O trauma de infância da República que nasceu polarizada

Release do livro “1897”


Foi há quase 128 anos, no dia 5 de novembro de 1897. A República tinha apenas 8 anos, quando tentaram matar o primeiro presidente eleito do país, Prudente de Morais. No porto do Arsenal de Guerra, o presidente recebia as tropas que chegavam de Canudos, quando foi surpreendido por um soldado que apareceu em sua frente, com uma garrucha e um punhal. O Ministro da Guerra, Marechal Bittencourt, saiu em sua defesa, mas morreu após levar quatro golpes de punhal do assassino.

O ataque vinha dos jacobinos, os republicanos radicais que queriam a volta da ditadura militar, nos moldes de Floriano Peixoto. “Jacobinos versus monarquistas” era a polarização que incendiava as ruas, desde as derrotas do Exército em Canudos, no começo do ano. Prudente de Morais, que era um moderado, vinha sendo acusado de desmantelar a estrutura militar e entregar o país nas mãos dos monarquistas.

A crise se aprofundou depois do afastamento de Prudente da presidência, para tratar um grave problema de saúde. Seu vice, o ambicioso médico baiano Manoel Vitorino Pereira, imaginava que Prudente não iria mais voltar. Aliando-se aos jacobinos, Vitorino trocou o ministério, lançou um plano para recuperar a economia e inaugurou o Palácio do Catete com uma festa monumental. O “Presidente Sol”, como era chamado, gostava de pompa e tapetes vermelhos, ao contrário do recatado Prudente.

Mas quando o presidente retornou da licença, chegando de surpresa ao Palácio, sem mandar ao menos um aviso, o vice humilhado guardou mágoa, passando a atacar seu desafeto com discursos de ódio e conclamando jacobinos e militares a uma revolta.

Cinco deputados e dois senadores foram acusados da tentativa de assassinato do presidente, dentre eles o vice Manoel Vitorino (que era também senador) e o presidente do Partido Republicano Federal, Francisco Glicério, mas ambos foram excluídos do rol dos acusados, ainda na sentença da pronúncia.

Depois do episódio, Manoel Vitorino se afastou da vida política, deixando como legado um dos maiores mistérios da história da República, que foi o seu grau de envolvimento no atentado de 5 de novembro: isenção, cumplicidade, conivência ou coautoria? Um enigma que talvez jamais seja solucionado.

Por fim, outro legado da tentativa de assassinato do presidente foi a mudança nos rumos da política no país. Revertendo a sua baixa popularidade, Prudente conseguiu eleger o seu candidato à presidência, Campos Salles, que criaria a conhecida Política dos Governadores. Com o apoio das oligarquias estaduais, Salles inventou o jeito de fazer política que definiria as regras do poder até a chegada de Getúlio Vargas, em 1930.

No livro que agora lançamos, desvendamos os bastidores da política, marcada por ódio e polarização, nesse período da história republicana que é tão pouco estudado. A obra também ajuda a entender a evolução da política nacional, já que o ano de 1897 parece ter sido o “trauma de infância” da República. Ameaças de golpes, ditaduras, salvadores da Pátria, escândalos de corrupção, perturbações e atentados são temas que se repetem ao longo da nossa história.

Por fim, para além da política, o livro também conta um pouco da vida social do Rio de Janeiro no finalzinho do século XIX, como a festa de inauguração do Palácio do Catete, as trapalhadas da “polícia secreta”, os indígenas da Amazônia que visitaram a capital e a história do “fantasma das Laranjeiras” que virou tema de carnaval.


Sobre o autor

Ely Paiva é professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. É graduado em Engenharia Elétrica pela UFU, doutor pela FEEC-Unicamp e pós-doutor pela Polytechnique de Montreal, Canadá. Ely Paiva é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS) e autor de dois outros livros.

Email: elypaiva@unicamp.br
Whatsapp: (19) 99326-4014
Pré-lançamento: 15/11/2025, Livraria da Vila, Campinas
Lançamento: março/2026, Livraria da Travessa, Rio de Janeiro