Ser homossexual na Inglaterra do século XVIII era muito arriscado, pois os costumes e as leis adotavam uma severidade extrema. Já no reinado de Henrique VIII foi instituído o Buggery Act, lei de 1533 que criminalizava genericamente a prática de sodomia (que se referia principalmente ao homossexualismo masculino) e podia submeter pessoas a castigos físicos, exposições humilhantes e até a morte na forca. Além das duras regras legais, organizações sociais como a Society for the Reformation of Manners, fundada no final do século XVII, pressionavam através de campanhas e ações que promoviam perseguições e reforçavam a postura repressora contra os violadores da ordem moral e religiosa.
Apesar de toda situação desfavorável, em Londres e outras cidades britânicas surgiram os “molly houses”, estabelecimentos clandestinos que funcionavam como espaços de convivência e confraternização para homens gays. Os frequentadores ficavam à vontade nestes ambientes, podendo socializar e realizar seus encontros íntimos nas dependências mais reservadas dos locais, embora riscos de batidas promovidas pelas autoridades e pela organização vigilante “da moral e bons costumes” fossem ameaças constantes. Uma dessas casas era administrada por Margaret Clap, também conhecida como Mother Clap, uma acolhedora da população gay londrina que promovia hospitalidade e liberdade para os frequentadores de seu estabelecimento. Sua molly house, que formalmente operava como uma “casa de café” e hospedaria, não funcionava como um bordel porque a atividade da prostituição não era explorada no local e ela lucrava através das vendas de bebidas e aluguéis de quartos para os encontros reservados.
A anfitriã era reconhecida por sua dedicação e proximidade com a clientela e a casa que administrava contava com cerca de 40 frequentadores regulares, que desfrutavam da descrição do ambiente para o entretenimento, envolvimentos amorosos, oportunidade para a prática de cross-dressing (ocasiões para que os homens vestissem roupas femininas) e até para a celebração de “casamentos” encenados. A senhora Clap era uma forte aliada da comunidade gay e se expunha a riscos enfrentando a lei ao prestar testemunhos falsos para proteger seus aliados diante de acusações em processos judiciais por sodomia.
Entre 1724 e 1726 as atividades de Margaret Clap estavam sob intensa vigilância. Delatores e informantes infiltrados na molly house documentavam o cotidiano, denunciavam as práticas e identificavam os frequentadores do espaço. Em fevereiro de 1726, uma operação organizada pela Society for the Reformation of Manners realizou uma batida repentina no estabelecimento, numa ação que resultou em 40 prisões imediatas de indivíduos flagrados no local. A própria Margaret foi uma das presas da investida e acabou sendo conduzida para que as autoridades tratassem de sua situação conforme os rigores da lei. Ela foi julgada com base no Buggery Act, acusada de promover atos ilícitos e libidinosos graves como a interação homossexual, abordada como uma agente da imoralidade e do pecado.
O julgamento resultou na condenação de Margaret Clap, que teve que cumprir as penas de exposição pública em um pelourinho, situação que deixava a pessoa condenada diante das reações das pessoas, que lhe dirigiam ofensas e humilhações. Durante o tempo que permaneceu exposta no pelourinho, ela sofreu diversos desmaios por causa do desgaste físico e emocional da situação. Além deste castigo, uma multa em dinheiro foi cobrada pela atuação delituosa e uma sentença de prisão de dois anos foi estabelecida. As condições das cadeias na época eram precárias e é possível que Margaret tenha morrido durante o cumprimento da pena de reclusão, pois não se soube mais dela após sua entrada na instituição prisional.
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