Pedro Gonzalez nasceu em Tenerife, uma das Ilhas Canárias, possessão espanhola no Atlântico perto da costa do noroeste da África, em 1537. Ele tinha hipertricose, uma condição médica caracterizada pelo crescimento excessivo de pelos no corpo. Por isso, sua aparência atraía uma sádica curiosidade, a ponto de ser raptado aos 10 anos de idade para servir de atração exótica na Europa. Trancafiado em uma gaiola, o menino acabou na corte do rei Henrique II da França, entregue como um presente curioso para a coroação do monarca. Inicialmente tratado como um animal, foi examinado como uma aberração pelos médicos. Quando concluíram que ele não era uma criatura selvagem, o rei determinou que lhe fosse providenciada educação adequada para viver na corte. Seu nome foi modificado para Petrus Gonsalvus, uma tentativa de “apagar” sua identidade.

Petrus aprendeu idiomas, música e etiqueta, tornando-se um homem instruído e de inteligência sofisticada. Trabalhou na corte do rei inicialmente como garçom, servindo à mesa do monarca, que o tratava com respeito. Quando Henrique II morreu, em 1558, a viúva Catarina de Médici assumiu a regência da França e voltou a tratar Petrus como uma curiosidade exótica. Ela tinha interesse em saber como seriam eventuais filhos de Petrus com uma mulher “normal”, então arranjou um casamento para ele com Catherine, sem que a noiva conhecesse o futuro marido até o dia da cerimônia. Para o espanto da rainha, que promoveu o casamento como um experimento, o casal se apaixonou genuinamente. Eles tiveram seis filhos, sendo que apenas os dois primeiros não nasceram com a mesma condição do pai.

Petrus e sua família eram constantemente submetidos à curiosidade pública e foram forçados a viajar pela Europa para que os endinheirados pudessem vê-los como atração. A situação pareceu melhorar quando um nobre italiano ofereceu um trabalho fixo a Petrus em uma de suas propriedades, mas os filhos foram tirados do casal e entregues a outras famílias como presentes, como se fossem meros animais de estimação.

Ainda que Petrus tenha se tornado um homem polido conforme os moldes corteses da aristocracia, ele e seus filhos, por conta de sua aparência, continuaram sendo vítimas de discriminação, sendo vistos como selvagens.

Acredita-se que Petrus morreu aos 81 anos, em 1618. Seu casamento com Catherine foi a inspiração original para a criação da famosa história “La Belle et la Bête”, escrita em 1770 por Dama de Villeneuve e adaptada pouco depois, em 1776, por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, cuja versão é a mais conhecida e serviu de base para famosas produções cinematográficas.