Lucrécia Bórgia: Poder, política e paixão no Renascimento

(Representação visual gerada pela IA Midjourney)

Umas das mulheres mais marcantes e famosas do período da Renascença foi a polêmica e influente Lucrécia Bórgia, integrante da família que que esteve no centro do poder e das articulações que geraram efeitos sobre a Europa do século entre o século XV e XVI. Nascida em 1480 em Subiaco, cidade perto de Roma, ele era filha de Rodrigo Bórgia, líder religioso e político que controlou a Igreja Católica consagrado como Papa Alexandre VI, e de Vannozza dei Cattanei, que manteve uma relação estável e clandestina com o clérigo. A complexa situação familiar de Lucrécia, filha ilegítima de um integrante da alta cúpula da instituição católica, fez com que ela fosse criada por uma parente do lado paterno e até por uma amante de Rodrigo Bórgia, mas sua educação foi privilegiada pelo acesso a bons instrutores e condições para aprender vários idiomas, ser conhecedora e admiradora das artes e a desenvolver habilidades sociais que foram muito importantes para sua vida.

A jovem Lucrécia foi logo apresentada ao nebuloso mundo dos conchavos políticos, sendo negociada para casamento aos 11 anos de idade, embora a efetivação de um acordo matrimonial vantajoso e estratégico tenha ocorrido dois anos depois, quando ela se casou com o nobre Giovanni Sforza, união arranjada que marcava a aproximação entre duas famílias que detinham muito poder na Itália. O acordo entre os Bórgia e os Sforza não foi duradouro, então o casamento foi desfeito pelo pontífice através de uma manobra que forçou Giovanni Sforza a assinar um termo constrangedor que alegava que a união foi anulada porque o casamento não foi consumado por causa da incapacidade do marido. O objetivo do papa era consolidar outra aliança política mais útil para seus interesses e o casamento era considerado um meio adequado para sinalizar um compromisso tão sério, então Lucrécia foi novamente acionada como peça neste jogo de poder. Foi uma situação escandalosa e os Sforza iniciaram uma campanha difamatória que acusava a filha do papa de adúltera e praticante de incesto.

Depois da declaração de nulidade do primeiro casamento, ela voltou a se casar em 1498, dessa vez com o duque Alfonso de Aragão, filho do rei de Nápoles. A finalidade desta nova aliança era política, mas a situação mudou novamente quando Cesare Bórgia, irmão de Lucrécia e comandante das tropas a serviço da Igreja Católica sob o pontificado o pai, se aliou à França, que era inimiga do reino de Nápoles. Apesar da aparente relação amorosa entre Lucrécia e Alfonso, a união entre os dois já não era mais conveniente para os assuntos políticos da família e sua vida voltou a ser afetada pelas circunstâncias. Alfonso foi assassinado em 1500 em condições suspeitas e com o provável envolvimento de Cesare, pois isso marcou o rompimento com Nápoles e facilitou os acordos com os franceses.

Casar Lucrécia com outra figura poderosa voltou a ser uma opção em 1502, quando um novo matrimônio foi estabelecido. Dessa vez o marido escolhido foi Alfonso I d’Este, duque de Ferrara. O Ducado de Ferrara era uma região rica e importante e possuía um exército poderoso, fazendo da família uma aliada valiosa para os Bórgia. Lucrécia acabou se tornando uma pessoa muito influente em Ferrara, chegando a assumir o poder na ausência do marido, realizando ações e tomando suas próprias decisões como uma líder política. Ela colocou em prática seus talentos na articulação e exerceu funções diplomáticas, negociou assuntos em nome do ducado e manteve uma posição de prestígio mesmo após a morte do pai. O estímulo à cultura foi outra demonstração de suas qualidades públicas, pois ela promoveu as artes no ducado, atraindo intelectuais e mestres artísticos que fizeram da região um importante centro do Renascimento Italiano.

Lucrécia teve seis filhos. O mais velho deles, Rodrigo de Aragão, morreu em 1512, aos 13 anos de idade, e isso a abalou profundamente e acentuou sua vivência religiosa, cuidados com os demais filhos e apoio à instituições religiosas e beneficentes, o que levou ao seu progressivo afastamento das atividades políticas e das tramas do poder.

A posição social de Lucrécia e sua associação aos assuntos da família fizeram dela uma pessoa visada e tema de muitas especulações. Foi acusada de manter relações incestuosas com o irmão e o próprio pai, com alegações sendo amplamente divulgadas com o propósito de difamar e atingir a reputação da família. Era dito que ela chegou a ter um filho que foi fruto de seu relacionamento pecaminoso, uma criança chamada Giovanni Borgia, que era tratada nas acusações como “Infans Romanus”. Casos de adultério também eram atribuídos a ela, com suspeitas de mais filhos ilegítimos nascidos de seus casos extraconjugais. Também havia quem afirmasse que ela era adepta de envenenamentos para eliminar desafetos, acrescentando a fama de assassina ao seu currículo negativo. Os vários escândalos que envolviam seu nome podem ser resultantes das campanhas difamatórias articuladas pelos inimigos de sua família, pois as evidências de tais acusações permaneceram precárias.

Ela morreu em 1519 enquanto estava em trabalho de parto. Ela tinha 39 anos na ocasião.


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