Frei Caneca, o Mártir da Liberdade

(Representação visual gerada pelas IAs Midjourney + Leonardo)

Joaquim da Silva Rabelo nasceu em uma família modesta em 20 de agosto de 1779. Seu pai, Domingos da Silva Rabelo, era tanoeiro e produzia vasilhames metálicos que o filho ajudava a vender pelas ruas de Recife. Mas Joaquim teria outro destino e ainda muito jovem iniciou sua formação religiosa. Depois de ordenado no sacerdócio, adotou o nome religioso de Joaquim do Amor Divino Rabelo, mas era mais conhecido como Frei Caneca por causa da atividade que desempenhava quando menino e porque era uma forma de homenagear seu pai. O jovem frei manteve seus interesses intelectuais ativos, aprofundando sua formação e virando professor de geometria, retórica, poesia, filosofia e moral no Seminário de Olinda e depois atuando em diversas instituições voltadas para estudos e docência, conforme sua vasta capacidade de erudição e inquietações políticas. Iniciado na Maçonaria, foi exposto a ideias iluministas e republicanas. Através da Maçonaria, ele pôde estabelecer contatos com outros líderes revolucionários e propagar ideias libertárias.

Em seus sermões e escritos, o intelectual sacerdote foi um defensor fervoroso da causa republicana e autonomista. Ele usou sua influência como religioso para propagar as ideias revolucionárias, inspirando muitos a se juntarem à causa. Ao eclodir a Revolução Pernambucana de 1917, Frei Caneca era um dos rebeldes que aderiram ao movimento e acabou sendo preso, acusado de ingressar nas fileiras de voluntários que montaram uma tropa para atuar na luta armada e passou quatro anos detido na Cadeia da Relação, na Bahia, até receber anistia em 1921 como decorrência da Revolução do Porto, movimento que no ano anterior aboliu o absolutismo em Portugal e fez sentir alguns de seus efeitos liberais sobre a colônia.  

A prisão não abalou a disposição de Frei Caneca e logo ele voltava a atuar como fomentador da causa republicana e dos ideais iluministas, sendo detido por novas acusações sediciosas e tomando parte dos acalorados debates provinciais. Em 1824, insatisfeitos com o governo centralizado de D. Pedro I, vários líderes nordestinos, incluindo Frei Caneca, lideraram a Confederação do Equador. Este movimento republicano e federalista buscava estabelecer uma confederação de províncias no Norte do Brasil. A insurreição foi rapidamente reprimida pelo governo imperial, mas Frei Caneca se destacou como um dos seus principais ideólogos. Suas ideias republicanas, federalistas e anti-imperialistas encontraram ressonância no movimento. Ele usou sua influência, especialmente através da escrita, para criticar o governo central e promover os ideais do movimento.

Um importante instrumento para a difusão dos ideais foi o jornal “Typhis Pernambucano”, editado por Frei Caneca. Typhis era uma referência ao nome do piloto de Argo, embarcação mitológica construída pela deusa Atena para transportar os heróis liderados por Jasão em busca do Velocino de Ouro, então o papel do jornal revolucionário era conduzir, através das ideias, para uma jornada libertadora. A publicação era o principal meio de proliferação das propostas do movimento, cumprindo uma relevante função em um cenário de autoritarismo que incluía a censura como uma prática, assim o simples ato de publicar e distribuir um jornal como o “Typhis Pernambucano” em um ambiente tão repressivo era, por si só, um ato de resistência. O jornal tornou-se um símbolo da luta pela liberdade de expressão e pela autonomia regional contra o poder central.

Frei Caneca não se limitou apenas ao papel de ideólogo; ele estava profundamente envolvido nas ações práticas do movimento. Foi nomeado presidente da Província da Paraíba, embora não tenha assumido o posto devido ao rápido avanço das tropas imperiais. Após a derrota da Confederação do Equador, Frei Caneca foi preso e condenado à morte devido à sua participação e liderança no movimento. Inicialmente, a sua execução deveria ser por fuzilamento, mas, numa demonstração do grande respeito e admiração que muitos tinham por ele, os pelotões de fuzilamento se recusaram repetidamente a atirar. Diante disso, ele foi enforcado no Recife em 13 de janeiro de 1825. Ele tinha 46 anos de idade.

O papel de Joaquim do Amor Divino Rabelo como pensador, difusor e agente da autonomia do Brasil e das causas liberais, além de sua firmeza como agente de transformações e presença ativa como referência de luta receberam reconhecimento com sua inscrição no Livro de Aço ou Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

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