Anacaona, a rainha indígena que tentou proteger seu povo dos espanhóis

(Representação visual gerada pela IA Leonardo)

O Povo Taíno possuía uma relevante presença na região caribenha. Antes da chegada dos espanhóis, os Taínos formaram uma sociedade organizada em diversos domínios tribais chefiados por seus próprios caciques. Este grande povo indígena produziu uma cultura rica e diversificada, concebendo uma cosmologia original e cultuando as divindades zemis. Eram caçadores, pescadores e agricultores que cultivavam principalmente mandioca, milho e batata. A produção dos Taínos incluía a cerâmica e a elaboração de peças de ouro, recurso que imediatamente atraiu a cobiça dos invasores europeus, que chegaram nas ilhas a partir de 1492, quando a expedição de Cristóvão Colombo iniciou os primeiros contatos.

O relacionamento entre os espanhóis e os indígenas foi brevemente pacífico, mas mudou com a crescente presença dos invasores, que estabeleceram um sistema de dominação sobre Hispaniola, Porto Rico, Cuba, Jamaica e Bahamas, locais tradicionalmente ocupados pelos Taínos. A escalada de extermínio desses nativos foi vertiginosa e estima-se que a população que pode ter alcançado a marca de 1 milhão de habitantes no instante da chegada dos invasores decaiu para cerca de 60.000 no século XVI. Durante este processo conflituoso e devastador de contato, uma líder se destacou como representante do esforço de resistência nativa: A “rainha” Anacaona.

A ilha de Hispaniola (atuais Haiti e a República Dominicana) abrigava várias tribos e entre elas havia cinco cacicados taínos (espécie de “reinos” indígenas independentes uns dos outros) mais destacados, incluindo Xaraguá. Nascida por volta de 1774, Anacaona (“Flor de Ouro” na língua taína) assumiu o comando de Xaraguá após a morte de seu irmão, o cacique Bohechío e sua posição de poder era fortalecida por seu casamento com Caonabo, que comandava o também destacado cacicado de Maguana. A líder tribal que foi descrita pelos próprios espanhóis como uma mulher dotada de talentos como poetisa e narradora, conseguiu lidar diplomaticamente com os europeus, apesar de reconhecer o perigo representado pelos forasteiros vindos de terras distantes. Ela buscou manter um acordo de paz para preservar seu povo de um conflito, mas as ações dos espanhóis inviabilizavam essa tentativa de pacificar as relações.

A ambição dos colonizadores por terras, recursos e mão-de-obra afetava a integridade da sociedade indígena e aumentava a inquietação entre os nativos, então em 1503 o administrador colonial Nicolás de Ovando liderou uma expedição para Xaraguá para supostamente negociar termos de cooperação e pacificação mesmo diante de uma situação de conflito instaurada Anacaona recebeu os espanhóis de forma acolhedora, apesar de seu marido ter sido preso e enviado para morrer na Espanha antes dessa manobra dos inimigos. Ela ofereceu um banquete diante da expectativa de que um bom relacionamento entre os dois povos seria o resultado desse contato. Contrariando a boa-fé da cacica, os forasteiros tinham objetivos hostis e traíram a confiança que receberam, aprisionando Anacaona e massacrando a população de sua aldeia, num episódio conhecido como “O Massacre de Xaraguá”.

A líder diplomática foi acusada de conspiração pelos agressores, sendo julgada e posteriormente executada por enforcamento em 1504. Os espanhóis ofereceram uma possibilidade para que ela se salvasse, caso aceitasse se casar com um de seus oficiais, mas ela preferiu a morte.


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