Athanasius Kircher, um jesuíta do século XVII sedento por conhecimento

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Athanasius Kircher (1602-1680) era um polímata, isto é, alguém dotado de um vasto conhecimento em diversas áreas. Durante o período do Renascimento esta era uma qualidade bastante reconhecida, associada aos grandes mestre e gênios. Ele nasceu em Fulda, na Alemanha, onde iniciou sua instrução formal num colégio jesuíta. Aos 16 anos ele ingressou na ordem religiosa e foi aprofundar sua formação, estudando humanidades, matemática, ciências naturais e idiomas, mas precisou interromper temporariamente seus estudos quando eclodiu a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), fazendo com que ele fugisse para concluir a formalização de sua instrução em Colônia, em 1623. Posteriormente, num seminário em Mainz, ele efetivou sua qualificação teológica e foi ordenado sacerdote em 1628. Mesmo já tendo passado por um profundo processo educacional, ele continuou motivado a seguir estudando e descobrindo novos conhecimentos, levando o padre e professor da Universidade de Würzburg a seguir em sua busca por novos horizontes intelectuais, realizando seus estudos em medicina. 

A guerra em torno de interesses políticos, religiosos e territoriais que envolvia França, Inglaterra, Espanha, os principados e estados que compunham a Alemanha, Dinamarca, Países Baixos, Áustria e Suécia propiciou um ambiente complicado para um sacerdote católico em território alemão, levando Athanasius Kircher a ir embora. Ele trabalhou nas cidades francesas de Lyon e Avignon, lecionando matemática, filosofia natural e línguas orientais em instituições jesuítas e em 1633 foi para Roma, onde continuou a exercer seu trabalho como professor e onde encontrou condições para desenvolver suas pesquisas.

Kircher tinha diversos interesses e disposição para estudar de tudo. Foi um dos pioneiros nos estudos microbiológicos, estabelecendo uma teoria avançada para a época que concluía que as pestes eram transmitidas por microrganismos infecciosos, antecipando um conhecimento que seria aprofundado muito tempo depois, com o acúmulo de mais descobertas e do aprimoramento tecnológico dos microscópios. Ele defendia a higienização dos ambientes como medida preventiva para conter a proliferação dos agentes patológicos, além do isolamento dos infectados, providências que são plenamente reconhecidas até atualmente.

Ele resolveu ainda estudar os hieróglifos egípcios com o objetivo de decifrar as informações contidas nos antigos registros, apesar de achar que não eram um sistema de escrita fonética e sim uma codificação simbólica de ideias universais. Apesar de estar equivocado, ele foi um dos primeiros estudiosos interessados naquilo que depois veio a se tornar a egiptologia.

Como físico, ele estudou principalmente óptica, explorando os fenômenos por trás do experimento com uma “lanterna mágica”, dispositivo precursor dos projetores, que ele montou a partir da ideia que já existia e que fascinava os curiosos da época. Dos estudos experimentais com a óptica, ele publicou a obra “Ars Magna Lucis et Umbrae” (O Grande Arte da Luz e da Sombra).

Outro destaque de sua atividade como polímata era sua inventividade tecnológica. Ele inventou o megafone, o relógio magnético, dispositivo que empregava o princípio da atração e repulsão com imãs para mover os mecanismos do relógio, e também elaborou diversos autômatos e inventos mecânicos. Com seus estudos de acústica, criou instrumentos musicais experimentais para comprovar a aplicação dos princípios que abordou. Ele fazia questão de compartilhar com os interessados as suas descobertas, invenções e teorias e para isso fundou seu próprio museu, cheio de peças ecléticas curiosas e interessantes, além de artefatos arqueológicos e exemplares naturais.

O erudito padre jesuíta morreu aos 78 de idade, deixando seu museu como legado para a cidade de Roma. 


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