Camille Desmoulins, o orador que acendeu a chama da Revolução Francesa

(Representação visual gerada por IA)

Camille Desmoulins (1760-1794) foi um dos mais destacados líderes da Revolução Francesa, articulador de ideias, mobilizador e intelectual ativista. Ele ingressou aos 14 anos idade no conceituado Collège Louis-le-Grand, em Paris, onde conheceu e tornou-se amigo de Maximilien Robespierre. Estudante brilhante e aficionado pelos clássicos latinos, graduou-se em direito, mas teve dificuldades de ingressar na carreira jurídica, sendo parte da razão de falta de contatos influentes e a gagueira que afetava sua aceitação no meio profissional. Ele passou a trabalhar como jornalista, favorecido pelo talento com a escrita e erudição. 

Quando o cenário pré-revolucionário estava sendo estabelecido, Desmoulins já era reconhecido por seus posicionamentos políticos avançados e seus textos eram frequentemente discutidos entre aqueles que contestavam a situação do país diante da crise da monarquia absoluta. Quando a revolução se transformava em uma realidade, ele tomou parte ativa da movimentação política e, superando a dificuldade de fala, realizou um discurso eloquente e emocionado diante do público, conclamando o povo para a participação na luta contra os abusos do governo e conta situação social em vigor no país. Sua fala é frequentemente apontada como o evento que deflagrou a famosa e marcante Queda da Bastilha, episódio considerado como o início da Revolução Francesa.

Ele escreveu panfletos e artigos sobre os ideais republicanos e fim dos privilégios do rei e da nobreza, textos que eram cada vez mais lidos pelos franceses em plena ebulição política, fazendo de Desmoulins um importante difusor das ideias que mobilizavam a revolução. Ele era partidário Clube Jacobino, grupo político muito importante para o desenvolvimento do movimento revolucionário, ao lado do amigo Robespierre e chegou a ser integrante de uma ala esquerdista radical dos jacobinos, os Cordeliers, publicando seus textos no jornal “Le Vieux Cordelier” (“O Velho Cordelier”), instrumento de comunicação desta facção revolucionária. 

Quando os jacobinos chegaram ao poder sob o comando de Robespierre, Desmoulins era um de seus mais colaborativos aliados e chegou a ocupar um cargo no Ministério da Justiça, chefiado por Goerges Danton. Quando as ações do governo revolucionário passaram a ser cada vez mais extremas, dando forma ao regime conhecido como o “Terror”, a violência passou a ser cada vez mais aplicada para perseguir e eliminar as críticas e divergências. O Comitê de Salvação Pública​, através do Tribunal Revolucionário, promoveu um verdadeiro extermínio em massa de pessoas através de execuções por meio da guilhotina e Desmoulins ficou horrorizado com o rumo que a revolução tomou, passando a utilizar o jornal para veicular críticas ao próprio governo do qual ele fazia parte, denunciando os abusos e as práticas brutais. Diante disso sua situação ficou delicada e ele foi acusado de traição. O amigo Robespierre chegou a a tentar acobertar Desmoulins que, apesar disso, não poupou o líder do governo de novas crítica e desafiou sua autoridade.

Desmoulins acabou preso sob a acusação de traição, juntamente com Danton, que também rompeu com o governo por criticar os métodos políticos adotados. Durante um julgamento armado para dar ares de legitimidade ao processo, ele chegou a tentar se defender recorrendo à sua reconhecida habilidade argumentativa, mas não adiantou. Ele foi condenado à morte e executado em 5 de abril de 1794. Sua esposa, Lucile, foi condenada e também executada em seguida, acusada de conspiração.

Robespierre, tomado pela paranoia e radicalismo, eliminava até aqueles que foram seus aliados e que eram admirados pela população, figuras reconhecidas como inspiradoras do movimento. O descontentamento do público acabou crescendo diante da escalada de violência, resultando na queda do regime do Terror e execução do próprio Robespierre.


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