Um tirano ou um gênio estrategista? Um líder carismático ou um corrupto? Cesare Borgia é uma figura controversa e complexa e as discussões a seu respeito envolvem até especulações de que suas feições inspiraram representações da imagem de Jesus Cristo feitas por artistas renascentistas italianos. Nicolau Maquiavel conheceu Cesare Bórgia e admirava sua atuação ao ponto de tratar o jovem e ambicioso líder como um exemplo de determinação, ambição e perspicácia, servindo de modelo para a elaboração de sua consagrada obra política “O Príncipe”.
Cesare Bórgia nasceu em Roma, mas o ano de seu nascimento não é definido com exatidão, podendo ser 1475 ou 1476. Ele era filho ilegítimo de Rodrigo Borgia, o papa Alexandre VI, e de sua amante (ou esposa não oficial) Vannozza dei Cattanei. Ele foi preparado desde cedo para exercer um papel de relevância social e recebeu uma educação de elevado nível dirigida por preceptores renomados e sua formação foi continuada quando ingressou na na Universidade de Perugia aos 13 anos de idade para estudar Direito. Em 1591, aos 15 anos, sob a influência poderosa do pai, foi nomeado bispo de Pamplona e passou pouco tempo no posto porque foi logo promovido e se tornou arcebispo de Valência no ano seguinte para, em 1493 ser eleito cardeal da Igreja Católica. Apesar desta ascensão na carreira religiosa, seus interesses mundanos prevaleciam e Cesare era reconhecido por levar uma vida extravagante e cercado de amantes.
Além dos benefícios na hierarquia eclesiástica, Cesare também foi favorecido pelo recebimento de títulos e propriedades, obtendo uma imensa fortuna em seu próprio nome ainda na juventude. Após abdicar da posição no clero, em 1498, foi nomeado Duque de Valentinois pelo rei francês Luís XII, além de também ser nomeado Duque de Romagna na Itália. Ele passou a se dedicar à atividade militar, assumindo o comando do exército da Igreja Católica liderada por seu pai, usando o status e influência para favorecer os interesses da própria família, pois o papa destinou recursos da instituição religiosa para custear as iniciativas conduzidas por Cesare.
Ele empregou seu poder contra adversários políticos da família, depondo governantes locais, destituindo nobres de suas posições e assumindo o controle de áreas estratégicas, empregando o poderio militar sob suas ordens para ameaçar oponentes e expandir os territórios controlados pelo papado. Ele atuou como o braço armado do papado em várias ocasiões e reformou a estrutura militar da Igreja Católica para poder dispor de mais recursos e força, embora também recorresse às suas habilidades diplomáticas para negociar acordos e firmar alianças e favorecer os aliados.
Sua vida esteve associada a episódios obscuros e altamente questionáveis. Ele foi acusado de ter obtido o posto de comandante após providenciar o assassinato do próprio irmão, Giovanni Borgia, em 1497, que ocupava a função que ele cobiçava. O corpo de Giovanni foi encontrado no rio Tibre com a garganta cortada, vários ferimentos de faca e com uma quantidade razoável de dinheiro, descartando a hipótese de roubo. Isso alimentou suspeitas de eventuais mandantes do crime, incluindo a Família Orsini, inimiga dos Borgia, além de Gioffre, outro de seus irmãos, que teria sido movido por inveja. Como o “Mistério do Tibre” nunca foi solucionado, Cesare permaneceu sendo citado entre os potenciais responsáveis pelo homicídio. Além deste episódio, vários assassinatos políticos foram mais diretamente relacionados à sua atuação, demonstrando que ele não tinha receio de eliminar quem ousasse contrariar seus interesses ou abalar suas ambições, seja através da atuação de seus assassinos contratados ou pelo envenenamento de seus desafetos. Sua atuação como governante era implacável e para manter a situação dentro de seu controle, ela não poupava rebeldes e opositores, proporcionando a execução sumária de seus críticos.
Sua conduta moral era discutida. Apesar de casado com Charlotte d’Albret, irmã do rei João III de Navarra, eram conhecidos os seus casos amorosos com mulheres na elite italiana e um de seus mais escandalosos relacionamentos era com a cunhada Sancha de Aragão, esposa de seu irmão mais novo, Gioffre. Até sua irmã, Lucrécia, era apontada como uma de suas amantes, embora não existam indícios da veracidade dessa situação.
Ele acumulou inimigos no decorrer de sua vida, incluindo gente poderosa como a Família Orsini, com quem lidou em confrontos sangrentos, a Família Colonna, outro importante grupo da elite italiana que se opunha ao poder dos Borgia. Vários governantes locais e líderes mercenários (condottieri) também nutriam ódio por Cesare e atuaram para derrubá-lo e uma figura em particular revelou-se uma de suas mais aguerridas rivais, a senhora de Imola e Forlì, Caterina Sforza, que o desafiou abertamente.
Quando o Papa Alexandre IV morreu, em 1503, o poder de Cesare foi drasticamente afetado. Com a ascensão do Papa Júlio II, opositor da família Bórgia, a pressão contra Cesare foi intensa, pois o novo pontífice exigiu a restituição de territórios que foram tomados pela família de seu antecessor e, além disso, retirou o apoio financeiro e militar que sustentavam a autoridade do duque. Acuado, acabou preso e conseguiu escapar em 1506 e se exilou nas terras do cunhado, o rei João III de Navarra. Ele tentou sem sucesso retomar suas propriedades italianas e até se juntou à força militar de Navarra, mas morreu em combate em 1507, aos 31 anos de idade.
Referências:


[…] permitindo-lhe observar de perto os mecanismos do poder e a conduta de líderes proeminentes, como César Borgia. No entanto, com o retorno da família Medici ao poder em Florença em 1512, Maquiavel foi afastado […]
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