
O médico escocês Robert Liston (1794-1849) iniciou a prática cirúrgica em seu país, mas sua carreira na terra natal chegou a uma condição crítica porque o dr. Liston era tão bom cirurgião quanto fazedor de intrigas e colecionou inimizades no meio médico de Edimburgo. Indo embora da Escócia, Liston passou a viver e trabalhar em Londres, onde seus talentos foram melhor acolhidos e se tornou famoso como cirurgião de altíssima habilidade.
Num tempo em que ainda não eram utilizados meios anestésicos eficazes, Liston concluiu que a forma mais prática de aliviar o sofrimento dos pacientes era realizar os procedimentos com rapidez. E ele era muito rápido! Cirurgiões que não conseguiam ser tão rápidos quanto Liston poderiam expor os pacientes a riscos maiores durante as cirurgias e a taxa de mortalidade durante os procedimentos era altíssima, mas Liston conseguia obter um índice de fatalidade muito menor. Diziam que ele conseguia amputar uma perna em menos de dois minutos e detinha uma série de outras proezas cirúrgicas realizadas em curtíssimo tempo de procedimento, o que fazia de suas cirurgias motivo de atração para estudantes de medicina, profissionais formados e também de curiosos, que se amontoavam nas galerias das salas de cirurgia para testemunhar o desempenho do dr. Liston.
Vaidoso e ciente de que chamava a atenção, Liston costumava ordenar antes de iniciar os procedimentos que os expectadores marcassem o tempo de duração das cirurgias e detinha o apelido de “A Faca Mais Rápida de West End”. Para garantir a velocidade, o manuseio dos instrumentos era frenético e frequentemente ele utilizava até os dentes para segurar a faca ainda ensanguentada enquanto utilizava uma serra, que depois era jogada de lado para que imediatamente iniciasse a sutura.
Claro que a velocidade também poderia favorecer a imprudência e algumas das cirurgias realizadas pelo dr. Liston terminaram das piores formas exatamente por isso. Um dos casos catastróficos foi extremo e incomum. Tendo que realizar uma rotineira amputação de perna com sua habitual agilidade, Liston encarou um paciente particularmente difícil de conter, pois o homem se debatia fortemente exigindo ainda mais agilidade do cirurgião, que acabou cometendo erros graves ao cortar acidentalmente – em virtude da velocidade de seus movimentos – um assistente e um espectador. O espectador sofreu uma hemorragia e morreu no local e o paciente e o assistente morreram dias depois, ambos infeccionados. O caso ganhou notoriedade, os críticos e detratores do dr. Liston logo passaram a anunciar o caso como o único exemplo de procedimento cirúrgico registrado com taxa de mortalidade de 300%
Só em 1846 o dr. Robert Liston realizou sua primeira cirurgia com anestesia, inovação introduzida na medicina moderna em 1842, quando o dr. Crawford Long experimentou o uso de éter.