Edward Low: O terror sanguinário dos mares do século XVIII

(Representação visual gerada por IA)

No século XVIII, durante a “Era de Ouro da Pirataria”, vários bandidos marítimos causaram pânico, produziram danos e viraram figuras lendárias por causa de seus feitos e personalidades marcantes. Um dos piratas mais notórios foi o britânico Edward Low, também conhecido como Ned Low, reconhecido como um dos mais sanguinários. 

O futuro terror dos mares nasceu em Londres por volta de 1690 numa família pobre. A situação social na época era marcada pela extrema pobreza da maioria da população londrina. As condições de moradia eram precárias e os meios de subsistência muito limitados pela restrição de oportunidades de trabalho, o que atraía muitos jovens como Low para a vida de crimes. Depois de se envolver em casos de roubos, furtos e contrabando, ele foi para a América para trabalhar na condição de servo na cidade de Boston – outra versão considera que a circunstância da migração foi por fuga da justiça. Ele chegou a ter uma ocupação como carpinteiro naval enquanto mantinha a atividade de ladrão, mas ser criminoso parecia ser mais vantajoso. 

Entre 1718 e 1720 estourou a Guerra da Quádrupla Aliança, conflito que envolveu uma cooperação entre Inglaterra, França, Áustria e Holanda para enfrentar a Espanha. Corsários foram contratados para atuar em favor dos dois lados em guerra e Edward Low lutou contra os espanhóis, participando de ataques navais e capturando navios inimigos. Após a derrota espanhola, ele ficou sem emprego e sem patrocínio estatal para permanecer na atividade de corsário, então, assim como vários participantes da guerra, partiu para a ilegalidade como pirata. 

Em 1721, ele se juntou à tripulação comandada por George Lowther no navio  Happy Delivery. Sua experiência de guerra e habilidade logo fizeram dele um membro destacado do grupo de piratas. 

A disciplina pirata era muito diferente da referência da marinha, marcada pela hierarquia rígida e pelos parâmetros de regras militares. Piratas costumavam escolher suas lideranças e também era considerado legítimo destituir seus capitães, então os motins eram corriqueiros e justificáveis para discutir a situação de comando. O primeiro passo para a realização desse tipo de rebelião era a realização de reuniões secretas para articular a ação e conspirar contra os comandantes, depois eram realizados votos de confronto para definir o destino do líder contestado (que poderia ser até condenado à morte) e, finalmente, um novo membro da tripulação era escolhido para a função sob a prestação de um juramento. Fracassos nos ataques, insuficiência de saques e a falhas consideradas graves na conduta do comandante eram os mais comuns motivos para a revolta. Era instável e frágil o posto de capitão pirata, sujeito aos humores da tripulação, às pressões das marinhas e das autoridades e até pelas discórdias e rivalidades entre outros comandantes da pirataria.

Low assumiu a liderança da frota justamente após um motim que derrubou o capitão anterior. Ele comprovou ser um estrategista inteligente para conduzir as abordagens integrando as embarcações sob seu comando. Os ataques ocorriam em rotas comerciais movimentadas nas Caraíbas, Açores e costa da Nova Inglaterra. Suas bandeiras hasteadas eram sinais de terror. A mais famosa era preta com uma caveira e a outra, a vermelha, era utilizada para transmitir uma sinistra mensagem: “sem misericórdia”. 

Bandeira icônica de Low

Seus métodos eram extremos. A brutalidade virou sua marca registrada, pois ele não se limitava aos roubos e recorria à violência com rigores de crueldade. Além das execuções usuais, prisioneiros eram queimados com pólvora, amarrados nos mastros dos navios que eram sabotados para afundar lentamente e capitães derrotados foram forçados a comer suas próprias orelhas decepadas. O sadismo era uma forma de impor respeito através do terror e numa ocasião mórbida Low ordenou o incêndio de um navio português com toda sua tripulação ainda dentro, ato proposital para chocar e gerar comentários sobre o quanto ele era implacável. Em outra ocasião, deixou apenas um sobrevivente após um massacre para fazer com que o homem testemunhasse sobre o que se passou para tornar público que ele era alguém a ser temido. A estratégia de propagação funcionou, pois as autoridades se mobilizaram para capturar o malfeitor, oferecendo generosas recompensas e organizando perseguições com navios de guerra. A má reputação de Low era tamanha que até outros piratas tinham medo dele, que não era uma figura bem-vinda nos portos de Nassau, onde navios piratas tinham acesso livre. 

O poder de Edward Low começou a decair por causa de uma combinação de fatores. Sua estratégia de rastrear alvos nas mesmas rotas começou a ser percebida e forçou os capitães de navios comerciais a adotarem outros itinerários para evitar os riscos. Ele era um líder imprudente que subestimava os oponentes e as condições de defesa dos navios que abordava e seus ataques deixaram de ser infalíveis. Numa ocasião ele saiu derrotado e com várias baixas em sua tripulação após uma emboscada contra um navio português carregado de prata, pois não considerou que os alvos estivessem preparados para revidar. Um fracasso desse tipo era um péssimo sinal para um pirata, pois revelava sua vulnerabilidade. 

As missões montadas para detê-lo também avançaram e as marinhas britânica, francesa e espanhola se empenharam nisso. Em uma ocasião decisiva, o poderoso navio de guerra britânico HMS Rose quase arruinou o navio conduzido por Low, após destruir outras embarcações de sua pequena esquadra. O capitão pirata, no entanto, conseguiu escapar por pouco graças a uma súbita mudança de tempo que trouxe uma tempestade. Tendo inimigos em todo lugar, ele não podia contar com outros aliados piratas e ficou isolado depois do ataque 

A má fase repercutiu na redução significativa dos saques, situação que normalmente provocava descontentamento entre os marujos. Enquanto isso, sua abordagem baseada na tortura e execução chegou ao limite porque ele insistia em impor o terror até mesmo sobre seus comandados. Odiado até por seus homens, ele matou um de seus imediatos porque foi contrariado e isso gerou revolta. Fartos da liderança tirânica e dos consecutivos fracassos, a tripulação recorreu ao habitual direito de motim e seu comando foi destituído. Os amotinados resolveram condenar Low ao castigo da deriva em alto mar, abandonando o ex-capitão sem água nem comida em um pequeno e frágil bote. Não se sabe exatamente o que aconteceu depois disso, pois há uma versão comum que indica que ele morreu naufragado ou de fome e sede, porém certos boatos afirmavam que ele acabou sendo resgatado, reconhecido e depois enforcado. Nenhum registro sobre sua vida persistiu além de 1724.

Edward Low passou cerca de apenas 2 anos na posição de comandante, tempo curto mas comum na carreira de um líder pirata. Seu nome, ao contrário, firmou-se de maneira duradoura na história da pirataria como um dos mais brutais e desafiadores bandidos dos mares.  


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