Macrino: Do poder à ruína

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

A tumultuada disputa pelo poder envolvendo os co-imperadores irmãos Caracala e Geta teve um desfecho sangrento. O primeiro ato da tragédia foi o assassinato de Geta por ordem de Caracala, no final de 211 d.C., mas ele teve o mesmo destino em 217, quando também foi vítima de um homicídio que culminou outro ato drástico nesta trama política. Por trás da morte de Caracala estava Macrino, que agia nos bastidores do poder desde o governo de Septímio Severo.

Marcus Opellius Macrinus nasceu por volta de 165 d.C. na província da Mauritânia Cesariense, na atual Argélia. Ele tinha origem berbere, procedente de povos nativos do norte da África, e fazia parte da classe equestre (equester), composta principalmente por indivíduos que compunham a elite provincial e que eram valorizados pela riqueza, méritos ou pelo favorecimento por parte do alto escalão social nobiliárquico patrício. Macrino teve sua ascensão favorecida pela promoção realizada por Septímio Severo, que valorizava lideranças surgidas além da aristocracia tradicional. Sua carreira estatal começou através da atuação jurídica, que abriu caminho para cargos de destaque na burocracia imperial. Durante o governo de Caracala ele assumiu a função de prefeito do Pretório, um dos mais elevados postos do império, que comandava a poderosa Guarda Pretoriana e cuidava de atividades logísticas relevantes. 

Sua posição proporcionava uma influência significativa e Macrino soube tirar proveito disso. Já circulavam rumores de que ele era um virtual sucessor para o comando do Império, o que atraia uma atenção perigosa por parte de seus inimigos ou por quem desconfiava de sua potencial capacidade de conspirar pelo poder, possibilidade que acabou sendo confirmada quando ele habilmente manobrou em seu favor e contra Caracala, pressionado pela insatisfação popular e pelo descontentamento da aristocracia. O assassinato do imperador por um soldado em abril de 217 viabilizou a oportunidade para que Macrino assumisse o posto de soberano apoiado pelos militares, que realizaram sua proclamação sem a consulta do Senado.

Macrino manteve a estrutura administrativa estabelecida pela dinastia severiana, inclusive o apoio do exército como principal base de apoio político. Ele chegou a acrescentar Severus ao seu nome e utilizou os elementos iconográficos da família imperial para forçar uma ligação dinástica, além de favorecer sua legitimidade e simpatia das tropas. Sua principal ação como imperador foi encontrar uma solução para a dispendiosa e imprevisível campanha militar contra a Pártia que foi iniciada por Caracala. Um tratado de paz assinado, apesar dos custos assumidos pelos romanos com as indenizações que exigidas pelo lado oponente. Outros acordos fronteiriços foram realizados nas fronteiras orientais para evitar conflitos imediatos, destacando a ênfase diplomática para lidar com os enfrentamentos que estavam em andamento. Com um orçamento comprometido por causa dos gastos militares e os acordos de paz, o imperador procurou cortar custos que afetaram o exército e outras áreas. As insatisfações logo se manifestaram e afetaram drasticamente sua sustentação no poder.

Assim como sua ascensão foi conspiratória, sua queda também foi resultado de uma conspiração. Macrino tinha opositores poderosos na família dos Severos e a mais ativa foi Júlia Mesa, tia materna de Caracala e Geta. A influente matrona elaborou um plano para destituir o rival e apresentou aos romanos o jovem Elagabalus ou Heliogábalo (Varius Avitus Bassianus) como herdeiro do trono, anunciando que ele era filho de Caracala. O questionamento à frágil legitimidade de Macrino conseguiu um apoio significativo entre as tropas e as legiões apoiadoras da reivindicação de Elagabalus se organizaram para a tomada de poder, iniciando uma revolta contra o imperador acusado de oportunismo. As forças leais a Macrino acabaram definitivamente derrotadas na Batalha de Antioquia e o líder derrotado ainda tentou fugir disfarçado quando acabou detido por soldados na Calcedônia (região da atual Turquia). Após pouco mais de um ano no poder, em junho de 218, Macrino e seu filho Diadumeniano, que havia sido nomeado seu co-imperador, foram executados. O Senado decretou a remoção de seus nomes dos registros oficiais através da adoção do ato de damnatio memoriae

Elagabalus assumiu plenamente o poder, mas esta vitória não proporcionou estabilidade para o império, pois ele realizou um governo conturbado que aprofundou a situação de crise do Império Romano.


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