Produzir conhecimento científico durante o século XVI na Europa era algo desafiador, sobretudo para os astrônomos. Apesar do Renascimento, que precipitou uma verdadeira revolução científica, sérias limitações e imposições religiosas afetavam a liberdade intelectual e desenvolvimento de teorias renovadoras. Prevalecia o antigo entendimento aristotélico do geocentrismo, que previa que a Terra era o centro do Universo. O modelo foi adotado pela Igreja Católica, que dominava as instituições educativas e difundia interpretações religiosas para explicar os fenômenos da natureza. O surgimento da teoria heliocêntrica, concebida por Nicolau Copérnico, desafiou a velha tradição ao afirmar que o Sol ocupava um papel central no entendimento sobre o Universo e esta nova visão foi logo rechaçada pela Igreja, que passou a perseguir através da Inquisição aqueles que insistissem em contrariar sua perspectiva. Além de todas estas questões, a pesquisa astronômica era afetada por deficiências tecnológicas que limitavam as experimentações e observações, pela falta de recursos além do patrocínio de pessoas ricas e pela falta de apoio das instituições universitárias, dominadas pela influência religiosa.
Foi neste cenário complicado que despontou o napolitano Giordano Bruno. Nascido Filippo Bruno em 1548, ele logo revelou uma notável aptidão intelectual e aos 17 anos de idade ingressou no Convento de São Domingos Maior, prestigiado centro de estudos na cidade de Nápoles. Na ordem religiosa ele adotou o nome Giordano em homenagem ao clérigo Giordano Crispo, um de seus mentores, e seguiu seus estudos clássicos que incluíram matemática e astronomia, conhecimentos que despertaram seu maior interesse. Estudioso inquieto, passou a questionar princípios do pensamento aristotélico, incluindo o geocentrismo, além de buscar outras influências intelectuais humanistas, levando-o a se envolver em controvérsias com as autoridades religiosas.
Em 1576 ele foi acusado de envolvimento com ideias heréticas e foi embora de Nápoles para evitar perseguições. Suas andanças pela Europa aprimoraram suas ideias e experiências. Ele lecionou em Paris, depois em Londres e em Oxford e iniciou a publicar suas ousadas teses cosmológicas. Acabou expulso da Inglaterra e foi para Praga e posteriormente passou por várias localidades na Alemanha, chegando a trabalhar em instituições protestantes que ofereceram oportunidades para que ele exercesse seu trabalho como professor e teórico.
Giordano Bruno seguiu a influência de Copérnico, desafiando a autoridade da Igreja Católica, e desenvolveu a noção de que o Universo era infinito e sem centro definido, repleto de corpos celestes variados, compostos por estrelas que eram diferentes sóis rodeados por incontáveis planetas. Era um posicionamento polêmico, pois renegava o entendimento de que o cosmos foi criado por Deus para a humanidade, além de invalidar interpretações bíblicas literais que eram exploradas para afirmar posicionamentos religiosos predominantes.
A complexidade cósmica imaginada por Giordano Bruno considerava uma visão religiosa panteísta, interpretação que reconhecia a presença de Deus em toda natureza evidenciada pela grandeza do Universo. O panteísmo diferia da transcendência divina, concepção que separava Deus de sua criação, então contradizia a doutrina cristã oficial sustentada pela Igreja Católica.
O pensamento livre, questionador e considerado herético de Giordano Bruno despertou a ira da poderosa instituição religiosa e ele acabou preso pela Inquisição em 1592. O nobre veneziano Giovanni Mocenigo o atraiu para uma aula e depois entregou o astrônomo e teólogo às autoridades eclesiásticas, que realizaram interrogatórios sobre suas crenças, obras e teses. Após a fase investigativa, ele foi enviado para Roma para enfrentar o rigoroso julgamento por heresia, que ocorreu apenas após sete anos de prisão e isolamento. Mesmo tendo sido pressionado para renegar suas ideias, Giordano Bruno sustentou sua posição argumentando que não era herege e buscou harmonizar a fé a razão através de suas proposições. Atribui-se a ele um argumento contundente durante a apresentação de sua defesa: “Talvez vocês, meus juízes, me sentenciem com mais medo de mim do que eu sinto ao receber a condenação”. Em fevereiro de 1600 ele foi declarado culpado pelo Papa Clemente VIII e em seguida foi executado na fogueira. Ele tinha 58 anos por ocasião da morte.
Mesmo condenado, muitas das percepções astronômicas especuladas por Giordano Bruno acabaram sendo confirmadas depois de vários anos e por intermédio de uma notável evolução tecnológica posterior.
Referências:


[…] O universo de Giordano Bruno […]