A colônia de Hispaniola (atuais República Dominicana e Haiti) foi a primeira possessão colonial nas Américas, ponto de partida para futuras conquistas no continente, e foi o próprio Cristóvão Colombo que chamou de “La Española” o território que iniciou a explorar em 1492. Os europeus não encontraram terras desabitadas, então decidiram assumir o controle submetendo a população nativa. Eles estabeleceram o sistema de encomienda, distribuindo lotes de terras para colonizadores dispostos a explorar a região submetendo os nativos ao trabalho forçado em troca de uma alegada proteção e da promessa de “salvação” através da conversão ao cristianismo.
Durante o contexto no qual massacres e epidemias foram ocorrências devastadoras sobre o povo Taíno, nativo de Hispaniola, a colônia recebeu vários sacerdotes católicos e o frei Bartolomé de Las Casas destacou-se como uma figura que acabou assumindo uma veemente defesa dos indígenas diante das condições de exploração.
Las Casas nasceu em 1484 em Sevilha, filho de uma família franco-hispânica que vivia do comércio. Seu pai, Francisco de Las Casas, integrou o empreendimento colonial comandado por Colombo e chegou a levar um indígena para casa para trabalhar como serviçal, sendo este o primeiro contato do jovem Bartolomé com o Novo Mundo. As privilegiadas condições da família lhe oportunizaram a chance de ingressar na Universidade de Salamanca, onde estudou direito civil e canônico de 1498 até 1502. Depois de concluir sua formação, ele viajou para Hispaniola pela primeira vez para ajudar na administração das terras que foram concedidas à sua família e já se deparou com o processo de intensa exploração da mão-de-obra indígena, que era considerado uma prática legítima. Las Casas não se opunha à escravidão dos nativos nesta época, pois, além de ser beneficiado por ela, ainda via a “guerra justa”, justificativa empregada pelos espanhóis para submeter os povos nativos como uma prática aceitável. A própria rainha, Isabel de Castela, figura de reconhecida devoção cristã, defendia de maneira aberta que dominar os povos originários era um dever em favor da expansão da fé e a opressão militar contra aqueles que recusassem o novo credo deveria ser aplicada, o que implicava na escravização como uma consequência.
Enquanto seguia sua rotina como agente da colonização e testemunhava os abusos praticados contra os indígenas, a perspectiva de Las Casas foi sendo afetada contra a abordagem de submissão através da violência, principalmente após a chegada de pregadores dominicanos em Hispaniola. Ele foi influenciado pela visão humanista e piedosa dos religiosos a respeito do tratamento aplicado aos nativos marcaram e isso definiu uma significativa mudança em sua vida. Las Casas resolveu abdicar de seus privilégios coloniais para se dedicar ao sacerdócio, sendo admitido como frei e iniciando sua atividade em defesa dos indígenas, articulando seus conhecimentos jurídicos e teológicos, além da experiência e testemunho das atrocidades, principalmente após sua atuação como capelão durante o domínio de Cuba em 1512.
Em 1515 ele voltou à Espanha para denunciar as atrocidades praticadas pelos próprios espanhóis e pleitear que a Coroa se posicionasse contra a violência generalizada e indiscriminada e adotasse medidas para conter práticas moralmente condenáveis, reconhecendo os nativos como súditos. Sua atuação provocou polêmicas e debates acirrados que não afetaram a veemência de sua crítica social. Depois de negociar termos para a tentativa de revisão da postura colonial, Las Casas voltou para a região colonial para atuar diretamente na defesa dos nativos tentando implementar reformas nas práticas de dominação adotadas pelos espanhóis, resultando em confrontos com autoridades e encarregados dos processos de exploração das encomendas.
Las Casas cruzou o Atlântico diversas vezes defendendo os povos indígenas, denunciando a continuada aplicação de tratamento desumano e extermínio para o atendimento dos interesses dos colonizadores. Seu ativismo chegou a influenciar o rei Carlos I, que aceitou promulgar leis que abrandaram as práticas abusivas das encomendas em 1442, embora tais normas fossem amplamente descumpridas diante da negligente atuação do Estado nas terras coloniais sobre a aplicação dos limites que os colonos deveriam respeitar. O sacerdote chegou a tentar implantar uma colônia pacífica em 1520 na atual Venezuela, mas as pressões contra a experiência resultaram no fracasso da iniciativa. Em 1544 foi nomeado bispo de Chiapas, no México, mas seu trabalho de evangelização pacífica foi constantemente confrontado e sabotado pelos interesses dos exploradores, resultando em sua queda em 1550. Apesar dos obstáculos efetivos à implantação de suas propostas, ele permaneceu dedicado ao debate e à divulgação dos argumentos contra a intensiva exploração dos nativos americanos, defendendo no famoso Debate de Valladolid contra Juan Ginés de Sepúlveda, que os indígenas eram dotados de direitos inatos que deveriam ser respeitados. Ele escreveu vários sermões, teses e outras produções escritas como a obra “Brevíssima Relação da Destruição das Índias” (1552), que teve seu conteúdo impactante descrevendo atos de violência, torturas e massacres discutido em diversos países através das traduções que circularam pela Europa e que foram até utilizadas como propaganda internacional contra a Espanha.
Seus últimos anos foram vividos no Colégio de San Gregorio, em Madri, onde faleceu em 1566, aos 82 anos de idade.
Referências:


[…] Bartolomé de Las Casas e a defesa dos indígenas contra a exploração colonial – HistóriaBlog ou […]