O final do século IV d.C. foi um período crítico para o Império Romano. O poder e a integridade dos romanos estavam sob ameaças de fatores internos e externos que refletiam sobre estado de instabilidade do governo, proporcionando problemas sucessórios e alimentando disputas pelo comando. Problemas como corrupção, dificuldades econômicas, fragilidade na integração e administração das províncias e as invasões bárbaras abalavam o império e traziam incertezas. Além disso, divergências religiosas em torno do cristianismo, que virou religião dominante entre os romanos, se misturavam aos embates políticos.
Em 375, a morte do imperador Valentiniano I deflagrou uma crise, quando seu filho Graciano assumiu o poder enquanto assegurava a posição do irmão Valentiniano II, ainda criança, como co-imperador sob sua tutela. Esta situação fragilizou a garantia da legitimidade, fato que desencadeou uma forte pressão sobre o novo líder. A desconfiança estimulou Graciano a reforçar sua segurança pessoal favorecendo a promoção de militares de origens bárbaras, sobretudo alanos procedentes das estepes da Eurásia que se integraram ao exército como força auxiliar ou mercenários que lutavam em troca de terras. Esta preferência por estrangeiros motivou ainda mais questionamentos, pois seus oponentes no exército utilizaram a decisão do imperador como motivo para desafiar abertamente sua autoridade, acusando o soberano de traição. Tropas se insurgiram entre os dissidentes nas legiões estava o general Magnus Maximus, comandante respeitado que atuou na Britânia.
Magnus Maximus nasceu na Gallaecia, região da atual Espanha, em uma família modesta. O exército era um meio para a elevação social de alguém como ele, então sua dedicação à vida de guerreiro proporcionou prestígio e reconhecimento após anos de experiência e êxitos servindo na Britânia e progredindo na hierarquia militar. Quando os soldados se insurgiram contra Graciano, em 383, identificaram Magnus Maximus como líder capaz de conduzir os rumos de Roma e então ele foi proclamado imperador em plena Britânia por seus soldados. Após este ato, ele resolveu tornar oficial esta elevação e resolveu marchar com suas tropas até encontrar e derrotar Graciano, obtendo sua vitória nas proximidades da atual Paris. Graciano acabou capturado e morto, viabilizando a vacância de poder que Maximus buscou para assegurar-se como imperador. Ele estabeleceu sua capital em Augusta Treverorum, atual Trier, na Alemanha, mantendo controle sobre a Gália, a Britânia, e a Hispânia. Valentiniano II, foi forçado a reconhecer Maximus como Augustus e corregente e até a diplomacia do imperador do Oriente, Teodósio I, também admitiu o status conquistado pelo general, mas os acertos não duraram muito por causa da disposição de Maximus de seguir ampliando seus domínios e poderes.
Maximus era um cristão fervoroso e seguidor da ortodoxia do cristianismo niceno, que pregava que o Deus Pai e Jesus eram iguais. Ele se opunha à corrente ariana, que concebia uma separação e subordinação de Jesus ao Deus Pai. Esta divergência teológica era relevante na ocasião de formação e estruturação do cristianismo, pois dividia os seguidores que disputavam o estabelecimento de visão predominante e definitiva da religião. Ele se opunha ao fato de Valentiniano II ser adepto do arianismo e de estabelecer medidas que favoreciam os seguidores deste segmento cristão e de outras vertentes que pregavam práticas que ele condenava, como os priscilianistas, que seguiam o bispo Prisciliano em seus ensinamentos de base mística que pregavam a pobreza. A atuação de Maximus foi responsável pela execução de vários líderes religiosos que não eram adeptos do Credo Niceno, incluindo Prisciliano, o que contrariou o Papa Sirício e não assegurou o apoio do também niceno Teodósio I.
Além da postura a respeito da ortodoxia religiosa, a atuação militar e concentração de poder foi outro fator que tornava difícil a conciliação. Maximus não cumpriu o acordo de manter sua autoridade sobre a Britânia, a Gália e Hispânia, preservando os territórios de Valentiniano II e, em 387, invadiu a Itália. O jovem imperador do Ocidente acabou fugindo e recorreu ao apoio de Teodósio, que resolveu interceder em seu favor apesar das divergências religiosas. Habilidoso estrategista militar, Teodósio reuniu seu poderoso exército repleto de combatentes bárbaros e derrotou Magnus Maximus na Batalha do Sava.
A derrota forçou Maximus a recuar e ele acabou sendo detido em Aquileia, onde foi executado em 388 por ordem de Teodósio, que não aceitou os pedidos de clemência que apelavam para a afiliação religiosa de ambos. Quando fez Valentiniano II fugir, Maximus declarou a posição imperial vaga e estabeleceu seu filho, Flávio Victor, como co-imperador, mas ele acabou também executado depois do pai.
Magnus Maximus foi imperador romano após uma insurreição entre 383 e 388 d.C. e após sua queda o Senado proferiu um decreto de damnatio memoriae, determinando o apagamento de seu nome dos registros oficiais. Apesar disso, ele acabou se tornando uma figura conhecida entre os galeses como Macsen Wledig, destacado em obras medievais como “O Mabinogion”, uma tradicional coletânea de narrativas repletas de heróis e figuras notáveis, e em “Historia Regum Britanniae”, de Geoffrey de Monmouth. Há quem sugira que Macsen Wledig pode ter inspirado o desenvolvimento arquetípico do Rei Arthur.
Referências:


[…] regia o império oriental, o Império Romano do Ocidente virou palco para uma trama liderada por Magnus Maximus. Em 383, o imperador Graciano foi assassinado por soldados ligados ao conspirador e o corregente […]
[…] Magnus Maximus, um usurpador que abalou o Império Romano […]