Entre todas as forças militares que o mundo já viu, o exército romano é um destaque inevitável. Amplamente reconhecido pela sua extraordinária disciplina e organização, foi um dos pilares fundamentais que sustentaram a expansão e a manutenção do vasto Império Romano. A disciplina rigorosa era incutida em cada soldado desde o início de seu treinamento, garantindo uma execução impecável de estratégias e táticas em batalha. Este rigor era complementado por uma estrutura organizacional complexa, que incluía divisões claras de unidades militares, como legiões, coortes e centúrias, cada uma com funções e comandos específicos. A combinação da disciplina ferrenha com uma organização meticulosa permitia que o exército romano realizasse manobras complexas em campo, adaptando-se rapidamente a diferentes situações de combate. Essas características não só fizeram do exército romano uma máquina de guerra formidável, mas também contribuíram significativamente para a propagação da influência romana e a imposição de sua ordem em vastos territórios.
Para assegurar a disciplina os romanos também instituíram medidas para garantir a ordem e o respeito às rígidas regras e hierarquias da instituição militar, existindo diversas penas possíveis para aplicação. Existiam penalidades individuais e coletivas e o disciplinamento poderia ser extremo de acordo com a infração cometida.
Durante a fase republicana de Roma, o mais significativo castigo militar era a dizimação, imposto como punição coletiva aplicada sobre grupos de legionários que promovessem motins em desobediência ao comando hierárquico ou que desertassem da luta. Diante das situações que justificassem a pena, o comando militar estipulava a ordem para que fosse procedido o “decimatio”, que deriva de “decimus”, que significa “décimo”.
Nesse processo, os soldados eram divididos em grupos de dez e por meio de um sorteio macabro, um indivíduo em cada grupo era executado pelos outros nove, geralmente por apedrejamento ou espancamento. Essa prática visava reforçar a disciplina e a lealdade entre as tropas, pois a punição não era voltada apenas para o indivíduo que pagava com a vida pela infração, mas para o grupo como um todo. A ideia era que os soldados aprendessem com esta experiência brutal e com isso desenvolvessem um senso de responsabilidade mútua, entendendo graves consequências de suas ações para o coletivo.
Os espartanos já possuíam um castigo semelhante e as tropas de Alexandre, o Grande, também praticavam algo do tipo. Deste modo, apesar do fato da dizimação ter sido tão associada aos romanos, a punição sequer foi inventada por eles, porém foi sob a vigência de Roma que a aplicação da pena passou a ser mais sistemática até praticamente ser abolida durante o governo de Augusto, o primeiro regente da fase imperial de Roma, tendo sido aplicada em ocasiões raras e isoladas até a queda do império.
Inspirações na dizimação voltaram a ser vistas até mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, mas de um modo geral atualmente o termo tem um significado um pouco diferente, passando a se referir à ideia de destruição ou remoção de uma grande proporção de um grupo ou conjunto, não se limitando apenas ao contexto militar ou ao rigor do método dos romanos.

