Os criminosos que produziram linguiça de carne humana

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

“Existe um chacal adormecido em cada homem?” O cientista inglês Charles Darwin teria sido  levado a esse questionamento quando tomou notícia de episódios criminais em uma situação particularmente macabra no Brasil. Tratava-se de uma série espantosa de assassinatos ocorridos na província do Rio Grande do Sul que contaram com uma perturbadora circunstância: as carnes das vítimas foram usadas para preparar linguiça.

Os agentes da monstruosidade foram o ex-policial José Ramos, sua esposa Catarina Paulsen e o açougueiro Carlos Claussner. José Ramos teve uma juventude marcada pela violência, pois chegou a esfaquear o próprio pai em defesa da mãe que estava sendo agredida e depois conseguiu ingressar na força policial da província, onde trabalhava como inspetor até ser expulso depois de flagrado degolando um acusado. Desde o incidente passou a prestar serviços como informante sem vínculo oficial com a corporação. Catarina Paulsen era húngara e teve um passado trágico antes de chegar ao país, pois em sua terra natal teve seus pais e irmãos assassinados e foi estuprada durante a guerra entre húngaros e austríacos, casou-se aos 15 anos e ficou viúva durante a viagem para o Brasil, aonde chegou sozinha e desamparada. José e Catarina se conheceram em Porto Alegre e em 1862 decidiram viver juntos em uma insuspeita residência na Rua do Arvoredo. Outro personagem importante da trama macabra era Carlos Claussner, alemão bem estabelecido que era proprietário de um açougue movimentado e que virou amigo de José Ramos.

Os três começaram a desenvolver uma grotesca relação criminosa a partir de 1863, quando fizeram suas primeiras vítimas. José e Catarina frequentavam ambientes nos quais conviviam com pessoas de boas condições financeiras, sobretudos migrantes de língua alemã. O casal armava um esquema para abordar homens inicialmente iludidos por Catarina, que acertava encontros sedutores como armadilha para que José atacasse com uma faca, cortando as gargantas e depois esquartejando os infelizes que eram friamente atraídos para o covil da morte – a própria casa dos criminosos. O plano abominável contava ainda com uma etapa estarrecedora na qual atuava o açougueiro Claussner, que recebia conscientemente as carnes das vítimas e processava para a produção de linguiças que eram vendidas para os consumidores que não imaginavam a procedência do produto que adquiriam. O próprio Claussner teria sugerido este método medonho como forma de eliminar vestígios dos cadáveres, mas depois começou a ter medo das implicações de seu envolvimento e acabou sendo assassinado pelo amigo e comparsa, tendo seu corpo enterrado no porão da casa Rua do Arvoredo.

As vítimas, que tinham seus pertences roubados e terminavam como recheio de linguiça, foram inicialmente tratadas pela polícia como casos de desaparecimento, mas suspeitas começaram a ser levantadas quando testemunhas indicavam que antes de misteriosos sumiços José e Catarina eram vistas na companhia dessas pessoas. A polícia acabou investigando a suspeita e na casa de José e Catarina foram identificados diversos indícios das monstruosidades ocorridas no local. Foi localizado o corpo do açougueiro, além de ossos e restos humanos pútridos, além de facas e objetos pessoais dos mortos. Outra prova foi o diário de Catarina que detalhava fatos e circunstâncias relacionados a seis assassinatos realizados no local.

José Ramos foi condenado a morte por enforcamento, mas não cumpriu essa sentença porque a pena foi comutada para prisão perpétua. Ele morreu 1893. Catarina foi condenada a 13 anos de prisão por sua atuação nos crimes, mas morreu no cumprimento de uma internação em um hospício antes do término do período de condenação.

Um comentário

Deixe um comentário