Suleiman, o Magnífico, e o auge do Império Otomano

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No século XVI, o Império Otomano já era uma das maiores potências globais, impulsionado pela expansão realizada sob o implacável sultão Selim I (1512–1520), que anexou territórios cruciais como Síria, Egito e as cidades sagradas de Meca e Medina, além de controlar importantes rotas comerciais entre a Ásia e a Europa. Apesar de seu poderio militar e influência econômica, o império enfrentava desafios significativos em suas fronteiras: a oeste, a resistência do Sacro Império Romano-Germânico e da Hungria limitava seu avanço na Europa Central; a leste, a Pérsia Safávida representava uma ameaça constante, marcada por disputas territoriais e pela profunda divergência religiosa, pois os safávidas eram xiitas e os otomano eram sunitas.

Foi neste contexto complexo que despontou Suleiman I (ou Solimão I), o Magnífico, filho de Selim I. Nascido em 1494, quando seu pai ainda era príncipe, Suleiman precisou se habituar ao poder logo cedo porque tinha uma posição na linha sucessória. Ele foi designado governador de Kaffa (Crimeia) quando tinha por volta de 15 anos de idade e em seguida, quando seu pai foi coroado, ficou encarregado de governar Manisa (Anatólia). A posição de Suleiman na sucessão foi assegurada de maneira especialmente sangrenta, pois alguns de seus irmãos, eventuais postulantes ao trono, foram assassinados possivelmente por ordem do próprio pai para evitar disputas pelo poder – um problema comum nas sucessões otomanas, o que sustentou a ocorrência de diversos casos assassinatos de membros da própria família real. 

Selim I morreu repentinamente e Suleiman foi consagrado imperador aos 25 anos já dotado de larga experiência com os assuntos de governo. Ele ainda precisou lidar com rivais que almejavam posição, então eliminou parentes  e governadores desleais. Foi necessário apaziguar tensões com os janízaros — corpo de elite de seu exército — que exigiam melhores pagamentos e a continuidade das campanhas militares para proporcionar novos saques. Suleiman resolveu então ampliar ainda mais os domínios do império para satisfazer suas tropas e garantir ainda mais poder e riqueza para o império. Importantes vitórias ocorreram como a queda de Belgrado, na atual Sérvia, o que ajudou a realizar o avanço nos Balcãs. 

Seu exército conquistou a Hungria e dominou territórios importantes como nas atuais Croácia e România e ainda chegou a sitiar Viena, na Áustria, situação que causou grande preocupação na Europa Ocidental. No Mediterrâneo sua frota naval realizou feitos importantes como a conquista de Rhodes e expulsão dos Cavaleiros Hospitalários em 1522. Territórios dos atuais Marrocos e Tunísia, além de regiões na costa africana também foram conquistados e foi intensificado o domínio sobre rotas marítimas e terrestres para a Ásia, rivalizando principalmente com os portugueses.

A posição do Sacro Império Romano-Germânico, comandado pela Dinastia dos Habsburgos, era uma força de resistência contra o avanço otomano. As rivalidades na própria Europa caram o continente sob riscos ainda maiores e o estrategista Suleiman procurou tirar proveito da situação, oferecendo aliança com a França de Francisco I contra o espanhol Carlos V, que acumulava o comando do Sacro-Império. Uma Europa dividida trazia vantagens para os otomanos, pois enfraquecia a unidade dos reinos cristão contra os muçulmanos por causa de divergências políticas, conflitos de autoridade e pela crise religiosa estabelecida. O Papa Paulo III excomungou o rei da França, Lutero aproveitou o desgaste para culpar Carlos V e Henrique VIII aproveitou para explorar a tensão e o desgaste de seus rivais em favor dos interesses ingleses. A confusão só foi amenizada quando um tratado de paz entre Suleiman e os Habsburgos foi assinado em 1547.

Enquanto tumultuava a Europa, Suleiman também enfrentou inimigos no próprio mundo islâmico. A rivalidade com os safávidas continuava firme e impedia avanços do império na frente oriental. Suas campanhas entre 1534 e 1555 conseguiram conquistar Bagdá, mas não derrotaram os xiitas em toda região. Os oponentes recorreram a táticas que evitavam o confronto aberto, mas praticavam guerrilha e estratégias de terra arrasada que atrapalharam o controle otomanos das regiões ocupadas. O Tratado de Amasya (1555) encerrou o confronto definindo fronteiras negociadas entre os dois lados, embora as divergências religiosas e étnicas tenham permanecido.

As ações internas de Suleiman promoveram a unificação e modernização legal, combinando a sharia (lei islâmica) com regras secularizadas. Como consequência dessas reformas, camponeses puderam desfrutar de direitos, a propriedade rural foi regularizada e a política tributária foi organizada. Além dessas melhorias, a corrupção da estrutura estatal foi combatida pela promoção de critérios de merecimento para ocupação dos cargos públicos mais destacados como governadores e juízes. As grandes obras públicas e religiosas foram promovidas graças à grande riqueza gerada pelo comércio e arrecadação de impostos e a corte de Suleiman se transformou num ambiente de forte atividade artística e cultural – o próprio imperador era um talentoso poeta.

Conforme a tradição, Suleiman teve diversas esposas e entre elas destacou-se Hürrem Sultan, também conhecida como Roxelana, uma mulher de origem ucraniana que foi de escrava à principal consorte otomana e teve papel decisivo no processo sucessório. Suleiman havia estabelecido de maneira efetiva o critério de primogenitura para definir a sucessão e acabar com a lei que permitia ao novo sultão executar seus próprios irmãos para assegurar a estabilidade. Isso não impediu os conflitos em sua família, apesar de apenas três de seus vários filhos terem chegado à idade adulta. O príncipe Mustafa (filho de Suleiman com Mahidevran Sultan, sua primeira esposa) era o favorito do exército como herdeiro ao trono, mas foi executado por ordem do próprio sultão após uma manobra arquitetada por Hürrem Sultan, que pretendeu garantir a sucessão para um de seus dois filhos. Selim II assumiu a posição de herdeiro, situação que levou o irmão Bayezid a tramar uma insurgência contra o pai e o sucessor definido, mas acabou derrotado e também executado em 1561 pelo grave ato de desobediência e desrespeito. 

Suleiman, consagrado como “o Magnífico” no Ocidente e como “o Legislador” no Oriente, morreu em 1566 durante uma campanha militar na Hungria. Ele deixou o Império Otomano em sua fase de maior extensão territorial e controlando controlando uma impressionante variedade de fontes de riqueza. Selim II assumiu o poder, mas sua condução do império foi ineficiente por causa de sua falta de habilidade como liderança política e militar, além de seu desleixo diante dos assuntos públicos. Seu governo marcou o início da decadência do Império Otomano.


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