornar abadessa, assumindo assim a direção da instituição.

Ela viveu num período de transformações. O status do Brasil mudou bastante desde o retorno do rei D. João VI para Portugal, pois a condição de colônia já não era mais aceita por significativa parte da população. Em abril de 1821, as Cortes Portuguesas deram um ultimato a D. Pedro, exigindo seu retorno para a Europa, numa demonstração de que a disposição oficial era de retomar a condição do Brasil à submissão colonial. Esta possibilidade infamou os ânimos daqueles que não aceitavam mais a colonização brasileira por Portugal e logo o clima ficou tenso, com clamores em favor da independência cada vez mais firmes. Na Bahia o cenário ficou ainda mais agitado quando o governo de Portugal designou o militar lusitano Madeira de Melo para o comando em Salvador, situação rejeitada pelas lideranças locais. A antiga capital da colônia abrigava brasileiros que desejavam a independência e muitos portugueses fiéis aos interesses do reino, situação que favorecia as tensões.

As agitações na cidade levaram ao confronto entre os dois grupos e a madre superiora do convento acabou no meio da luta. A freira era uma figura respeitada por sua posição e pela vivência que consolidou ao longo de sua carreira no local que era mais do que sua residência ou ambiente de sua atuação religiosa, pois tinha um significado além dessas circunstâncias. Durante os atos do conflito armado entre defensores da independência e adeptos do domínio português, o convento virou cenário da ação porque os soldados decidiram invadir suas instalações alegando que por lá estava abrigado um grupo de rebeldes.

Joana Angélica reagiu, impondo ela mesma uma barreira para o avanço dos militares que pretendiam ir até o claustro do convento, local que resguardava as irmãs. A madre se posicionou diante da porta e confrontou os soldados a serviço de Portugal, ordenando que se retirassem e além disso ela os desafiou: “Só entrarão passando por cima do meu cadáver!” O grupo armado não se intimidou e foi exatamente o que fizeram, pois algum deles acabou assassinando a freira com um golpe de baioneta no fim da manhã de 20 de fevereiro de 1822.

A comoção que o episódio causou foi enorme, afinal, contra os militares portugueses pesou a revolta pelo ato de covardia do assassinato de uma mulher de 60 anos e indefesa que ainda por cima era uma freira que estava no interior de um ambiente religioso. O brutal assassinato da madre do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa agravou a já avançada corrosão da simpatia pelo domínio português na Bahia, dando ainda mais impulso aos que defendiam a independência. A corajosa Joana Angélica de Jesus foi logo aclamada como uma verdadeira mártir da independência.


Referências: