A mitologia eslava tem suas raízes nas crenças dos povos eslavos antigos. Sua origem e difusão estão profundamente ligadas à história, migrações e interações culturais dos eslavos que, como muitos outros grupos étnicos antigos, tinham uma conexão profunda com a natureza e o cosmos. Antes de adotarem o cristianismo, eles praticavam o que é frequentemente chamado de “paganismo eslavo”. Este sistema de crenças era animista, o que significa que atribuíam alma ou espírito a objetos naturais, como árvores, rios e animais.
As crenças eslavas foram influenciadas por interações com culturas vizinhas. A mitologia escandinava, por exemplo, teve algum impacto nas tradições eslavas do norte, enquanto as tradições dos povos turcos e dos povos das estepes podem ter influenciado as tradições eslavas orientais. As migrações eslavas, que começaram por volta do 6º século d.C., levaram à dispersão de grupos eslavos por grande parte da Europa Central e Oriental. Com essas migrações, as tradições mitológicas eslavas se espalharam e, ao mesmo tempo, se adaptaram às realidades locais e influências culturais. A partir do século 9 d.C., com a adoção gradual do cristianismo pelos eslavos, houve uma tentativa sistemática de suprimir as crenças pagãs eslavas, embora alguns rituais e crenças tenham sido incorporados às tradições cristãs.
A mitologia eslava foi transmitida principalmente por tradição oral. Isso significa que, embora as crenças básicas fossem semelhantes em toda a região eslava, elas também eram flexíveis e suscetíveis a mudanças e adaptações locais. Isso levou a variações regionais na mitologia e nos rituais. A maioria dos registros escritos sobre a este conjunto de mitos provém de fontes externas ou de períodos posteriores à cristianização. Estes incluem crônicas de viajantes, missionários e outros povos que entraram em contato com os eslavos. Uma das fontes mais valiosas é a Crônica Primária, uma coleção de textos sobre a história dos eslavos orientais desde os primeiros tempos até o século 12 e a Chronica Slavorum, uma das fontes históricas mais valiosas para o estudo dos eslavos ocidentais, especialmente os povos que viviam na região que hoje é o norte da Alemanha e a Polônia.
As narrativas são ricas e cheias de personagens interessantes e complexos, como deuses e outras criaturas lendárias com as quais diversas tribos conviviam em seus ritos e num fabuloso imaginário povoado por seres como o poderoso deus solar Dazhbog , o deus dos trovões Perum (que costuma ser comparado ao famoso Thor dos nórdicos), a deusa da morte e do inverno identificada como Morana ou criaturas como a maldosa Baba Yaga que atacava crianças e o congelante Morozko.
Duas das figuras mais conhecidas associadas à mitologia eslava, porém, provavelmente nunca foram cultuadas de forma geral por aqueles povos. Eles são Chernobog e Belobog. As duas divindades eram tratadas como opostos, sendo Chernobog o “Deus Negro” e Belobog o “Deus Branco”. Chernobog, é associado ao mal, à escuridão e a tudo que é infortunado ou prejudicial, frequentemente descrito como uma divindade sombria ou um espírito maligno, trazendo desgraça, doença e outras calamidades para os humanos. Belobog foi associado à luz, ao bem, à fortuna e à felicidade, visto como a divindade que traz a primavera, a renovação e a bênção para os seres humanos.
Os dois lutam constantemente um contra o outro num embate entre o bem e o mal. Chernobog aparece na obra Chronica Slavorum, escrita por Helmold de Bosau, um padre e cronista do século 12 que se dedicou a documentar a expansão do cristianismo entre os eslavos. Enquanto isso, Belobog, que foi inspirado como seu oposto, tem uma origem mais imprecisa, pois não se tem muita certeza de como ou quando ele surgiu na trama mitológica, já que nem Helmold faz citação explícita a seu respeito na crônica. Somente no século 16 outras compilações sobre elementos folclóricos e mitológicos do Leste Europeu foram organizadas e entre elas as figuras de Chernobog e Belobog apareciam como entes aparentemente superiores em meio aos demais.
Enquanto estas divindades são frequentemente citadas em discussões sobre a mitologia eslava, sua origem, natureza e até mesmo a extensão de seu culto entre os eslavos antigos são pontos de disputa entre os estudiosos. Uma das principais razões para a controvérsia é a escassez de fontes primárias sobre a mitologia eslava. A maioria das fontes escritas que temos hoje provém de cronistas cristãos que, muitas vezes, tinham uma perspectiva externa e, às vezes, tendenciosa das práticas e crenças pagãs. Pela disponibilidade de raríssimas citações sobre Belobog, dualidade com Chernobog, é na verdade mais uma inferência do que uma evidência.
Um fator complicador a respeito de muitas destas produções é o fato de terem sido elaboradas por clérigos católicos que escreveram muito depois da cristianização do Leste Europeu, pois há variados textos dos folcloristas cristãos que são impregnados de associações com o cristianismo. Alguns estudiosos argumentam que a descrição de divindades como Chernobog pode ter sido influenciada ou até mesmo distorcida por estes escritores cristãos, que estavam interessados em retratar as crenças pagãs em uma luz negativa ou compará-las aos conceitos cristãos de Deus e do Diabo.
A controvérsia culmina com a avaliação de que Chernobog e Belobog não são autênticas divindades eslavas, com Chernobog sendo uma divindade maligna e Belobog (embora não mencionado diretamente) sendo seu contraponto positivo. Outros argumentam que estes os dois são simplesmente pseudo-divindades inventadas posteriormente ou elaboradas a partir de interpretações errôneas. Mesmo o dualismo representado pelas duas entidades pode ter sido influenciado por crenças externas, talvez introduzidas através do contato com outras culturas ou religiões.
De qualquer forma, a cultura pop contemporânea não precisou enveredar através das complexas análises culturais e mitológicas e, sobretudo Chernobog, se faz presente em variadas produções como em jogos digitais, referência em letras de heavy metal, virou monstro numa animação de “Fantasia”, animação clássica de Walt Disney produzida em 1940, e frequentou a obra “American Gods”, de Neil Gaiman.

