O soldado Arnold Paole (ou Arnont Paule) tornou-se uma figura temida na Sérvia na década de 1720 por uma razão assustadora: o próprio Paole e muitas outras pessoas acreditavam que ele era um vampiro.
O homem contava para quem quisesse ouvir que havia lutado contra uma dessas criaturas das trevas enquanto estava em missão na Grécia e que, apesar de ter matado o vampiro, saiu ferido do confronto. Após o incidente perturbador, Paole voltou para casa e tentou levar uma vida normal, conseguindo um emprego numa fazenda em Medvedja, mas os efeitos da maldição acabaram se manifestando. Em 1726, após sofrer um grave acidente de trabalho que resultou numa queda e um forte impacto na cabeça, Arnold Paole ficou alguns dias inconsciente e então morreu. Entretanto, esse não foi o seu fim.
Paole não foi esquecido, já que toda a comunidade sabia de sua afirmação de ter sido ferido por um vampiro. Boatos se espalharam por Medvedja e arredores sobre a aparição do falecido, e o falatório incluía também episódios ainda mais sinistros. Testemunhas afirmavam que Paole aparecia na calada da noite e sugava o sangue dos moradores da vila e das áreas rurais, ato que resultava no adoecimento grave das vítimas, que acabavam morrendo.
O vampirismo e o pânico se tornaram uma epidemia nas semanas seguintes à morte de Arnold Paole, o que fez com que as autoridades públicas tivessem de agir. Convocaram até médicos especialistas para realizar a exumação dos restos mortais a fim de elucidar o mistério, mas isso só alarmou ainda mais a população, pois o doutor Johannes Flückinger relatou que, ao deparar-se com o corpo, este não apresentava sinais de decomposição e tinha sangue fluindo normalmente nas veias. A decisão imediata foi cravar uma estaca no peito do defunto para acabar com a perturbação. Mais boatos surgiram após essa medida, pois correu entre a população a história de que, ao ser perfurado no coração, Paole emitiu um grito de dor e depois entrou em combustão espontânea. As supostas vítimas de Paole também tiveram suas sepulturas abertas para que estacas fossem cravadas em seus peitos por pura precaução.
Parecia que o mal havia sido vencido, mas, após cinco anos, novos casos voltaram a ser relatados pela população assustada com mais um surto de doenças misteriosas que provocavam enfraquecimento até a morte. Aldeões e camponeses associaram mais uma vez esta nova incidência fatal à ação vampiresca e provocaram mais um estado de histeria generalizada, motivando a formação outra missão de uma comissão de especialistas que ajudou a reforçar a ideia de que algo sobrenatural havia ocorrido.
Cartas e relatórios dos membros deste grupo acabaram sendo divulgados na imprensa dando conta de circunstâncias anormais nos resultados dos exames necrológicos, o que ajudou a disseminar a história e, a essa altura, o caso já era um assunto macabro conhecido por toda a Europa. A impressionante história de Arnold Paole não perturbou apenas os moradores de Medvedja ou as autoridades locais; foi um dos primeiros casos documentados que alegavam a existência de um ser como ele, que mais tarde viria a influenciar o imaginário e as criações literárias dos vampiros que assustam e fascinam o público até os dias atuais.


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