Branca Dias, mãe da diáspora e filha da perseguição religiosa

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

Branca Dias nasceu em 1515, em Viana do Castelo, Portugal, filha de uma família judia que se declarou publicamente católica em um contexto de forte perseguição em toda a Península Ibérica. Casou-se ainda adolescente com o comerciante judeu Diogo Fernandes Santiago e, juntos, tiveram 11 filhos, sendo 7 nascidos em Portugal e outros 4 no Brasil. Em suas terras portuguesas, o casal sofreu as consequências do ambiente de hostilidades religiosas, e lá Branca foi condenada a cumprir uma pena de prisão de 3 anos. Após apelar por sua soltura, argumentando sobre a vulnerabilidade de seus filhos pequenos sem assistência familiar, Branca obteve sua libertação em 1543 e deixou Portugal para se reunir a Diogo, que já havia partido para a capitania de Pernambuco, comandada por Duarte Coelho e sua família.

Branca e Diogo se estabeleceram em Camaragibe, nas imediações de Recife, onde administravam um plantio de cana. Longe da condição de senhores de engenho, mas nas duras condições de sobrevivência durante a implantação de uma lavoura nos primeiros anos da colonização, estavam menos vulneráveis diante do processo de perseguição religiosa. Assim, voltaram a praticar seus ritos judaicos e até mantiveram uma sinagoga improvisada em suas terras.

Depois de inúmeras dificuldades na propriedade em Camaragibe, Branca e sua família fixaram residência em Olinda, onde Branca estabeleceu um modesto centro educacional. Lá, ensinava artes domésticas a jovens mulheres da colônia, habituada que era à prática do ensino, pois alfabetizou seus filhos e lhes transmitiu muitos dos saberes que possuía. Branca viveu em Olinda até seus últimos dias, sem renegar ou disfarçar a religião judaica, falecendo de causas naturais em 1588.

Pouco depois, em 1593, estabeleceu-se no Brasil uma junta do Santo Ofício, ou seja, a Inquisição Católica, que começou a investigar os indícios de desvios da fé católica na colônia. Branca já estava além do alcance devastador e violento dos julgadores religiosos, mas sua descendência não escapou dos transtornos. Considerando a influência dos pais e denúncias realizadas por delatores, o Tribunal do Santo Ofício estabeleceu processos e puniu efetivamente algumas das filhas de Branca e Diogo, realizando uma segunda onda de investigações de sua descendência depois da expulsão dos holandeses.

A mãe e educadora judia que desafiou a imposição religiosa acabou também originando mitos que estabeleceram narrativas alternativas sobre sua vida. Em uma versão popular, Branca teria sido executada na fogueira da Inquisição e até foi transformada em lenda urbana, com relatos de sua aparição fantasmagórica.

Mas sua existência se perpetuou através do papel que teve no desenvolvimento de descendências ao longo de gerações, pois seus filhos, netos, bisnetos e mais descendentes povoaram o Nordeste e se espalharam pelos espaços do vasto território brasileiro.

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